Em entrevista à Lusa, a economista espanhola Laura Sagnier diz que "é triste como os homens em Portugal colaboram tão pouco".

O estudo, coordenador por Laura Sagnier e Alex Morell, pela consultora PRM, com a ajuda das especialistas portuguesas Sara Falcão Casaca e Heloísa Perista, baseia-se numa amostra de 2.428 mulheres residentes em Portugal, entre 18 e 64 anos, entrevistadas em maio de 2018 através da internet.

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“O que é mais frustrante neste estudo é quanto esforço a mulher está a fazer no dia a dia. Há muitas que estão a fazer duplas jornadas: trabalham no trabalho pago e depois trabalham em casa quase as mesmas horas, sobretudo as que têm crianças pequenas”, destaca.

Laura Sagnier reconhece que “entre as gerações mais novas há uma melhoria, mas ao ritmo que tem evoluído” vai levar “pelo menos cinco gerações” a mudar a situação de facto.

A economista, que há dois anos coordenou um estudo semelhante em Espanha, indica que há “duas diferenças fundamentais” entre portuguesas e espanholas. Por um lado, as portuguesas estão mais no mercado do trabalho (71%, em Espanha 60%), o que lhes dá mais independência económica, mas também lhes deixa menos tempo. “Como elas, em casa e com os filhos, trabalham mais do que as espanholas, estão esgotadas”, observa.

Esse nível de “esgotamento” resulta, entre outras coisas, em “índices de obesidade superiores aos de outros países e muita medicação [nomeadamente antidepressivos]”, enumera a autora.

“Elas ganham menos do que os companheiros, pagam metade das despesas e estão quase sozinhas a fazer as tarefas da casa e dos filhos. É um negócio que não faz sentido”, resume.

Em Espanha, “é tudo igual, mas menos, há mais casais onde os homens participam mais, as mulheres ganham melhor e há mais mulheres que não têm trabalho pago”, ou seja, que optaram por sair do mercado de trabalho.

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Por outro lado, “a mulher portuguesa tem muito mais idealizado o conceito de maternidade e das crianças”, aponta a autora, acreditando que tal se possa dever à percentagem de mulheres que se afirmam católicas (quase 20 pontos percentuais mais do que em Espanha). “Há muita correlação entre o apego à maternidade e a religião”, realça.

Ora, a maternidade “cria muita frustração a 10 por cento das mulheres portuguesas que queriam ter filhos e não tiveram por questões económicas”, nota.

Em resultado disto, em Portugal “há mais casais que não funcionam, há mais divórcios, porque as mulheres são mais independentes economicamente”.

Para Laura Sagnier, a solução está na educação, desde as universidades, por exemplo incorporando nos currículos a importância da partilha. “Os casais falam muito quando formam família sobre como vão pagar as despesas, mas nunca determinam quem vai fazer o quê”, observa. “Os casais mais felizes são aqueles que partilham”, indica, responsabilizando mães e pais pelo exemplo que dão.

Ao mesmo tempo, as mulheres precisam de saber que a sua “generosidade” em tempo “tem efeitos no casal, nos filhos, na sua própria saúde”, destaca a autora. “As mulheres têm de perceber que uma parte do que se passa em casa se deve a não terem sabido colocar freios na altura certa”, sustenta.

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Desde a divulgação do estudo em Espanha, “ainda não se está a fazer nada” em políticas públicas. A economista tem-se aplicado na divulgação dos resultados, nomeadamente junto de empresas.

A reação dos homens tem sido “curiosa, muitos ficam surpreendidos”, conta. “Acho que há muitos homens que viram assim os pais e os avôs e não lhes ocorre que o trabalho em casa possa não ser gratificante para as mulheres, pelo menos não tanto como tomar café com as amigas”, diz.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, que hoje cumpre dez anos, inaugurou o ciclo “Ao encontro dos portugueses” com este estudo e uma conferência, na Aula Magna, com Samantha Power (antiga embaixadora dos EUA na ONU) e Freida Pinto (atriz indiana e ativista dos direitos das mulheres), que vão analisar a situação das mulheres no mundo.