A Plan International analisou a situação das raparigas em Moçambique no contexto da COVID-19, no quadro da "Avaliação Rápida das Necessidades de Género em Inhambane, Nampula e Sofala" que esta ONG realizou.
"As raparigas confirmaram que sentem uma pressão crescente para casar cedo, enquanto permanecem em casa, devido ao encerramento da escola por causa da COVID-19", refere-se nas conclusões da avaliação.
O estudo avança que muitas raparigas não vão regressar à escola quando o ensino for retomado, porque a prioridade da família é assegurar o casamento das filhas.
"A covid-19 está a afetar negativamente o acesso aos meios de rendimento, com o encerramento de alguns estabelecimentos e a diminuição de pequenos negócios e, consequentemente, o acesso aos alimentos", lê-se no documento.
Recordando que as raparigas nas zonas rurais moçambicanas têm a responsabilidade de procurar água potável longe de casa, a Plan International refere que a busca por este recurso agravou a exposição aos riscos de infeção.
"O acesso à água é difícil, uma vez que as fontes de água estão muito longe das casas. Como resultado, a quantidade que as mulheres e raparigas são capazes de ir buscar não é suficiente para todos os fins, especialmente para cumprir as práticas de higiene recomendadas para a prevenção da COVID-19", diz a avaliação.
Por outro lado, prossegue, as unidades sanitárias funcionam com capacidade reduzida, causando restrições no acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, devido ao distanciamento social e à redução do pessoal da saúde como medida de prevenção da contaminação.
Os papéis e responsabilidades das raparigas e das mulheres aumentaram, principalmente a carga de trabalho doméstico, com a eclosão da pandemia do novo coronavírus, continua a análise.
A Plan International lembra que Moçambique é um dos dez países do mundo com maior prevalência de uniões prematuras e tem a segunda maior taxa na sub-região da África Oriental e Austral.
Uma em cada duas raparigas é obrigada a casar prematuramente no país.
Moçambique conta com 2.855 casos do novo coronavírus e 19 óbitos.
A pandemia de COVID-19 já provocou pelo menos 770.429 mortos e infetou mais de 21,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.
Comentários