Um terço das crianças norte-americanas sofre de obesidade. Um número preocupante e que tem levado muitos pais a adotarem dietas onde o açúcar é o pior de todos os vilões. O que não faltam são opções de alimentos com poucas calorias, feitos com adoçantes artificiais. Mas, pergunta a revista Time num extenso artigo dedicado a este flagelo: o que é melhor para crianças, açúcar ou adoçantes artificiais?
“Os adoçantes artificiais contêm menos calorias do que o açúcar. Tomados isoladamente, em substituição do açúcar, contribuem para a perda de peso. Mas as pessoas reais não comem apenas alimentos com adoçantes artificiais. Tanto as crianças quanto os pais usam esquemas de compensação quando se trata de doces – convencendo-se, por exemplo, de que as calorias economizadas quando trocam um refrigerante normal por um light permitem-lhes comer guloseimas ou sobremesas. No final, acham que podem continuar a consumir o mesmo número total de calorias (ou até mais)”, explica a Time.
A verdade é que o uso de açucares artificiais tem aumentado, e muito, no mercado norte-americano. O consumo de alimentos e bebidas com baixo teor calórico, adoçantes como o aspartame, a sucralose e sacarina subiu 200% no mercado infantil entre 1999 e 2012, segundo um artigo do site de informação médica medineplus.
“Em 1999, só 8.7% das crianças ingeria adoçantes de baixo valor calórico treze anos depois o número subiu para 25,1 por cento”, garantiu o autor deste estudo, Allison Sylvetsky, da George Washington University, num artigo publicado no mesmo site.
Em 2012, cerca de uma em cada quatro crianças e mais de 41% dos adultos admitiram usar produtos com baixo teor calórico, entre eles os adoçantes. “As descobertas são importantes, especialmente para as crianças, uma vez que alguns estudos sugerem uma ligação entre o baixo teor calórico, os adoçantes e a obesidade, diabetes e outros problemas de saúde,” explicou Sylvetsky.
Pior: se alguns estudos sugerem que o consumo de produtos de baixo valor calórico, como é o caso dos adoçantes, pode ajudar a perder peso, outros revelam o oposto. Porquê? O sabor doce e intenso desses alimentos pode desencadear o desejo por mais, e as pessoas que bebem um refrigerante light acreditam que por terem evitado calorias com essa opção, podem reforçar a dose”, sugere Sylvetsky.
Os adoçantes artificiais podem ser sintéticos ou provir de fontes naturais como plantas, e foram criados para um grupo específico de indivíduos: os diabéticos, que não conseguem produzir insulina suficiente para processar o açúcar, permitindo que a glicose se acumule no sangue e possa começar a danificar órgãos, inclusive rins e os olhos. A ideia inicial foi, pois, criar um composto que permitisse aos diabéticos saborear doces sem o risco de um pico de glicose.
Os investigadores querem agora perceber como é que estes adoçantes artificiais afetam o organismo, sobretudo entre os que os consomem desde a infância.
Robert Lustig, pediatra e docente da Universidade da Califórnia, descobriu que as mães que usam adoçantes artificiais podem transmiti-los no leite materno, embora em pequenas quantidades, permitindo que “uma geração inteira possa ser exposta a esses substitutos do açúcar desde a primeira refeição”.
O especialista procura dar exemplos de como esta substituto tem os seus perigos: “Comparo os adoçantes artificiais à metadona, que supostamente ajuda os toxicodependentes a livrarem-se da heroína de forma gradual e suave, mas que tem a mesma raiz dessa droga. Os adoçantes dietéticos são melhores que o açúcar, mas o objetivo é usá-los como um método para se livrar dos adoçantes, e não como substituto do açúcar. Portanto, “se está a usá-los para se livrar de um mau hábito, ótimo; se recorre a eles como desculpa para continuar a comer doces – substituindo uma recompensa por outra -, então, não têm grande utilidade”.
Kristina Rother, especialista em diabetes e metabolismo pediátrico no Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais do Instituto Nacional de Saúde (NIH) norte-americano, concorda com Lustig. E diz que se tiver de escolher entre sobremesas com açúcar ou adoçadas artificialmente para dar aos seus filhos, prefere a primeira opção. “Pelo menos sei o que eles estão a comer. É melhor reduzir a quantidade em vez de os enganar”.
Poder-se-á também falar de engano quando o assunto é a perda de peso? Dados recentes sugerem que nem sempre os adoçantes artificiais conseguem esse feito. E podem nem sequer travar a diabetes. “O corpo reage aos edulcorantes artificiais de maneira diferente à do açúcar – as bactérias saudáveis que vivem no intestino, por exemplo, mudam quando esses compostos estão presentes – e as consequências podem ser surpreendentes e indesejáveis, especialmente para as crianças”.
“Um refrigerante dietético é uma escolha melhor para uma criança do que um adoçado com açúcar, mas não é tão propício à perda de peso como a mudança para a água ou para o leite”, explica Rother.
“Por um lado, as crianças que comem muito açúcar, muitas vezes consomem-no como parte de um padrão de excessos em geral. É só mais uma coisa em que abusam. Quando mudam para um refrigerante diet, ainda estão a ingerir calorias de outros alimentos dos quais não abdicam. Reduzir simplesmente uma fonte de açúcar pode não ser suficiente para alterar o peso”.
É importante colocar mais uma pergunta: se os substitutos de baixas calorias ou sem calorias estão tão integrados na alimentação atual, porque continua a verificar-se uma epidemia de obesidade infantil? E a resposta não é agradável: “Estudos com animais sugerem que enganar o corpo com um sabor doce, mas sem calorias, pode provocar mais obesidade e diabetes”.
Sem adoçante, por favor
De acordo com a nutricionaista Ellen Montarroyos (no site mepoenahistoria.com), de uma forma geral, os adoçantes não são indicados para crianças, a não ser que tenham diabetes tipo I e II (aí o consumo de açúcar é mais prejudicial do que o do adoçante). Conheça alguns efeitos negativos que eles podem acarretar:
- Podem ter efeito cancerígeno
- Contribuem para o aumento da tensão arterial
- Dificultam a absorção de nutrientes
- Causam alterações hormonais
Embora existam no mercado alguns exemplos de adoçantes menos prejudiciais, como os naturais (esteviosídeos, glucitol, frutose) e outros que são eliminados pela urina num período até 24h (como a sucralose) nenhum é indicado para crianças. Estas devem consumir alimentos doces – é fundamental que contactem com diferentes sabores para estimular o paladar – mas de forma moderada.
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