No quotidiano dos dias estas são frases de manhãs apressadas que as famílias vivem, numa azáfama atual em que o tempo rege as necessidades de forma impiedosa e em que a nossa capacidade de nos adaptarmos a estas exigências marca muito do nosso bem-estar.

A forma como é gerido o tempo e espaço por parte dos pais e outros adultos significativos, criando limites e possibilidades às crianças, marca a diferença naquilo que as mesmas conseguirão regular e antecipar na realização das tarefas diárias e no comportamento que cada uma destas obriga. Muitas vezes exigimos das crianças respostas comportamentais para as quais não criamos as necessárias condições de sucesso, condições que se relacionam com a forma persistente e estruturada como precisamos de organizar o espaço físico e o tempo da criança. Em média, cada 30 minutos, os pais fazem cerca de 17 pedidos/instruções ou ordens a uma criança, comandos verbais de ações que muitas vezes a criança já está a realizar ou à qual não pode naquele momento corresponder por falta de condições para isso - não está nesse espaço físico, está de momento a fazer outra coisa (que lhe foi pedido ou não), não tem tempo para corresponder às solicitações (pelos horários que pais e criança têm que cumprir), não sabe fazer sozinha o que lhe foi solicitado, entre outras razões.

A importância de organizar o dia de uma criança surge porque esta estruturação dá-lhe uma estabilidade e capacidade de antecipação que permite estabelecer um guião de respostas que a criança dará de forma progressivamente mais natural e que se torna, na maioria das ocasiões, mais eficiente e tranquila. Saber onde está o que precisa, organizar os materiais das suas tarefas, perceber a ordem das transições entre os vários momentos do dia e regular-se pelo tempo das tarefas são alguns passos de um caminho progressivo de autonomia, no qual os adultos têm um papel fundamental pois criam o limite externo ao qual a criança se vai adaptar e moldar na sua forma de funcionar.

A capacidade de estruturar o contexto familiar e permitir à criança que a mesma se possa autonomizar e criar um sistema de rotinas em que melhore o modo como cumpre as tarefas, está dependente da forma como os pais ou outros adultos conseguem manter um conjunto de características importantes:
- Um discurso claro e direto sobre o comportamento pretendido nas tarefas pela qual a criança é responsável; - Estabelecer objetivos realistas para a etapa de desenvolvimento, características da criança e rotinas dos pais;
- Proporcionar a fase de aprendizagem dessas tarefas com participação ativa nesse processo;
- Preparar o contexto para que a criança possa ter sucesso naquilo que lhe é pedido.

Se as rotinas e a organização do contexto familiar proporcionam segurança à criança e suporte aos pais na forma como gerem o comportamento da mesma, isto é tão ou mais verdade quando falamos de crianças com dificuldades específicas no seu curso de desenvolvimento, colocando desafios aos pais que, muitas vezes, a necessidade de ajuda especializada é uma realidade.

Conquistas como saber onde estão os sapatos, quanto tempo falta para sair de casa ou o que se tem que fazer até ir para a cama, pontuam a composição dos dias, dão espaço para crescer e, enfim, “arrumar ideias”.

Luís Fernandes
Técnico Superior de Reabilitação Psicomotora.
luis.fernandes@pin.com.pt