Os adolescentes que são humilhados e perseguidos por causa do peso correm mais riscos de vir a sofrer de obesidade na idade adulta. Além disso, é natural que construam uma imagem física de si próprios desagradável e difícil de apagar. A conclusão é de um estudo publicado recentemente pela revista Preventive Medicine e citado pela USNews.
Quanto mais os adolescentes são humilhados por causa do peso mais as probabilidades de os problemas dele decorrentes – como a diabetes ou doenças cardíacas – virem a manifestar-se e com efeitos duradouros, sugere a mesma pesquisa. Miúdos alvo de bullying devido ao peso também são mais propensos a recorrer à comida como forma de lidar com problemas emocionais, sugere um outro estudo que evolveu mais de 1.800 participantes num período de 15 anos.
“O bullying baseado no peso tem consequências negativas para a saúde. Os adolescentes que são alvo desta crueldade podem adotar comportamentos de risco como a compulsão alimentar”, alerta Rebecca Puhl, principal autora do estudo e especialista em obesidade da Universidade do Connecticut.
Nos EUA, o número de adolescentes vítimas de bullying devido ao peso situa-se hoje na casa dos milhões: perto de 20 por cento das crianças e adolescentes entre os 6 e os 19 anos são obesos.
Uma investigação de 2012 descobriu que 64 por cento dos jovens inscritos em programas de perda de peso tinha sido alvo de perseguição e insultos, sobretudo dos colegas, mas também dos pais, professores e treinadores. “O bullying pode ser exercido de várias formas”, diz Rebecca Puhl. “Os adolescentes são ridicularizados por causa do peso dentro e fora da escola; são provocados on-line em plataformas como o Facebook e o Twitter; e são excluídos de atividades como festas e outros eventos sociais. Alguns também são alvo de chacota por parte dos pais e irmãos, acrescenta, referindo que “pais intimidadores dão cabo da autoestima das crianças e provocam-lhes danos incalculáveis”.
Qualquer familiar, professor, treinador ou amigo de um adolescente que esteja a ser vítima de bullying por causa do peso deve tentar ajudar. Eis algumas estratégias de especialistas ouvidos pela US News para lidar com adolescentes que estejam a sofrer deste problema.
- Explique-lhe, as vezes que forem necessárias, que ele não tem culpa da perseguição que lhe fazem. “Muitos adolescentes interiorizam o estigma do peso e culpam-se por não ser magros, passando a achar-se merecedores de humilhações”, explica Rebecca Puhl. “É necessário que os pais (e outros) convençam os adolescentes de que a responsabilidade é de quem os está a provocar.”
- Não diga ao adolescente para perder peso de forma a evitar esse tipo de violência e assédio. “Adotar essa atitude implica concordar que o adolescente é responsável pelo bullying e poderia livrar-se disso se adotasse hábitos alimentares e praticasse mais exercício”, explica Rebecca Puhl. “Lembre-se de que o comportamento é apenas um de vários de fatores que influenciam o peso”. Esses fatores incluem genética, hábitos familiares e tradições alimentares, acesso a alimentos saudáveis e rotina de exercício físico. “É bom encorajar os adolescentes com problemas de peso (e mesmo todos os adolescentes) a adotar hábitos saudáveis, mas isso nada tem a ver com o fenómeno do bullying e deve ser tratado à parte”, aconselha Puhl.
- Esteja atento à linguagem. “Os pais e outros adultos usam alcunhas que consideram carinhosas, mas que podem ser altamente constrangedoras para o adolescente”, explica Tyree R. Winters, professor de pediatria na Rowan University School of Osteopathic Medicine, em New Jersey. “Tenho muitos pacientes latinos cujo nome favorito para chamar a filhos e irmãos é 'Gordo' ou 'Gordito'. Não chamamos a nenhum miúdo 'Asma’ ou ‘Diabetes’”. O especialista aconselha a acabar com esses nomes e pede aos adultos que se coloquem no lugar dos filhos.
- Incentive o adolescente a cultivar o seu talento. “Isso pode fazer aumentar a sua autoestima e confiança”, diz Mayra Mendez, psicoterapeuta e coordenador de programas de deficiência intelectual. “Queremos ajudar a consolidar a estima, independentemente do peso”, explica, deixando um conselho: “Ajude-os a encontrar opções. Descobrir um talento é meio caminho andado para o sucesso, facto que aumentará a confiança e poderá servir de escudo contra insultos”.
- Encoraje-o a fazer duas listas. Numa delas deve escrever as qualidades que tornam uma pessoa simpática e, na outra, os traços próprios de alguém desagradável. As variáveis “excesso de peso” e “ser magro” não devem figurar em nenhuma das listas, recomenda Oksana Hagerty, psicólogo educacional em Beacon College, Florida. “Este exercício ajuda a perceber que a simpatia depende de muito mais qualidades do que ser esbelto”, defende.
- Convença-o a procurar apoio. “Qualquer jovem que esteja a ser intimidado por causa do peso deve procurar o apoio de um adulto de confiança, como o pai, um professor, um treinador ou um educador”, sustenta Lisa Rosen, professora de psicologia na Texas Woman’s University. “Os adultos podem e devem defender os adolescentes e ajudá-los a resolverem este tipo de problema”.
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