Uma mulher deve ingerir, em média, entre 1.500 a 1.800 calorias por dia. Quando tinha 19 anos, Christie Begnell, australiana, raramente ia além das 300. A maior parte dos dias, sobrevivia à base de uma dieta de água, refrigerantes de cola e bebidas energéticas. Apesar de ter 1,73 metros de altura, chegou a pesar apenas 53 quilos. «Foi tudo muito rápido e deu-me forte», confidencia. «Ouvia uma voz na minha cabeça a dizer-me para não comer e não o conseguia ignorar», confessa.

Hoje, com 24 anos, pesa 76,2 quilos e a anorexia não passa de uma (má) memória, assim como a depressão que a assolou no período em que procurava, por todos os meios, combater o distúrbio alimentar que a afetava. Foi nessa fase que começou a desenhar. Primeiro para passar o tempo e depois para explicar aos outros o que lhe ia na cabeça. Os elogios que foi recebendo ajudaram-na a superar a fase difícil.

Depois de recuperada, decidiu lançar um livro de ilustrações que possa ajudar outras pessoas na sua antiga condição. «O meu peso baixou muito rapidamente. Num espaço de poucos meses, passei de uns saudáveis 65 quilos para um valor abaixo dos 50», recorda. «Felizmente, estava a ser acompanhada por um psiquiatra por causa de problemas depressivos e ele reagiu rapidamente, conseguindo-me ajuda», diz.

«Mas aquela voz continua dentro da minha cabeça, dizendo-me para não comer porque senão vou ficar muito grande ou muito gorda», desabafa. Para lidar com o problema deu-lhe um nome, Anna. E é a esse alter ego, a personagem central do livro, que se agarra. «Desenho as coisas que ela me diz para fazer», afirma. «Como isso me ajudou a mim, decidi fazer o livro para poder ajudar outras pessoas», justifica Christie Begnell.

O fim da relação com o namorado que tinha na altura foi o espoletar do problema. «Durante vários dias, só chorava e comia gelados. Depois, olhei-me ao espelho e, apesar de não ter engordado muito, comecei a ouvir uma voz que me dizia que eu estava nojenta», recorda. «Deixei de comer, vi que estava a ficar mais magra e fiquei viciada», acrescenta ainda. Em 2013, morreram, em Portugal, mais de 400 pessoas devido a anorexia.

Foi anorética e agora lançou um livro para ajudar adolescentes a escapar à doença

Texto: Luis Batista Gonçalves com Caters News Agency (fotografias) e Christie Begnell (ilustrações)