Se, para as crianças, o regresso às aulas e os meses que se seguem são períodos marcantes, para os pais não o será menos. Uma participação ativa na vida escolar do seu filho, que idealmente se deve manter ao longo de todo o ano letivo, é fundamental. Esse acompanhamento é imprescindível para estar a par do trabalho desenvolvido por ele e da forma como se socializa, devendo também conhecer os amigos com quem se dá mais.
Quando o for levar e buscar à escola, converse com os colegas dele e faça-lhes perguntas sobre o dia, dando assim à criança o modelo para conhecer o outro. Uma estratégia que é defendida por muitos especialistas. A melhor maneira de perceber se o seu filho se está a adaptar bem à escola é observá-lo. Pode fazê-lo em casa mas analisar o seu comportamento no seu ambiente educativo pode oferecer-lhe outra perceção.
A integração na escola
Preste atenção ao seu filho. Se se sente triste ou deprimido, se está a aprender de forma adequada (a proximidade com o professor é importante), se existem problemas de comportamento na escola, se demonstra interesse e aparenta motivação. «No caso da criança revelar mal-estar ou se tiver problemas na aprendizagem ou comportamento deve procurar o pediatra ou marcar uma consulta de psicologia de desenvolvimento», recomenda Mónica Pinto.
Os trabalhos de casa
Em casa, é indispensável cumprir uma rotina de estudos. «O número de horas por dia vai depender do trabalho que for feito na escola e do tempo disponível. Mas se a criança acabar as aulas cedo, uma hora é suficiente», refere a pediatra. Ao fim de semana, os pais estão mais disponíveis e, para facilitar o processo, poderão ajustar o que não foi possível realizar durante a semana.
Isto sem esquecer, como sublinha a pediatra, que «é importante que a criança tenha tempo para tudo», alerta. Em relação ao estudo acompanhado, a especialista defende que os pais devem ajudar nos primeiros anos mas, alerta contudo que «isso não significa fazer os trabalhos por eles, mas apoiar e esclarecer as suas dúvidas». Um erro que muitos pais tendem a cometer nos dias que correm.
Como gerir as atividades extracurriculares
De acordo com Nelson Lima, neuropsicólogo, entre os cinco e os dez anos, é importante que a criança se envolva em atividades nas quais se sinta mais feliz e enquadrada, pondo de parte outras que não se justifiquem, até porque o tempo livre escasseia. Nesta fase, afirma o especialista, «é útil mantê-la próxima do mundo criativo das artes, especialmente das disciplinas que a atraem mais, como pintura, escultura, escrita criativa ou outras atividades do género».
Mais tarde, a partir dos dez anos e durante a adolescência, as atividades que se sugerem como estimuladoras da inteligência e do desenvolvimento psicológico são, em geral, as artísticas, desportivas e intelectuais, como a escrita ou a leitura, por exemplo. «Se a criança revelar um talento específico deve ser apoiada, inscrevendo-a num clube, numa academia ou em outras instituições onde possa enriquecer a sua vocação», aconselha.
Estimular a inteligência
O desenvolvimento cognitivo é uma área fulcral do desenvolvimento da criança. E os pais podem ter um papel relevante. Até ao nascimento, os fatores genéticos são responsáveis pelas estruturas cognitivas básicas que servem como ponto de partida para as etapas seguintes. Nestas, «a estimulação mental, a cultura, a educação, a alimentação, o sono, o ambiente familiar e a afetividade têm um papel extremamente importante», explica o neuropsicólogo.
«Podem ser decisivos», justifica mesmo o especialista. Motivar o seu filho para a leitura, conversar com ele sobre notícias, programas, levá-lo a visitar exposições e habituá-lo a ler, desde cedo, revistas e a folhear jornais são exemplos de hábitos simples que podem aguçar a sua inteligência. Lê-los no tablet ou no telemóvel é outra opção, ainda que menos vantajosa do que as anteriores.
Chegaram as notas
Outro motivo recorrente de preocupação para os pais é a forma como hão de lidar com as notas baixas e o mau comportamento. «É importante que se mostre feliz quando ele apresenta boas notas e que não reforce os resultados menos bons», aconselha Mónica Pinto.
Segundo esta especialista, «se o seu filho sentir que vos desapontou, fica com medo de errar de novo e de não ser capaz. Ajude-o nas dificuldades e valorize o que é bom, fazendo-o sentir que é capaz». No que toca ao comportamento, «deverá ser firme nas regras de boa educação, dando o exemplo. Não grite, não bata, não faça o que não quer que o seu filho faça».
O papel da alimentação
O desempenho escolar é também influenciado pelo tipo de alimentação que a criança tem. Maria Paes Vasconcelos, nutricionista, chama a atenção para a importância da Roda dos Alimentos, sobre a qual o seu filho tanto ouve falar na escola mas, muitas vezes, não vê praticada em casa. «Todos os alimentos são importantes, desde que na quantidade, proporção (muito mais vegetais do que de origem animal) e variedade adequadas», refere.
Quando falamos de alimentos para o cérebro, os ómega-3, ácidos gordos polinsaturados não produzidos pelo organismo, são a grande vedeta. Um estudo realizado por Fernando Gómez-Pinilla, professor de neurocirurgia e ciências fisiológicas da Universidade da Califórnia, nos EUA, concluiu que contribuem para o bom funcionamento do cérebro, potenciando a aprendizagem e a memória.
Além disso, também ajudam a combater situações como a depressão e os transtornos de humor. O melhor de tudo é que são abundantes em alimentos tão populares como o salmão, a sardinha, as nozes e o quivi. Igualmente importante é ter em atenção que o padrão das refeições não deve contemplar intervalos superiores a três ou quatro horas. Os pequenos-almoços e os lanches também não podem ser negligenciáveis.
Texto: Alexandra Pereira com Nelson Lima (neuropsicólogo), Mónica Pinto (pediatra) e Maria Paes Vasconcelos (nutricionista)
Comentários