“Rumores feios, segredinhos e comentários embaraçosos começam a espalhar-se como fogo, na escola, entre crianças de 8 e 9 anos de idade. Elas usam essas ferramentas para testarem o poder e a influência que têm sobre os outros”, explica Karin S. Frey, professora de psicologia educacional na Universidade de Washington, em Seattle. “Também o fazem como tentativa de obter maior popularidade”, esclarece a mesma responsável, lembrando que os pais podem – e devem - ajudar os filhos a lidar com este fenómeno.
Separe o comentário inofensivo do mexerico
Os autores de um estudo da Duke University, na Carolina do Norte, EUA, pediram a 60 raparigas entre os 9 e os 10 anos que brincassem livremente durante cerca de 15 minutos. Percebeu-se que durante esse tempo, e em média, elas falaram de 24 pessoas diferentes. “A maioria das conversas baseou-se em comentários inofensivos ou até elogiosos”, mas alguns foram negativos e potencialmente humilhantes. “Os pais devem explicar às crianças que esse tipo de conversa pode magoar alguém e até ser encarado como provocação, sobretudo porque ocorre nas costas da criança a quem se refere”, explicou a investigadora Kristina McDonald à Parents.com, deixando um conselho: “Pergunte à sua criança como se sentiria se estivesse no lugar da outra pessoa”.
Proteja a privacidade
A criança até pode pensar que, se o que diz é verdade (e não uma simples opinião ou boato), não está a fazer mexericos, observa Eileen Kennedy-Moore, psicóloga em Princeton e autora do livro The Unwritten Rules of Friendship (As regras não escritas da amizade). “Mas se é impossível fazer com que a sua filha ou filho não faça comentários sobre os outros quando estes não estão presentes, pelo menos deve ensiná-los a terem limites e temas proibidos. Reveja as questões que podem ser sensíveis (como o divórcio dos pais ou outras situações familiares), causadoras de vergonha (como uma má nota ou um castigo) ou passíveis de serem mal interpretadas (dizer que se viu um aluno no gabinete do diretor pode levar os outros a acreditarem que ele está com problemas) para que a criança evite abordá-los.”
Fomente amizades saudáveis
Esqueça: você não vai conseguir evitar que a sua filha ou filho comentem a vida alheia. Até porque isso faz cair a sua popularidade. O estudo de Kristina McDonald mostra que, entre os 8 e os 9 anos, as crianças que alimentam mais mexericos são as mais apreciadas pelos colegas. O que fazer, então? Enumere algumas das consequências negativas do mexerico. “Diga à criança: ‘se estiveres sempre a falar da vida dos outros, é provável que eles também comentem a tua vida”, aconselha Karin S. Frey. “Deixe que a criança saiba que há outras formas de cimentar amizades, e que fazer coisas simpáticas com os amigos é mais divertido do que dizer mal dos outros. Até pode dar ideias como: a criação de um projeto de solidariedade ou a formação de um clube”, diz McDonald, rematando: “Ajudar a criança e os seus amigos a encontrarem coisas divertidas para fazer pode ser uma maneira natural de desencorajar o mexerico”.
Pare o boato
Embora algumas crianças sejam incapazes de lançar o rumor, a maioria tem dificuldades em resistir a ouvi-lo e repeti-lo”, sublinha Kennedy-Moore. “Explique ao seu filho que os factos vão ficando confusos à medida que a história se vai espalhando e que é tão mau repetir boatos como criá-los”. Ao invés disso, ensine à criança o que responder quando lhe vierem contar esse tipo de ‘histórias. “Sugira que o seu filho diga coisas como: ‘Bem, ele só diz coisas boas sobre ti’ ou ‘não tenho nada a ver com isso’”.
Aproveite ainda para o avisar das situações em que deve alertar o professor acerca do que viu ou ouviu. “Diga-lhe que não se brinca com essas coisas e que alguém pode magoar-se”, diz Kennedy-Moore, explicando que se a criança se sentir envergonhada para falar com o professor, o pai pode enviar uma nota para que ele saiba o que se passa.
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