“Os dados permitem concluir que não há uma melhoria significativa da situação financeira das famílias portuguesas”, porque os pedidos de ajuda são muito semelhantes aos verificados nos períodos homólogos de 2014 e 2015, disse à agência Lusa a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado (GAS), Natália Nunes.

Outra situação que a Deco verificou este ano, e que já tinha acontecido em 2014 e 2015, foi que “a situação financeira destas famílias é muito débil e não lhes permite ainda proceder” à sua restruturação de forma a equilibrá-la.

“Daí o facto de termos 17.300 pedidos de ajuda e apenas estarmos a acompanhar 1.235 famílias”, adiantou Natália Nunes à Lusa, explicando que apenas estas famílias tinham “alguma capacidade financeira” para tentar reestruturar a sua situação.

Infelizmente, as restantes famílias, “se ainda não foram, irão ser confrontadas com ações de execução em tribunal, de execução das suas dívidas” ou irão avançar para tribunal a pedir a sua declaração de insolvência", disse, rematando: "Não é por acaso que continuamos a ver o aumento de situações de insolvência de particulares e de famílias nos últimos tempos".

Desemprego, deterioração das condições laborais e penhora dos rendimentos

Segundo Natália Nunes, o desemprego (29%), a deterioração das condições laborais (22%) e a penhora dos rendimentos (14%) são as principais causas de sobre-endividamento das famílias que pediram ajuda, problemas que se agravaram durante a crise.

As penhoras decorrentes das dívidas relativamente a créditos e serviços já têm “um peso significativo” nos pedidos de ajuda, das quais 10% dizem respeito a execuções de crédito e 4% a execuções fiscais, sublinhou.

Segundo os dados do GAS, 53% dos processos iniciados este ano já apresentavam créditos em incumprimento, sendo que, em 2015, as famílias tinham em média cinco créditos em renegociação, número que se manteve este ano.

“Criou-se, nos últimos tempos, alguma ideia de que a crise estava ultrapassada e que, de certa forma, podíamos voltar a ter os comportamentos que tivemos” antes da crise, mas “a verdade é que não podemos”, disse Natália Nunes à Lusa.

Para a coordenadora do GAS, os portugueses têm de ser “cada vez mais rigorosos”, na forma como lidam com o dinheiro, e as instituições de crédito têm de “privilegiar a concessão de crédito cada vez mais responsável”.

“Este é um papel que tem de ser assumido, de uma vez por todas, por parte da banca e das instituições de crédito”, defendeu.

Os dados da Deco/GAS adiantam que 60% das famílias que pediram apoio estavam a trabalhar, 26% estavam desempregadas e 14% na reforma.

Das que estavam a trabalhar, 39% estavam no setor privado, 15% no setor público e 6% trabalhavam por conta própria.

Apesar de haver pessoas que já conseguiram voltar ao mercado laboral, estão a fazê-lo “numa situação muito precária, com rendimentos muito baixos, muitas vezes iguais ou até inferiores ao salário mínimo nacional”, disse Natália Nunes.

Traçando a evolução do número de processos acompanhados pelo GAS, a Deco refere 2.712, em 2011, 2.768, em 2012, 4.034, em 2013, 2.768, em 2014, e 2.712 em 2015.