Já sobre a forma como as escolas foram encerradas pelo Governo, ao ser decretado o confinamento da população para travar os contágios, Isabel Alçada considerou que as orientações não foram claras.
Professora de formação, Isabel Alçada elogiou a forma como os diretores se mobilizaram logo no primeiro período de confinamento, no ano passado, para pôr em prática um plano de ensino a distância.
“Sabemos que o estudo em casa pela televisão (telescola) não tem a interação com o professor, não há conversa com cada aluno. É muito menos benéfico do que aquilo que se pode fazer com um computador e os diretores têm-se mobilizado para conseguir organizar - dentro dos recursos de que as escolas dispõem - o melhor possível”, atestou.
No entanto as desigualdades estão também patentes entre as escolas, nos meios que possuem e na capacidade de conexão ao mundo virtual. “Há zonas do nosso país em que a internet tem uma velocidade tão lenta que não consegue haver interação e depois as escolas, também não conseguem dar muito apoio porque têm poucos computadores”, constatou.
“A rede é importantíssima e isso, de facto, cria clivagens e agrava desigualdades”, reforçou.
“Agora a tentativa de manter a ligação dos alunos à escola tem sido constante. Os professores têm-se mobilizado e os diretores fizeram uma gestão incrível para que as coisas continuassem a funcionar, mesmo com situações de ocorrência de casos, de confinamento de famílias, tudo isso foi difícil, mas eles conseguiram sempre acompanhar”, disse Isabel Alçada.
Para a ex-ministra, a reabertura das escolas que se seguiu, com base nas orientações dos ministérios da Educação e da Saúde foi “muito bem acolhida”, mas no regresso às aulas houve “muita agitação, muita inquietação” das famílias, das crianças e dos docentes, devido ao distanciamento que foi exigido e às máscaras, nas aulas.
“Foi tudo muito bem organizado, mas naturalmente que cria uma situação diferente daquela que é a situação normal da descontração com que as pessoas trabalham numa escola”, referiu.
Para Isabel Alçada, o novo encerramento dos estabelecimentos de ensino, decretado em janeiro face ao crescimento exponencial de casos de covid-19 na sociedade portuguesa, veio “agravar e criar mais ansiedade”.
“Foi feito de uma forma, enfim, não houve assim orientações muito claras, veio realmente trazer problemas”, considerou.
Isabel Alçada sustentou que a comunicação tem de ser “clara e distinta”, o que, na sua opinião, não aconteceu. “Não foi clara e distinta e isso cria ansiedade e dificulta. As pessoas só seguem orientações se elas forem claras”, precisou.
Isabel Alçada, que foi ministra da Educação no XVIII Governo Constitucional, liderado por José Sócrates, e que é atualmente assessora para a educação da Presidência da República, falou à Lusa na qualidade de membro do conselho consultivo do EDULOG, um projeto da Fundação Belmiro de Azevedo destinado a promover reflexões e apresentar contributos para melhorar o sistema educativo.
Comentários