“A educação é a chave” do combate à desinformação, habitualmente referida como ‘fake news’, disse Delphine Colard, durante uma conversa virtual com jornalistas sobre a luta da Europa contra a desinformação em tempos da covid-19.
“Deve ser muito claro para todos que a informação veiculada por ‘bloggers’ ou influencers’ não tem a mesma credibilidade da dos media tradicionais”, defendeu.
A grande dificuldade em perceber a “fina linha” entre opinião e ‘fake news’ complica a situação, como considerou a diretora da agência Lusa, Luísa Meireles, sublinhando que “a desinformação tem sido uma preocupação nos últimos anos, mas, na atual pandemia, é crítica porque a saúde é um bem precioso para todos”.
Segundo Delpfhine Colard, como a informação sobre a covid-19 tem monopolizado a atenção nos últimos meses, as histórias sobre a sua origem têm proliferado.
“Na rádio belga deram notícia hoje de duas narrativas, uma das quais diz que tudo isto foi criado por Bill Gates para implantar ‘microships’ e controlar a população e outra que refere que [a quinta geração de telemóveis] 5G está a espalhar a covid-19, o que levou várias pessoas a destruírem antenas de telecomunicações em vários países”, contou.
“Estas histórias têm consequências para a nossa saúde e segurança”, sublinhou a porta-voz do Parlamento Europeu.
Para combater isto, é preciso cooperação, nomeadamente com as plataformas de redes sociais, como por exemplo o Facebook.
Também a assessora de imprensa do Parlamento Europeu Sara Ahnborg considerou que é preciso cuidados extra quando se lida com estes temas, sobretudo os que estão ligados à saúde.
“Há neste momento 514 histórias [iniciadas pelo] Kremlin a circular sobre a covid-19”, avançou Sara Ahnborg, reconhecendo que as acusações a Bill Gates “são muito populares”, mas também há várias com fins políticos.
“A Rússia espalhou que não há solidariedade entre os Estados da União Europeia e que a UE está a desmoronar-se” ou que “a democracia nunca funcionará e a covid-19 prova-o, sendo que o que é preciso é um regime de ditadura”, referiu, admitindo que algumas histórias podem fazer-nos rir, mas outras são mais preocupantes.
“Portugal tem uma tradição muito forte de cruzar fontes e fazer ‘fact cheking’, mas isso não acontece em todos os países”, lembrou.
De acordo com esta responsável da comunicação do Parlamento Europeu, “decorre [atualmente] uma discussão sobre o que as redes sociais podem fazer, nomeadamente em relação a pessoas que se fazem passar por outras, ou por quem usa algoritmos para mudar as perceções e talvez haja legislação sobre isso ou um acordo em breve”.
Por enquanto, secundou a porta-voz do Parlamento Europeu, o importante é “expor os casos e aumentar a consciencialização. É importante investir na literacia e que as crianças comecem, desde cedo, a detetar elementos” e a verificar as histórias antes de decidirem partilhá-las ou não.
“Se algo é demasiado feliz ou demasiado triste ou se nos afeta demasiado os nervos, deve pensar-se duas vezes antes de partilhar: provavelmente foi fabricado para nos provocar uma reação”, alertou Delphine Colard.
Por outro lado, as plataformas de distribuição, como as redes sociais, têm um código de conduta, uma espécie de autorregulação, que “está atualmente a ser revisto, depois das eleições europeias. “Deveremos ter mais regras em outubro”, disse.
O debate “Desinformação em tempos de covid-19” foi realizado no âmbito da do Dia da Europa, comemorado em 9 de maio, e do Dia da Liberdade de Imprensa, que se assinala em 3 de maio.
A porta-voz adjunta do Parlamento Europeu, Delphine Colard, e a assessora de imprensa do Parlamento Europeu, Sara Ahnborg, foram entrevistas pela diretora da Lusa, mas também pela jornalista e presidente do Sindicato de Jornalistas Sofia Branco, tendo contado com questões colocadas por que estava a assistir.
Na semana passada, centenas de médicos e enfermeiros de vários países, entre os quais Portugal, assinaram uma carta a exigir que as principais redes sociais e plataformas digitais combatam a desinformação sobre a covid-19, retificando notícias falsas e tornando-as menos visíveis.
A petição, divulgada pela plataforma Avaaz e dirigida aos gestores do Facebook, Twitter, Google e YouTube, assegura que a pandemia de coronavírus também é “uma infodemia global” na qual a desinformação viral “põe em perigo vidas em todo o mundo” através de mensagens falsas.
Veja o vídeo: O que acontece ao vírus quando entra em contacto com o sabão?
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