A ciência é unânime quando recomenda a programação da gravidez. Comecemos pelo início, na maior parte dos casos, a mulher quando pensa em engravidar recorre a uma consulta de ginecologia para realizar alguns exames de rotina. Contudo, tanto os profissionais, como os casais, nesta fase, não exploram a fertilidade na sua profundidade.

É importante investigar, através de análises clínicas, e averiguar défices nutricionais que possam comprometer a multiplicação celular aquando da fusão do gameta masculino com o feminino.

O pré-natal é uma das fases mais importantes para a propagação de gerações futuras saudáveis. Isto é, as restrições ou os excessos nutricionais da futura grávida vão ter repercussões epigenéticas nas 3 gerações seguintes da criança.

No pré-natal existem timings que não se recuperam. O momento da fecundação é quando 2 células se fundem para originar 1 célula, esta nova célula vai iniciar uma série de acontecimentos fisiológicos, metabólicos e hormonais que ocorrem para conseguir chegar a um estádio de blastocisto.

Aqui, já vai a meio de uma fase num processo de necessidades nutricionais – vitaminas e minerais, proteínas, gordura e energia (hidratos de carbono) – para a multiplicação celular que vai dar origem à primeira estrutura do embrião e da placenta – o saco vitelino.

Essa estrutura já absorveu muitos nutrientes da futura grávida em prol da sua sobrevivência. A cada milésimo de segundo a absorção vai ser ainda maior.

Analisem-se diferentes estados da grávida:

  • Quando há uma desnutrição não diagnosticada na grávida este pode ser um dos fatores responsáveis pelos quais a gravidez não avança, degenerar-se numa hemorragia ou ter complicações futuras;
  • Quando uma mulher inicia a gravidez com um peso adequado, significa que não tem o fator gordura, que influencia, por exemplo, a função do pâncreas, e o fenómeno de resistência à insulina alterado;
  • A gravidez na mulher normoponderal não leva, normalmente, à diabetes gestacional, enquanto que numa mulher com excesso de peso, a presença de gordura corporal acima da normalidade contribui para um pâncreas mais sobrecarregado e com fragilidade na sua função;
  • Na gravidez de uma mulher com excesso de peso a sobrecarga natural do aumento das necessidades de glicose pelo feto vão provocar agressões fisiológicas em ambos, como o aparecimento da diabetes gestacional na mãe, a diabetes tipo 2 e a obesidade na infância e na idade adulta deste bebé.

No primeiro trimestre não deverá haver aumento do peso e se aumentar será no máximo 1,5kg; que serão apenas atribuídos às próprias estruturas da gravidez.

Como tal, a alimentação deve ser assente no consumo de sopas de legumes, sem hidratos de carbono, devem consumir mais peixe do que carne, devem consumir ovos diariamente, aumentar o consumo de frutas frescas e da época, consumir gorduras saudáveis existentes nos frutos secos e no azeite e aumentar para 2 a 3 litros o consumo de água ou chás de ervas (sem cafeína).

Na gravidez é importante suplementar com nutrientes chave. Contudo, não é possível que os suplementos façam um milagre, é fulcral que a alimentação e que as nutrições atinjam as necessidades nutricionais de uma grávida.

Dr.ª Noélia Arruda é autora do "Manual para a Fertilidade, Gravidez e Amamentação".