Então, como contar a verdade?
Deve contar sempre o necessário, em consonância com o que ele já sabe. Comece por perguntar ao seu filho o que sabe sobre o Pai Natal. Depois, conte-lhe aos poucos a verdade. Não é adequado contar tudo de uma vez. Pode contar-lhe aos poucos que, embora não exista o Pai Natal, existe a missão de ajudar as outras pessoas, de não sermos egoístas, do auxílio ao próximo, da solidariedade.
Deste modo, o Pai Natal não vai deixar de existir totalmente. O senhor das barbas brancas irá dar lugar ao espírito de Natal. Há que transformar a história fantasiosa desta figura numa série de boas ações a serem desenvolvidas diante do espírito de Natal. Estará a ajudar o seu filho a transitar da imagem fantasiosa do Pai Natal, para a mensagem que está incutida nessa figura, os princípios do altruísmo, da generosidade e bondade, que é o que realmente importa.
O diálogo que pode ter com o seu filho
Para que possa contar (sem traumas) ao seu filho que o Pai Natal não existe, pode ter com ele um diálogo semelhante a este.
“Vejo que estás mais alto. Cresceste muito este ano. E sei que o teu coração também cresceu.”
(Indique dois ou três exemplos de boa relação com os pais, irmãos e amigos, bom comportamento na escola e em casa, sentimentos de solidariedade com os outros, etc.).
“Cresceste tanto que estás preparado para saber a verdade sobre o Pai Natal.”
E pode continuar referindo que o Pai Natal não existe como uma figura real, mas existe o “espírito de Natal”, e que ele já está preparado para esse “espírito de Natal”. Por isso, irá fazer o seu primeiro trabalho nesse Natal. Por exemplo, pode escolher uma criança que conheça – primo, colega ou vizinho – e a missão é descobrir secretamente algo que ela precise. Em seguida, o seu filho irá ajudá-la a ser o “Pai Natal” entregando-lhe uma prenda. É uma missão altruísta que certamente nunca irá esquecer.
Prepare ainda o seu filho para a situação que irá ter com outras crianças que continuam a dizer que o Pai Natal existe.
“Alguns dos teus amiguinhos ainda continuam a acreditar que o Pai Natal existe. Eles ainda não estão preparados para saber a verdade, mas tu estás!”.
A minha experiência pessoal
Eu tive um diálogo semelhante com o meu filho mais velho quando ele tinha quase cinco anos. Claro que no início ficou um pouco desapontado, dizendo que lhe tínhamos mentido. Eu disse-lhe que não era bem uma mentira, era uma espécie de mistério, o espírito de Natal. E expliquei-lhe que iria fazer o seu primeiro trabalho nesse Natal. E continuei ao dizer que esta era uma forma de ele deixar a infância para trás, pois ele já estava muito crescido!
Ele ficou muito pensativo. Na verdade, até ficou muito contente e curioso com o seu primeiro trabalho de Natal. E muito orgulhoso por estar a despedir-se da infância. No dia seguinte, veio contar-me que o seu melhor amigo ainda acreditava no Pai Natal: “Ele ainda acredita, mas eu não disse nada. Vou deixar que ele descubra. Não quero estragar a sua despedida da infância.” Compreendeu bem a minha explicação.
Em suma, se o seu filho não quer continuar a acreditar no Pai Natal, é seu dever esclarecer todas as suas dúvidas. Não tenha receio, até porque o senhor das barbas brancas não vai deixar de existir totalmente. Transforme a história fantasiosa desta figura numa série de boas ações, em que o seu filho será o “Pai Natal”. Não só conseguirá contar ao seu filho, sem traumas, que o Pai Natal não existe, como estará a prepará-lo para o espírito altruísta e de solidariedade, que é o que realmente importa, não é?
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
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