Esta é a conclusão da médica e coordenadora do grupo de Cronobiologia da Sociedade Espanhola do Sono (SES), María José Martínez, em declarações ao jornal El Pais. A especialista diz que o relógio biológico das crianças e dos idosos “é menos flexível” e, por isso, a adaptação ao novo horário “exige mais tempo”.

Já Oscar Sans, especialista em medicina do sono e também membro do conselho da SES, revela que nas crianças essa dificuldade é explicada pela imaturidade do sistema nervoso: “O ritmo circadiano está ligado ao sistema nervoso e, no caso dos mais novos, ele ainda está em formação”. Isto implica que “tudo o que ponha em risco as rotinas, acaba por torná-los mais vulneráveis e sensíveis”.

Sans diz que essa vulnerabilidade se traduz em sintomas como “mau humor, irritabilidade, apatia ou mais hiperatividade”. Sinais que, em outubro, podem durar três a quatros dias mas podem persistir durante uma semana na mudança para o horário de verão. Isto porque, as crianças acabam a dormir menos do que precisam.

Mas há quem fique a ganhar com a mudança. Quem? Os adolescentes e jovens adultos que, em Outubro, ganham uma hora extra na cama. “Uma boa notícia para quem geralmente sofre de privação crónica do sono”, ironiza María Martínez.

Ainda no caso dos adolescentes, a mudança de hora provoca mais desequilíbrios no verão do que no Inverno. Oscar Sans explica que os adolescentes têm uma tendência para aquilo a que comummente se chama de síndrome de phase-lag, adormecer tarde e, se possível, levantar-se em cima da hora – ou já atrasado.  “De forma biológica, tendem a adormecer mais tarde. E, claro, se conseguirem acordar a horas, não há qualquer problema, mas quando têm aulas às 8 da manhã, muitos acabam por sofrer de privação crónica de sono”.

Oscar Sans diz ainda que este phase-leg também se alimenta do uso excessivo de telemóveis e tablets à noite, explicando que a luz branca ou azul desses aparelhos “vai diretamente para o cérebro” e provoca uma inibição da síntese de melatonina, hormona que nos embala para o sono. María José Martínez ressalva, porém, que os adolescentes e jovens adultos não sofrem distúrbios significativos com a mudança da hora, exceto alguns desequilíbrios que desaparecerão dois ou três dias após a alteração. Por exemplo é provável que se sintam sonolentos uma hora mais cedo do que o relógio indica, e que também despertem antes do habitual. Por terem de comer um pouco mais cedo podem ter alguma pequena alteração de apetite e, nalguns casos, sofrer uma mudança de humor devido ao fato de beneficiarem de menos horas de luz.

Dicas para atenuar a mudança de horário

Os especialistas da Sociedade Espanhola do Sono dão alguns conselhos para que as crianças se ressintam o mínimo possível a mudança de horário.

  1. Sesta
    María José Martínez explica que fazer uma pequena sesta nos dias a seguir à mudança de hora “ajuda as crianças a atrasar o relógio biológico, já que isso lhes permite manterem-se acordadas até à hora de ir para a cama”.
  2. Exercício
    Sans recomenda a exposição à luz natural e a realização de exercício ao final da tarde – “isso favorece um rápido ajuste do relógio biológico da criança”.
  3. Falar
    No caso das crianças mais velhas, o mesmo especialista recomenda que os adultos expliquem, de forma simples e clara, o que o que é que a mudança implica realmente, para que assim ponham termo a qualquer ansiedade antecipada. Podem, por exemplo, “explicar-lhes que a partir de agora, quando se levantarem para ir para a escola ainda será de noite”.