O cérebro é composto por dois hemisférios, comandando, cada um, os grandes grupos musculares e recebendo as sensações do lado oposto do corpo. "Antigamente, pensava-se que uma pessoa seria destra porque o seu hemisfério esquerdo teria uma organização melhor que o hemisfério direito e que ser esquerdino era um defeito", esclarece Ana Serrão Neto, médica pediatra, coordenadora do Centro da Criança - Unidade Funcional de Pediatria e Neonatologia do Hospital Cuf Descobertas, em Lisboa, desde 2001.

"Hoje, sabe-se que o predomínio do hemisfério direito não se deve a qualquer defeito mas apenas a uma estrutura neurológica particular", refere a especialista. "Portanto, ser esquerdino não é bom nem mau", assegura esta profissional de saúde. Nasce-se esquerdino como se pode nascer de olhos azuis, afirma a ciência. A maioria das crianças esquerdinas não tem mais dificuldades na leitura nem na escrita do que as outras, tal como a maioria das pessoas com dislexia não tem problemas com a lateralidade.

"Uma minoria muito pequena pode ter uma especialização cerebral direito-esquerdo deficiente e ter, ao mesmo tempo, uma preferência manual menos definida e dificuldades na leitura. Já escrever em espelho, escrever um D em vez de um B, é normal entre os quatro e os sete anos e é tão frequente nos destros como nos esquerdinos", elucida. Esta conceituada médica garante ainda que todas estas particularidades são ultrapassadas pela capacidade intelectual da criança e não precisam de ser treinadas.