A educação tem preenchido o espaço mediático diariamente, devido à contestação de professores e pessoal não docente, sobre o desenvolvimento futuro das políticas públicas em matéria de educação. Fala-se muito de progressão na carreira, de atualização de salários, de formação, de condições de trabalho e do papel social do professor. Estamos todos de acordo que estas são questões essenciais para o futuro do país, sobre as quais importa discutir de modo ponderado e refletido.
No campo da educação, não menos importante é o papel dos educadores de infância, no desenvolvimento de competências cognitivas, lúdicas e sociais das crianças. Pouco valorizados socialmente, este grupo profissional (a que junto os auxiliares de ação educativa, pois trabalham em equipa) é um dos primeiros contactos que os nossos filhos têm fora do seio familiar ou da família mais alargada. É um grupo socioprofissional do qual pouco se fala, mas cujo papel para o desenvolvimento harmonioso dos nossos filhos é central.
É fundamental termos presente que esta é uma fase crucial da vida das crianças, e que a sua interação com aqueles que a rodeiam assume uma centralidade na promoção da sua relação com esta. Ou, pelo contrário, pode ser um fator de obstrução.
Assim, uma boa relação da criança com a comunidade escolar, ou seja, educadores, auxiliares, crianças, família e outros elementos que a constituem, favorece o seu desenvolvimento harmonioso e completo. Neste sentido, uma relação positiva e de proximidade, entre a família e os educadores, cria as condições ideais para o seguimento de caminhos educativos mais enriquecedores e satisfatórios, mas também promotores de melhores aprendizagens. Esta relação positiva é construída através da participação da família nas atividades da criança e da comunidade escolar, fortalecendo sentimentos pertença e de segurança. De facto, este envolvimento e partilha construídos, quotidianamente, entre a família, os educadores e a criança, gera laços de pertença, em que a preocupação da família deixa de estar centrada apenas na sua criança, mas na totalidade das crianças dessa comunidade. É uma transformação que ocorre, potenciadora de processos de mudança escolar, com reais impactos nas famílias, nas crianças e na envolvente mais alargada. A realização deste tipo de lógicas colaborativas e verdadeiramente participativas, entre os diferentes atores da comunidade escolar, não só tem impactos positivos a este nível, como no que decorre no exterior da escola, pois também desenvolve competências afetivas e sociais no meio familiar.
Como tal, a formação de educadores de infância necessita ser sustentada, numa sólida formação teórica e numa formação em contexto de trabalho muito rigorosa. Isto, para que o educador seja um verdadeiro conhecedor das necessidades das crianças, por um lado, e que seja capaz de adaptar-se a diferentes contextos escolares, por outro. Só deste modo, teremos uma formação capaz de produzir educadores portadores de competências e conhecimentos profissionais de elevado nível, potenciadores do estabelecimento de relações com as crianças, famílias e restantes elementos da comunidade escolar, geradores de um modelo educativo em que todos ganham e se enriquecem.
Neste sentido, o educador de infância assume um papel decisivo na formação pessoal, social e escolar das crianças, considerando que é o seu conhecimento, aliado a uma forte capacidade de adaptar-se, interagindo com as diferentes famílias, que permitirá o desenvolvimento de relações saudáveis, participadas por todos e envolventes, capazes de produzir verdadeiras comunidades educativas que aprendem em conjunto, nesse processo partilhado entre todos. O educador de infância, mais que um dinamizador de aprendizagens de diferentes tipos, é um catalisador de laços sociais, tendo a capacidade de transformar o jardim de infância numa verdadeira comunidade.
Destarte, não será demais afirmar que o impacto do trabalho dos educadores de infância com as crianças, estende-se muito para além das aprendizagens essenciais formais. Falta agora que a sociedade devolva aos educadores de infância, em valorização social e profissional, o significativo trabalho que estes desenvolvem com as crianças, famílias e comunidades. Há um caminho que ainda está por fazer, mas que está já a ser trilhado.
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