As crianças portuguesas vêm mais imagens de cariz sexual nas bancas dos jornais do que na Internet, disse hoje à agência Lusa a investigadora Cristina Ponte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Os dados da investigação em que participou para chegar a este e outros resultados serão publicados no livro “Crianças e Internet em Portugal”, a lançar no dia 06 de fevereiro, véspera do Dia Europeu da Internet Segura. O livro espelha, de forma mais aturada, os resultados obtidos para Portugal num inquérito europeu, no âmbito do projeto “EU Kids Online”, afirmou Cristina Ponte. De acordo com a investigadora, Portugal tem a maior taxa de computadores portáteis entre a população mais jovem, devido à generalização dos programas e-escolinha (Magalhães) e e-escola, mas o uso é dos mais reduzidos em termos europeus, devido aos custos das telecomunicações. “Têm uma ´´pen´´ com um plafond e quando acaba torna-se caro recarregar”, explicou. Dai que Portugal seja um dos países onde os alunos procuram mais espaços com Internet (gratuita), como as bibliotecas, onde acabam por fazer trabalhos. Foram analisadas mil respostas de crianças portuguesas, dos nove aos 16 anos e analisados os riscos sexuais. Cerca de um quarto (24 por cento) das crianças e jovens afirmaram ter visto imagens de cariz sexual no último ano, dentro e fora da Internet, com predominância para os rapazes. Os valores daqueles que viram as imagens aumentam com a idade, havendo 37 por cento de jovens de 15 e 16 anos que as observaram no último ano. Este é o maior grupo, embora 14 por cento dos adolescentes de 13 e 14 anos as tenham visto esporadicamente. A Internet é a fonte de imagens de cariz sexual para cerca de metade dos jovens que as viram on-line ou off-line (13 por cento do total), a par da televisão ou filmes. “As crianças mais novas vêm mais este tipo de imagens em revistas ou livros ou através da televisão ou filmes”, segundo o estudo. O telemóvel, através de sms ou mms, ou o bluetooth, são os veículos mais populares entre os mais velhos: 24 por cento e 21 por cento dos jovens com 13 e 14 anos e 18 por cento e 20 por cento dos 15 e 16 anos, respetivamente. “Apesar de uma certa dramatização sobre o contacto com conteúdos pornográficos através da Internet, continua a haver outras fontes destes conteúdos, numa cultura crescentemente sexualizada, que também tem as suas manifestações entre a cultura juvenil”, sublinham os investigadores. O estudo mostrou que o conteúdo sexual com que os inquiridos contactaram foi sobretudo de pessoas nuas (65 por cento) ou a terem relações sexuais (64 por cento), seguindo-se o de imagens genitais (37 por cento) e “apenas residualmente imagens de sexo violento” (9,8 por cento). “Portugal está entre os países com maior discrepância entre as práticas declaradas de ver imagens sexuais online pelos filhos (13 por cento) e admitida pelos pais (quatro por cento do total)”, revela o estudo. Diz ainda o estudo que os pais portugueses assumem “um grande desconhecimento sobre esta matéria”, já que 43 por cento dos pais de crianças que tiveram esta experiência optou pela resposta “Não sei”.
6 de janeiro de 2011