E de repente, as conversas lá em casa transformaram-se em monólogos. A vida de Carolina deixou de ser um livro aberto. A menina obediente agora é rebelde. Sinal, indelével, da adolescência. Longe vão os tempos em que partilhava com entusiasmo todos os pormenores das horas frenéticas fora de casa. Agora, fecha-se. Não conta. Raramente pede conselhos e dá satisfações, desafiando a autoridade dos pais. O filme do dia da Carolina já não está à descoberta à hora do jantar. Tranca-o a cadeado, como se fosse interditado aos mais velhos e só ela o pudesse ver.

Respire fundo. Na adolescência há um afastamento natural, para que os adolescentes possam testar a sua autonomia. É necessário e, diríamos mesmo, até saudável que suceda. Claro que é uma fase complicada - a adolescência revoluciona tudo - sobretudo para os pais: as relações ficam mais difíceis, crescem as preocupações e os momentos de angústia, mas fará sentido não respeitar esse espaço reivindicado pelo adolescente? A resposta é não!

Mais do que nunca, exige-se bom senso. A primeira coisa que os pais precisam entender é que os filhos cresceram! E quando chegam à adolescência querem conquistar a tão desejada independência. Erra quem confunde esse desejo de maior liberdade com um sentimento de menor amor pela família. Vivemos numa época em que há cada vez mais intolerância perante os silêncios individuais, mas esses silêncios, são fundamentais para o desenvolvimento da intimidade. Há que os saber decifrar.

Quais os sinais de alarme? Por exemplo, quando o silêncio é acompanhado de agressividade, ou quando a má relação com os pais e professores tem outra causa que não a fase da adolescência e surge associada a quebras no rendimento escolar. Esteja atento! A simples presença junto do adolescente já é uma boa forma de comunicação.

Nesta fase de transformação é normal que a Carolina valorize mais a opinião dos amigos do que a dos pais. Não se irrite! Há que saber soltar um pouco as rédeas da liberdade, em função de cada idade. Não imponha regras arbitrárias que, no limite, podem ser prejudiciais ao normal desenvolvimento da adolescente. Não seja agressivo, estabeleça limites, claro, mas deixe-a viver novas experiências, para que aprenda a distinguir o bem do mal e conquiste, aos poucos, a autonomia que ambiciona. Estará a contribuir para um adulto mais feliz.

É essencial que saiba administrar com ponderação esta fase repleta de novas vivências. Castigar o silêncio do adolescente seria sempre um erro. Por exemplo, ameaçar cortar a mesada pode ser entendido como chantagem e a retaliação não educa. Explique as razões que o levam a proibir determinados comportamentos e apresente soluções. É importante que o adolescente perceba os riscos que incorre e que não tenha, apenas, receio da punição. Seja afetuoso. Não exija mais do que pode receber. Mostre a firmeza da sua autoridade, mas nunca se esqueça do carinho e dos momentos de diversão. Pais e filhos não são amigos! Entre amigos existe uma relação de igual para igual, entre pais e filhos tem de haver sempre uma hierarquia a respeitar.

Carolina não o admitirá, mas continua a precisar de apoio em casa e na escola. Preocupados, os pais procuram que a filha preste sempre contas por iniciativa própria, ou seja, de uma forma natural, sem que se veja obrigada. Se os adolescentes são tratados com respeito, costumam retribuir de igual forma. Experimente recorrer ao humor para quebrar barreiras e abrir a porta do diálogo. Dê espaço ao adolescente para que exponha as suas ideias e, assim, ultrapasse o medo de ser julgado e mal entendido.

Transmita-lhe confiança! Se o adolescente sentir que a família não acredita em si tenderá a replicar os maus comportamentos, aumentando as dificuldades de relacionamento em casa. Atue com ponderação e faça-o ver as consequências. Uma reação desproporcionada será um convite para que o adolescente minta e encubra, ainda mais, a sua vida lá fora com colegas e amigos.

É sempre importante que conheça e respeite as amizades do seu filho. Tenha atenção: a tentativa de afastamento de eventuais más companhias pode levar a que estas se desenvolvam.  E, em simultâneo, estará a estimular o adolescente a passar mais tempo fora de casa, longe dos olhares da família que o condena.

Nesta fase, os filhos costumam ter vergonha de juntar os pais aos amigos. Sentem-se mais vulneráveis, na medida em que não querem correr o risco de ver exposta a sua intimidade junto dos seus pares. Tenha paciência, é uma fase!

Resumindo, há importantes estratégias que pode experimentar para comunicar de forma saudável com um adolescente, que o digam os pais de Carolina. Com algumas atitudes simples conseguiram bons resultados, nomeadamente:

Respeitando o espaço do adolescente

Dialogue, evitando criticas e ofensas. A agressividade pode conduzir a um bloqueio na relação. Saber iniciar uma conversa é essencial.

Usando a criatividade

É uma boa estratégia para contornar o silêncio do adolescente e entrar no seu mundo. Partilhe histórias de uma forma criativa, use a imaginação para ultrapassar barreiras e promover o diálogo. A criatividade é sempre uma boa ferramenta para se aproximar do adolescente e iniciar uma conversa.

Recorrendo ao humor e às brincadeiras

A boa disposição permite, muitas vezes, quebrar o gelo, isto é, pôr fim ao silêncio e estabelecer novas pontes de diálogo. Através do humor e de algumas brincadeiras o adolescente pode baixar a guarda, permitindo que a comunicação volte a fluir.

Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM