Aos olhos de Catarina, cada letra parecia no seu lugar. E tudo fazia sentido no difícil momento da leitura. Apenas para ela. A família estranhava o erro persistente. Chamava a atenção. Havia qualquer coisa na menina de 6 anos que não parecia bem: trocava as palavras e as letras, como se o alfabeto fosse sempre coisa estranha. ​

Em vez de escrever, por exemplo, "esta", substituía-a inconscientemente por "seta", conferindo ao texto um significado que só ela entendia. E tantas vezes olhava para o erro sem o identificar. Era como se vivesse num mundo à parte, onde só valesse o peso da sua esferográfica.  ​

As primeiras dificuldades surgiram quando entrou para o primeiro ciclo. Lembra-se de confundir a palavra "se" por "és", num processo de inversão das letras, muito comum em crianças disléxicas.

"Sentia-me diferente dos meus colegas, recordo-me que ler em voz alta era das piores coisas, fazia-me sentir inferiorizada porque demorava muito tempo a descodificar e a soletrar as palavras".​ Catarina B, agora adulta, lembra tempos difíceis de grande aprendizagem, "chorava muito e sentia-me frustrada porque somava vários erros ortográficos nas composições e ditados". ​

A família percebeu que precisava de ajuda e recorreu ao Centro SEI, "foi um sítio que me transformou não só como aluna, mas também como pessoa, cuidaram de mim e da minha família. É, sem dúvida, mais do que uma clínica. É o braço direito dos pais que, por vezes, se sentem desacreditados. É a mão que se estende para nos ajudar a levantar e a lanterna que nos ilumina quando não vemos o chão".​

Catarina foi diagnosticada com dislexia. Durante 10 anos, dos 6 aos 16, era presença assídua no Centro SEI, em Carcavelos. "Sempre me foi demonstrado que a dislexia não me ia limitar em nada e que, com esforço e trabalho, iria conseguir alcançar os meus objetivos. No SEI aprendia sem vergonha e sem pressa. Consegui ultrapassar as dificuldades de leitura e escrita e tornei-me um indivíduo mais paciente, resiliente e flexivel. Tenho muito orgulho dos profissionais e da envolvente do SEI."​

Aprendeu a lidar com esta disfunção neurológica que se manifesta ao nível da dificuldade de aprendizagem. Não é sinónimo de falta de inteligência. De pouco inteligente Catarina não tem nada. Antes pelo contrário, o seu QI é acima da média. ​

Os anos de acompanhamento no SEI ofereceram-lhe confiança na escrita, na fala e rapidez no raciocínio. Ainda hoje, treina as suas capacidades, tal como lhe ensinaram, "treino a minha capacidade de sintetizar, faço exercícios de memória em frente ao espelho e em voz alta, soletro muitas palavras em silêncio". ​

Catarina, agora com 23 anos, sempre fez da resiliência o seu campo de batalha. Nunca teve medo. Costuma dizer que "dislexia não é sinónimo de "coitadismo". E não é. Aos 23 anos ultrapassou as limitações de outros tempos. "É muito importante termos respeito por nós próprios, aceitarmos as nossas lacunas e olharmos para elas como parte de nós".​

Concluiu a licenciatura em Ciências da Comunicação e tem o mestrado em Gestão de Marketing. ​ É gestora de projetos de formação e Recursos Humanos. ​​"Acredito muito que quem luta sempre vence", conclui.

Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM