Alguns alunos do agrupamento de escolas de Ponte da Barca não conseguem aceder às aulas ‘online’. Vivem no Parque Nacional da Peneda Gerês, em lugares “muito íngremes, cobertos por montanhas, onde a internet não chega”, contou à Lusa Carlos Louro, diretor do agrupamento das escolas da vila.
“Em algumas zonas, nem sequer chega a Televisão Digital Terrestre”, acrescentou, lembrando que fica em causa o acesso “a iniciativas meritórias como o #Estudo em Casa”, uma espécie de Telescola transmitida diariamente pelo Canal Memória com conteúdos educativos.
Mas os problemas não estão circunscritos às zonas mais isoladas. Existem duas escolas do agrupamento onde a tecnologia teima em não entrar: "Ali os telemóveis não funcionam", desabafou o professor.
Carlos Louro contou à Lusa que só consegue contactar professores e funcionários ligando para o telefone fixo: “Não se consegue sequer fazer uma chamada telefónica quando se está dentro do edifício”.
Nos estabelecimentos de ensino do centro da vila existem outros desafios, tais como tentar “ter 1.200 alunos pendurados na rede de internet da escola”.
Carlos Louro deixou por isso um alerta para que não se esqueçam dos alunos que não vivem nas “grandes cidades”: “Uma coisa é o que se passa em Lisboa ou no Porto, mas depois existe esta outra realidade das terras do interior”.
Mas numa ronda por escolas de vários pontos do país a Lusa encontrou problemas semelhantes. Mesmo à porta de Lisboa, em Loures, a diretora de um dos agrupamentos também se queixou da banda larga.
“A velocidade da internet não nos permite ter várias turmas ao mesmo tempo a usar a internet. A banda larga é um problema real. Ficamos muito tempo à espera para conseguir aceder à internet, imagine se temos 800 alunos na escola a usar ao mesmo tempo”, contou à Lusa Irene Louro, diretora do agrupamento de Escolas n.º 2 de Loures.
Irene Louro recordou o dia em que um professor, em isolamento profilático, tentou dar aulas a partir de casa e os alunos tiveram de esperar 20 minutos até conseguir que o docente aparecesse no ecrã da sala de aula.
Além disso, acrescentou, “nos dias de hoje já não se concebe uma sala de aula sem meios tecnológicos. É preciso para fazer pesquisa e até para o funcionamento do quadro interativo”.
Para contornar o problema da banda larga, muitos docentes optam por levar para a escola a sua própria internet portátil. Uma solução de recurso que já estava a ser posta em prática por muitos docentes, mesmo antes da pandemia de covid-19 e das aulas assíncronas.
Se o agrupamento de Loures conta com cerca de 2.400 estudantes, em Felgueiras há um outro agrupamento com menos de metade dos alunos, mas com os mesmos problemas.
"A rede de internet não é suficiente", disse Anabela Leal, diretora do Agrupamento de Felgueiras, onde estão inscritos cerca de mil alunos.
Também ali, os professores têm dificuldade em conseguir fazer a ligação entre a escola e a casa dos alunos para que “entrem” na sala de aula através do computador: “O aluno que deveria entrar as 08:30 só consegue entrar as 09:00”, relatou.
Também a diretora do agrupamento de Elvas se depara com os mesmos desafios. Responsável pelos cerca de 1.500 alunos que frequentam desde o pré-escolar até ao ensino secundário, Fátima Pinto contou à Lusa que “a banda larga das escolas não aguenta”.
No primeiro dia de aulas do 2.º período, o Ministro da Educação anunciou um “reforço da internet” nas escolas mas, em declarações à Lusa, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, disse que “a realidade da internet de banda larga não foi alterada e continua a não ser possível dar aula assíncronas”.
A mudança sentida e saudada por todos os diretores que falaram com a Lusa foi precisamente o arranque do programa de distribuição de computadores.
No primeiro período, foram entregues cerca de 100 mil computadores e, ainda em dezembro, o ministro Tiago Brandão Rodrigues anunciou a aquisição de mais 260 mil computadores.
No entanto, diretores, sindicatos de professores e Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI) alertam que são precisos meios humanos nas escolas para garantir o sucesso do programa Escola Digital.
São precisos técnicos informáticos que garantam o apoio e manutenção dos equipamentos, uma vez que são poucas as escolas que têm técnicos de informática.
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