“Há muitos encarregados de educação que estão legitimamente preocupados com as aprendizagens”, referiu Manuel Pereira quando questionado sobre as abordagens dos pais aos diretores escolares.

“Tudo isto é muito desequilibrador em termos emocionais para as crianças, sobretudo os mais novos. Tem sido um ano muito estranho”, afirmou referindo-se às interrupções das aulas presenciais desde que foi declarada a epidemia de covid-19 em Portugal, em março.

No entanto Manuel Pereira assinalou também “aspetos positivos” a que tem assistido ao longo deste processo, como uma “maior responsabilidade dos alunos”, face aos riscos da pandemia e ao cumprimento das regras sanitárias impostas.

“Conseguimos ter os alunos um pouco mais atentos, mais preocupados, a mostrar outro sentido de responsabilidade, que por vezes nem era tão fácil!”, exclamou.

O uso sistemático de máscaras faciais e o cumprimento dos circuitos delineados nas escolas, bem como a desinfeção das mãos foram alguns exemplos de disciplina que apontou.

“Também temos estado, em termos de formação cívica, a trabalhar os nossos alunos bastante, mas em termos de aprendizagens a situação é preocupante” e pesa mais sobre os encarregados de educação dos alunos do ensino secundário, assumiu.

O dirigente escolar frisou que o acesso à universidade e os exames serão feitos de acordo com “o modelo que existe há muitos anos”, o que preocupa encarregados de educação e alunos, devido ao tempo perdido.

Para Manuel Pereira, o Governo deverá tomar medidas em parceria com as universidades para “encontrar soluções pragmaticamente justas” que possam dar respostas a todos.

O diretor reiterou que existe um desfasamento entre o ensino superior e o ensino secundário que não é de agora, questionando se não seria legítimo encontrar-se “uma plataforma de entendimento”, através do Ministério da Educação, entre os dois estágios de ensino.

“É normal muitos dos alunos que estão agora no 12.º ano, e não só, sentirem-se lesados se os exames forem no mesmo modelo dos anos anteriores, porque se há alunos que têm maturidade para estudarem sozinhos, também há os que precisam dos professores para os ajudarem a resolver problemas”, declarou.

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou na quarta-feira que não acredita que as aulas presenciais possam ser retomadas no espaço de 15 dias face à evolução da situação epidemiológica do país e adiantou que a alternativa será o ensino “online”.

Esta convicção foi transmitida por António Costa no final do programa “Circulatura do Quadrado”, na TVI-24, moderado pelo jornalista Carlos Andrade, com a participação habitual da líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, do antigo dirigente do PSD Pacheco Pereira e do membro do Conselho de Estado António Lobo Xavier.

“Não acredito que daqui a 15 dias se regresse ao ensino presencial”, declarou o líder do executivo, que também adiantou que o Governo não repetirá a medida que tomou na sexta-feira passada no sentido de decretar uma interrupção no ano letivo, com compensações nos períodos tradicionais de férias.

“Por isso, devemos retomar o ensino online”, admitiu António Costa.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.176.000 mortos resultantes de mais de cem milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 11.608 pessoas dos 685.383 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

O Governo decidiu fechar as escolas para conter os contágios, entre outras medidas determinadas pelo estado de emergência em que o país se encontra.