Ao falar em Carregal do Sal sobre o tema "Como fazer crianças e jovens felizes", Laborinho Lúcio disse não ser nem a favor, nem contra os exames, porque eles "não têm valor suficiente" para fazer essa apreciação.

Na sua opinião, os exames "não são nem bons, nem maus" e "valem bem ou valem mal em função do contexto".

"Num modelo de escola pública como a nossa, num tempo conjuntural de crise que atinge verdadeiramente um número significativo de famílias portuguesas, os exames estão completamente ao arrepio de um projeto educativo voltado para as crianças e os jovens", defendeu.

O juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça criticou que se coloquem a montante "metas de aprendizagem que geram a ficção extraordinária" de pensar que em Portugal, "no mesmo dia, à mesma hora, em cada uma das freguesias, em cada uma das escolas, todas as suas crianças sabem a mesma coisa sobre as mesmas matérias".

"Temos à partida a montante este pressuposto que está projetado para o último efeito a jusante, que é a diferenciação das escolas nos rankings das próprias escolas", frisou.

"Não se fazem crianças e jovens felizes assim"

Neste trajeto - acrescentou - há "exames que se metastizam ao contrário, metastizam-se para o passado e não para o futuro, e metastizam-se nos vários testes ao longo do ano, que geram um tumor nuclear essencial que é essa coisa inconcebível do teste diagnóstico no primeiro dia de aulas". "Não se fazem crianças e jovens felizes assim", alertou.

Para Laborinho Lúcio, "é errado dizer que não haver exames contribui para o facilitismo", porque tal só acontece "se as pessoas não forem exigentes relativamente ao seu trabalho, se não compreenderem a importância que é o trajeto de sucesso educativo no interior do sistema e se não assumirem as responsabilidades de responder sobre os resultados finais".

O antigo governante recordou que, com o 25 de Abril de 1974, a liberdade instalou-se de tal maneira que havia livrarias e papelarias cheias do colorido das revistas pornográficas, que entretanto desapareceram desses locais.

Há relativamente pouco tempo apercebeu-se novamente desse colorido e pensou que elas tinham voltado, mas quando se aproximou viu que se tinha enganado: "eram testes para os exames do 8º, do 9º, cadernos de atividades, etc. e tal".

"A única coisa que havia em comum é que eram ambas pornográficas. É isto a nossa escola? A escola rende-se a isto?", questionou.

Laborinho Lúcio lembrou que, quando o Governo decidiu acabar com os exames, logo houve manifestações de revolta dizendo que "os meninos andaram três anos a preparar-se para fazer os exames".

"Melhor argumento do que este para acabar com os exames eu não conhecia. Porque quando se entende que uma criança anda três anos numa escola para se preparar para um exame, é preciso acabar rapidamente com o exame, porque pode ser que ainda se salvem as crianças", sublinhou.