Uma investigadora do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) afirma que a maior parte dos maus-tratos dos pais contra os filhos está associada a um ato educativo, defendendo a realização de uma campanha nacional para alterar estes comportamentos.

 

“A maioria dos pais bate nos filhos porque quer alterar o comportamento da criança”, diz Manuela Calheiros, coautora do livro “Crianças em risco e perigo – Contextos, Investigação e Intervenção”, que é apresentado hoje no II Encontro Nacional Sobre Crianças e Jovens em Perigo”, em Lisboa.

No entanto, “a investigação mostra exatamente o contrário”: a criança trava aquele comportamento na altura, “mas aumenta exponencialmente a seguir”.

 

“Os pais abusivos utilizam muito pouco as estratégias educativas e as que utilizam são punitivas. São pais que têm pouco conhecimento sobre como educar, utilizando sempre as mesmas estratégias”, sublinha a especialista em psicologia social e comunitária.

 

Para Manuel Calheiros, seria importante fazer uma campanha nos órgãos de comunicação social que ensinasse as estratégias corretas, como fizeram alguns países europeus, que conseguiram “diminuir drasticamente” alguns comportamentos, nomeadamente os maus-tratos físicos.

 

“Há campanhas para tudo e não há para a proteção de crianças e jovens em risco e perigo”, diz a investigadora.

 

A campanha realizada nalguns países europeus mostra inicialmente “os efeitos nefastos e negativos para o perpetrador e para a criança das atitudes maltratantes” e depois demonstra o comportamento correto que os pais devem ter e as suas consequências positivas.

 

Com as estratégias corretas a criança adota o comportamento certo, sem serem necessárias medidas punitivas, explica Manuela Calheiros, considerando que “era uma boa forma de fazer prevenção e intervenção”.

 

“A campanha não só ensina os pais que ainda não estão em risco como dá alternativas aos pais que não têm estratégias capazes e saudáveis e maltratam os filhos”, frisa.

 

Manuela Calheiros adiantou que o contexto atual que o país atravessa é um fator de risco para as crianças, porque aumenta os acontecimentos negativos da vida dos pais, levando a um aumento das situações de stress e de falta de controlo.

 

No encontro, onde são esperados cerca de 500 participantes, será debatido a ligação entre a escola e a família no sentido da intervenção das crianças em risco.

 

“Eu sei que as escolas não têm a obrigação nem o dever de substituírem os pais, mas o que é um facto é que as crianças passam muitas horas nas escolas”, disse. Por isso, defendeu, as escolas devem ter ambientes não só de ensino, mas também de educação, “sem se substituírem aos pais”.

 

Para Manuela Calheiros, devia existir nas escolas programas de prevenção de riscos, principalmente para as crianças em que “é muito difícil obter sucesso com os pais”.

 

O livro que será hoje apresentando no encontro, onde são esperados 500 participantes, pretende contribuir para a formação de estudantes e profissionais na área da proteção de menores em diversos setores da atividade de intervenção social em Portugal.

 

Lusa