Quase todas as crianças passam por fases mais ou menos tímidas, mais ou menos envergonhadas. É perfeitamente natural e faz parte do normal desenvolvimento mental e afectivo.
À medida que os mais pequenos vão descobrindo o mundo, multiplicam-se os estímulos, os desafios e as coisas que não lhes são familiares e que têm de descobrir. Por vezes, a catadupa de informação é tão grande que recuar é a técnica que utilizam para fazer um ponto da situação, analisá-la e voltar a avançar.
Envergonhados…
É nessas alturas que podem parecer envergonhados, tímidos e pouco disponíveis para conhecer novas pessoas e envolverem-se em novas situações. No entanto, à medida que vão ficando mais à vontade e mais maduros, esse retraimento tem tendência a diminuir.
Mas existem crianças que são tímidas por natureza. Estão muito mais confortáveis no seu canto, deixando para os outros os papéis de destaque e experimentam desconforto – em maior ou menor grau – quando são chamadas ao centro dos acontecimentos.
Os especialistas definem a timidez como o receio de iniciar relações sociais, devido ao receio de que as atitudes e comportamentos sejam avaliados de forma negativa pelos outros, seja por atitudes ou palavras. Nas crianças, esse temor pode não ser verbalizado mas é, muitas vezes, perfeitamente observável.
Fazer amizades
Se esta forma de ser e de agir não colide com o dia-a-dia, não há grandes motivos para preocupações. Ou seja, uma criança que é tímida mas que, ainda assim, consegue relacionar-se com quem tem confiança, fazer amizades e fazer valer as suas opiniões sempre que é essencial, possui ferramentas sociais suficientemente sólidas para que a timidez seja apenas um traço de personalidade e não um problema.
Provavelmente nunca será o centro das atenções mas, em contrapartida, poderá cultivar uma rede afectiva bastante forte. Terá uma família próxima, amigos leais (mesmo que sejam contados pelos dedos da mão) e, muito provavelmente, grandes capacidades analíticas e de reflexão.
Vergonha a mais
No entanto, existem crianças tão tímidas que necessitam de um estímulo especial para saírem do seu casulo. E quanto mais cedo isso acontecer, melhor: a timidez em excesso pode resultar, no futuro, na incapacidade da criança, do adolescente e do jovem adulto em funcionar socialmente.
Rubor na pele, discurso em voz baixa ou sussurrada, tensão muscular, sinais de nervosismo ou hábitos como o de enrolar cabelos nos dedos ou roer as unhas são sinais habituais de timidez extrema. A criança não age assim porque quer, mas porque não consegue fazer de outra forma. E aí talvez seja de considerar procurar apoio profissional.
Felizmente que estes são casos extremos. Na maioria das situações, por muito retraída que a criança seja, há técnicas que a podem ajudar a desabrochar. Cabe aos adultos – em especial aos pais – de fazerem o diagnóstico da situação e encontrarem formas de a amparar. E, com o profundo conhecimento do filho que têm à frente, são os melhor capacitados para o fazer.
Como ajudar
Ninguém escolhe ser tímido. Mas há formas “seguras” de levar uma criança envergonhada em confiar cada vez mais nas suas capacidades sociais. E o cenário familiar, onde ela está segura e confiante, é o melhor. Cabe aos pais abrirem caminho ao diálogo entre todos, deixando que a criança se exprima livremente, tanto por palavras como por actos.
No início, estes sinais podem ser muito limitados, mas se forem recebidos com entusiasmo e realçados de forma positiva, transmitem a mensagem de que os outros não estão sempre preparados para criticar ou atacar. Não são, por isso, uma força a evitar e a temer.
É também importante que os pais deem oportunidade à criança tímida de experimentar múltiplas situações sociais em conjunto. Por um lado, ela aprende com o exemplo dos adultos e, por outro, sabe que não está sozinha perante o mundo e que ao seu lado terá sempre o apoio de quem mais a ama.
Maria C Rodrigues
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