Cada uma destas frases leva o terapeuta da fala a pensar em caraterísticas diferentes de fala, seja como for há uma caracterização e um classificar de um modo de falar que já é sentido como "não esperado" para a idade. Agora resta saber o que é esperado e até quando se pode esperar?

Se a forma de caracterizar a criança é que é um pouco espanhol a falar, tal leva a pensar que é difícil de descodificar o que a criança diz, quando em comparação com as crianças da mesma idade, um exemplo poderia ser: “o seu sacaco sacanho”[1],até aos 3 anos e meio de idade pode acontecer, mas depois já não!

Mas se a fala da criança é descrita como ele fala um pouco à bebé, então provavelmente há a sensação que o seu desenvolvimento linguístico – em particular a expressão - se encontra aquém do esperado para a idade. As outras crianças da sua idade já “explicam tudo” enquanto ela ainda não o faz, é esperado que esta ‘situação’ se resolva em 6 meses, não é esperado que permaneça sem alteração mais do que 6 meses.

Outra forma frequente de qualificar o modo como a criança fala é um pouco sopinha de massa a falar, isto faz pensar que a produção dos “S’s” e /ou dos “CH’s”, “Z’s” e “J’s” é / são produzidos com a ‘língua entre os dentes’. Se for esse o caso trata-se da distorção de um ou mais som/sons, pois este/s não existe/m na língua portuguesa. Assim, é uma produção que não é de todo esperada.

Em particular aos 5 anos de idade a queixa frequente é que a criança ainda não diz os R’s, o LH, o Z…’ e de repente há muita pressa que a situação seja resolvida, pelo medo do impacto que pode na escrita e na leitura. Os únicos que poderão apenas surgir depois dos 5 anos são o ‘r’ de “caro” e o ‘lh’ de “olho”, todos os outros sons de fala deverão ser sempre produzidos em palavras típicas do vocabulário da criança antes desta idade. E todos devem estar adquiridos antes dos 6 anos.

Jaqueline Carmona
Terapeuta da Fala, Especialização em Perturbações da Fluência, Linguista
jaqueline.carmona@pin.com.pt


[1] “o seu casaco castanho”