Olho para os meus filhos, o tempo congela e eu sinto-me como que a observar tudo de fora, sendo sempre invadida pelo mesmo pensamento: como é que eu tenho conseguido gerir e educar estas crianças?
Recordo-me perfeitamente de, no preciso momento em que me puseram no colo a minha filha mais velha, ter sido arrasada por um sentimento ambíguo: por um lado, um amor gigante e inexplicável por aquele corpo tão pequeno e indefeso; por outro, a incerteza de ser capaz de tomar conta de um filho, já que, aos 26 anos, eu mal me sentia habilitada para gerir a minha própria vida.
A verdade é que nós somos capazes de quase tudo, mas vivemos nesta incerteza constante acerca das nossas capacidades. Eu, pelo menos, vivo assim. Numa gestão por impulso, por intuição, mas acompanhada de um questionamento permanente: será que estou a fazer as coisas como deve de ser? Será que lhes estou a passar princípios válidos? Será que devia ser (ainda) mais presente? Será que, um dia, eles vão valorizar quem eu fui enquanto mãe?
Perguntam-me muitas vezes como é que eu consigo gerir “sozinha” quatro crianças. E por mais variadas que sejam as respostas que eu dou, a verdade é esta: não faço a mínima ideia. Não tenho uma estratégia, não tenho um método, não tenho sequer uma previsão. As coisas vão acontecendo. E, nisto, já se passaram praticamente 14 anos deste “não sei como é que tenho sido capaz”.
Acredito, mesmo assim, que este seja um pensamento recorrente à maioria das mães. Olhamos para os filhos, percebemo-los crescidos e ‘quase adultos’ e constatamos a veracidade do ditado popular que jura que o tempo passa demasiado depressa. Ainda ontem eu andava a queixar-me dos bolsados, das fraldas mal cheirosas e das noites mal dormidas, para hoje choramingar as respostas da “adolescentite”, o acne que insiste em encher-lhes o rosto e os amigos que parecem passar a vida em nossa casa.
Nisto, passaram-se praticamente 14 anos e eu juro (repito!) que não sei como é que dei conta do recado. Como é que nunca me esqueci de os alimentar, quando sempre fui perita em pular as minhas refeições; como nunca os deixei cair do colo, quando eu sou a primeira a escorregar no primeiro degrau; como nunca os “perdi”, quando passei metade da minha infância a perder-me dos meus pais em tudo o que eram espaços públicos.
Não sei se, daqui a 14 anos, terei esta mesma sensação. Não sei se, quando a mais velha estiver então quase na casa dos 30, eu conseguirei manter esta forma de maternidade espontânea que, pelo menos por enquanto, não me aflige. E também não sei se, nessa altura, eu continuarei a achar que, de vez em quando, parece tudo demasiado pesado para se levar “sozinha”. Porque, no fundo, há dias em que ainda me vejo (e sinto) como a miúda de 25 anos que, tirando o trabalho, não tinha quaisquer responsabilidades a pesar nos ombros.
Assim, da próxima vez que me perguntarem como é que eu sou capaz, vou responder a verdade. Que não faço a mínima ideia. E que tenho muto orgulho nisso!
Alda Benamor
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