Um estudo publicado hoje na revista Cell revela que uma mutação num gene necessário ao metabolismo do ácido fólico impacta não só os descendentes imediatos, mas também pode ter efeitos prejudiciais à saúde das gerações seguintes. A nova investigação também lança luz sobre o mecanismo molecular do ácido fólico.

 

«Embora a nossa investigação tenha incidido nas mutações genéticas que perturbam a decomposição e o metabolismo do ácido fólico, acreditamos que a deficiência de ácido fólico na dieta terá igualmente um impacto multigeracional na saúde», afirma Erica Watson, líder do estudo, do Centro para a Investigação Trofoblástica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

 

Os efeitos prejudiciais da deficiência de ácido fólico no desenvolvimento são bastante conhecidos. Como resultado, muitos países implementaram programas de enriquecimento que requerem a inclusão de ácido fólico em produtos à base de cereais. No entanto, até agora, sabia-se muito pouco sobre a forma como a deficiência de ácido fólico causa uma variedade de problemas de saúde na descendência.

 

«Os programas de enriquecimento reduziram o risco de efeitos nocivos para a saúde, mas não os eliminou totalmente», diz a investigadora. «Com base na nossa pesquisa, acreditamos que pode demorar mais de uma geração para eliminar os problemas de saúde causados pela deficiência de ácido fólico.»

 

Os investigadores colocam a hipótese de que, por um motivo ainda desconhecido, alguns fatores externos aos genes causam uma mutação nos genes que regulam o ácido fólico. Se essa mutação passar a fazer parte do código genético da descendência, então as gerações seguintes poderão vir a desenvolver as anomalias associadas à deficiência de ácido fólico.

 

«Ficámos surpreendidos por descobrirmos que os trinetos de alguém que teve uma deficiência de ácido fólico poderiam ter problemas de saúde – o que sugere que os “pecados” dos avós maternos podem ter um efeito sobre o desenvolvimento e o risco para a doença», declara Erica Watson.

 

«O mais importante é que a nossa investigação mostra que certos fatores ambientais – por exemplo, a dieta, certos produtos químicos de utilização corrente, poluição, hábitos de vida – influenciam a forma como os genes funcionam, tendo enormes implicações para a saúde humana, com efeitos a longo prazo, por várias gerações», conclui a especialista.

 

 

Maria João Pratt