Quase metade das crianças com paralisia cerebral estão desnutridas devido à dificuldade que têm em alimentar-se e a serem alimentadas, o que poderia ser evitado com uma intervenção cirúrgica mais precoce, defendeu um especialista.

 

Daniel Virella, da comissão executiva da Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), falava a propósito do relatório sobre as crianças com paralisia cerebral, nascidas entre 2001 e 2003, no âmbito da vigilância nacional da doença aos cinco anos.

 

O Programa de Vigilância Nacional de Paralisia Cerebral aos 5 anos (PVNPC5A) recebeu, até 30 de junho de 2012, 658 notificações correspondentes a 576 casos nascidos em 2001, 2002 e 2003.

 

Ao nível dos défices associados a estas crianças, a investigação apurou défice visual em 233 de 463 crianças registadas (50,3 por cento), sendo considerado grave em 127 (11,6 por cento). Foi ainda identificado défice auditivo em 47 de 440 crianças registadas (10,7 por cento), com défice grave em 22 (cinco por cento).

 

Os autores registaram avaliação cognitiva em 84,4 por cento das crianças, tendo sido consideradas com défice cognitivo (Quociente de Inteligência menor que 70) 60,4 por cento das crianças. Neste relatório ficam explicitas as grandes dificuldades que as crianças com paralisia cerebral apresentam ao nível da alimentação.

 

Daniel Virella sublinha precisamente esta dificuldade, que, na sua opinião, podia ser minimizada. Segundo este especialista, cerca de 40 por cento destas crianças estão desnutridas, com “tudo o que isso significa”, disse.

 

“Estas crianças têm muitas dificuldades em alimentar-se e em serem alimentadas. Em certos casos gastam metade da energia que recebem dos alimentos a alimentar-se”, adiantou.

 

Para Daniel Virella, a situação podia resolver-se com uma gastrostomia (fixação de uma sonda alimentar) mais atempada, como acontece na maior parte dos países europeus.

 

Em Portugal, especificou, esta cirurgia acontece com dois ou três anos de atraso, com todas as dificuldades que isso significa para as crianças e os seus pais. “É um esgotamento total. Uma refeição dura duas ou três horas”, adiantou.

 

O médico sublinha ainda a necessidade de uma intervenção atempada às crianças com paralisia cerebral e subluxação da anca, outro dos problemas que se podem minimizar.

 

No relatório lê-se ainda que “nascer em maternidades com número de partos anual acima ou abaixo [dos 1.500 a 1.999 partos anuais] aumentou cerca de 50 por cento o risco de sofrer paralisia cerebral”.

 

“Estimamos uma taxa de incidência de paralisia cerebral nos partos sem cuidados perinatais (em casa, transporte ou hospital sem maternidade) de 7,76 por cem mil nados-vivos”, disse.

 

Cinquenta e três por cento das crianças com paralisia cerebral registadas nasceram por cesariana, mas Daniel Virella esclarece que tal não se deve ao tipo de parto, mas sim às razões que levaram a que esta intervenção fosse realizada com vista ao salvamento da criança.

 

Lusa