"A ideia surgiu há mais de um ano devido ao gosto que tenho por caprinos e pela confusão que me fazia a quantidade de fogos florestais que acontecem todos anos. Achei que podia dar o meu contributo para reduzir esse flagelo", explicou hoje à Lusa um dos autores do projeto, Filipe Gandra.

O jovem de 26 anos, natural de Barcelos, adiantou que a "ideia" começou a ganhar forma quando o amigo e colega Fábio Jácome, 29 anos, de Viana do Castelo, decidiu "associar-se" ao projeto, na vertente da gestão da floresta e da paisagem.

Filipe Gandra e Fábio Jácome, a frequentarem o mestrado em Agricultura Biológica da ESA do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) recorreram ao ‘crowdfunding' (financiamento colaborativo) para garantir os seis mil euros necessários ao arranque do projeto.

As primeiras cabras corta-mato deverão estar no terreno dentro de dois meses, em Vila Cova, uma aldeia de Barcelos.

Para os autores do projeto-piloto, "o facto de os animais terem sido progressivamente retirados dos seus ecossistemas, nomeadamente das florestas, contribuiu para o crescimento descontrolado dos materiais vegetais combustíveis - designados normalmente por matos -, que nos períodos mais secos aumentam a sua matéria seca, tornando-se materiais facilmente inflamáveis".

"Todos os anos os fogos destroem milhares de hectares de floresta. Existe pouca gestão dos terrenos, nomeadamente dos matos que crescem sistematicamente. Como são materiais combustíveis necessitam de controlo, e com o pastoreio dos caprinos, consegue-se uma redução dos materiais secos combustíveis", frisou.

Explicou que a escolha dos caprinos fica a dever-se "ao comportamento alimentar" desta espécie, "ajustado ao objetivo, uma vez que selecionam e procuram partes específicas, mais nutritivas, das plantas, não as destruindo completamente".

Por outro lado, "a sua anatomia permite-lhes adaptarem-se às condições íngremes das florestas, conseguindo facilmente subir, equilibrarem-se e alimentarem-se em zonas de declive acentuado".

No entanto, adiantou que " o objetivo passa por utilizar outros animais como as ovelhas, cavalos, e vacas".

"Cada espécie tem uma função dentro do sistema agroflorestal. O nosso papel é gerir a função desses animais para que eles nunca cheguem a destruir o coberto florestal", disse.

O projeto de Filipe e Fábio "já despertou a atenção" de associações ambientalistas como a Quercus, a Green Savers, a Agrobio e a Associação dos Agricultores do Porto.

"Se o projeto resultar, o objetivo é replicá-lo noutras zonas do país até porque já fomos contactados por vários proprietários interessados na ideia", adiantou.

O "Quintal Holístico" foi colocado no ‘site' português de ‘crowdfunding', PPL, para garantir o financiamento dos seis mil euros, necessários ao seu arranque.

A aquela verba destina-se à aquisição de cercas elétricas, reconstrução de um edifício para alojamento dos animais, e aquisição de cerca de 100 a 150 cabras.

A campanha de angariação daquele montante, que termina no dia 19, regista já cerca 34 apoiantes, tendo apurado 34% do valor necessário para avançar com o projeto.