Educar um filho é porventura das tarefas mais árduas e desafiantes de uma pessoa.
As crianças são todas diferentes e, por isso, respondem de forma distinta aos mais variados estímulos. Porém, existem pontos em comum que poderão servir-lhe de guia nesta viagem.
Os psicólogos da Let´s Grow, Miguel Botelho de Barros e Rui Nunes da Silva, deixam-lhe algumas indicações...
Quais os principais erros de educação que verificam nos pais?
Todos nós temos um número de soluções limitada, não temos as respostas todas para todas as situações, desse modo torna-se difícil dar sempre a melhor resposta.
O nível de exigência a que os pais estão hoje em dia sujeitos é enorme, a sociedade exige sucesso, as empresas exigem competência e desempenho e a família pede tempo e atenção, não é fácil fazer uma boa gestão de todos estes desafios que muitas vezes nos causam frustração por ser difícil dar boas respostas a todos eles. Pensamos que a maior dificuldades dos pais face aos desafios já referidos se prende com o seu papel de “conter” os seus filhos, aprender a dar o tempo disponível para equilibrar e não transportar para dentro de casa as frustrações e ansiedades que enfrentam no dia a dia.
Os pais, cheios de boas intenções, tentam preparar os seus filhos para os desafios que estes vão enfrentar no futuro, mas criam-lhes uma exagerada pressão que as crianças têm dificuldade em gerir.
Por fim é importante que os pais valorizem os seus filhos pelo que eles são e não passem o tempo a querer que eles sejam iguais ou melhores que o filho do vizinho ou do amigo.
Como é que as exigências (demasiadas?) que se colocam hoje às crianças podem interferir no seu desenvolvimento?

Os tempos das crianças são diferentes, começam a sair de casa para a escola muito novos e isso pode ser visto como um problema, mas por outro lado os pais são mais informados e têm acesso e vivencias diferentes e diversificadas que enriquecem toda a família.
Existem exigências diferentes, perigos diferentes, mas também mais informação e muito mais recursos do que os que existiam há 30 anos atrás quando os pais de hoje nasceram. Continua

O que pensam do facto de actualmente as crianças já não brincarem na rua como antigamente? Como influencia o desenvolvimento da personalidade?

As brincadeiras de rua são transferidas para as escolas e ATL passando a ser mais vigiadas e talvez menos exploratórias, mas no final a socialização acontece de forma diferente mas adaptada aos tempos que vivemos.
É uma evolução normal numa sociedade que se tornou mais protectora e fechada em si.
Temos mais preocupações mas criámos formas de nos sentirmos mais confortáveis garantindo ainda assim que existem momentos para os nossos filhos estabelecerem contacto com outras crianças em espaços de brincadeira.
A presença maioritária de produtos tecnológicos nas brincadeiras não está a ajudar a criar crianças solitárias e menos preparadas para a socialização?

Poderá existir esse risco no entanto o isolamento não é provocado pela tecnologia, mas apenas porque esta é utilizada indevidamente.
É mediático falar de crianças isoladas pela tecnologia, mas não podemos responsabilizar uma máquina pela nossa incapacidade de passar tempo com os filhos.
Sempre existiram crianças desadaptadas que se isolam, é fundamental que os pais partilhem tempo de qualidade com os seus filhos e que os envolvam nas suas vidas.
Se quando chegamos a casa os colocamos em frente da televisão ou do computador porque nos “dá jeito”, não podemos posteriormente estranhar que os nossos filhos passem o tempo com esse tipo de actividades.
Qual a importância das brincadeiras, a sós e em grupo, para o desenvolvimento infantil?

Brincar é descobrir! As crianças descobrem nas brincadeiras muito sobre si mesmas e também do seu papel no mundo, a capacidade de interagir, comunicar, ganhar espaço e não ter medo de estar só, estas competências são fundamentais para que no futuro estas crianças se tornem adultos responsáveis a adaptados.
Brincando, as crianças vão treinar o seu papel no mundo, a partir da simulação, representação e interacção, esta capacidade de “fingir” é o simulador de auto-descoberta e de conhecimento do outro também.
E do desporto?

Deve ser escolhido uma modalidade que compense as dificuldades da criança e que lhe aumente a auto-estima, é importante que a criança sinta prazer no desporto, que faça parte do “Grupo”, nestes desafios e interacção a criança ganha excelentes competências que a vão preparar para desafios futuros. Continua

Vivemos numa sociedade de consumo. Como é que o facto de as crianças hoje em dia terem “tudo” o que querem as pode influenciar?

É fundamental comprar de forma pedagógica sabendo o valor das coisas e não ser comprador compulsivo, quando os pais compensam as ausências com presentes é claro que não estão a ir pelo melhor caminho, mas a publicidade cria uma enorme pressão nos potenciais compradores.
No entanto devemos lembrar-nos de que nem todas as crianças têm “tudo”, mesmo as que aparentemente têm mais do que necessitam não se sentem assim.
É fundamental que as crianças conheçam o valor das “coisas” e que conheçam o “sabor” de um desafio que lhes trouxe um prémio de bom desempenho, todos esses brinquedos são mais valorizados e pedagogicamente mais interessantes.
Qual o grau de rigidez que se deve ter na educação de uma criança?

Se existir risco real para a saúde da criança ou de outros, devemos ser rígidos, por outro lado regras devem sempre existir elas criam conforto a todos inclusive à criança.
Por outro lado os pais devem deixar os seus filhos explorar o mundo, é fundamental para o seu desenvolvimento equilibrado a procura de respostas, cometer erros e procurar soluções é experimentação que os ajuda a crescer.
A disciplina deve ser imposta desde bebé?

É fundamental que existam regras, as crianças perdem-se sem elas, não devemos duvidar que as regras criam conforto nas crianças e ajudam a balizar o seu mundo.
“Impor” é agressivo, as regras existem e devem ser cumpridas, temos obrigação de fazer evidência delas pelo exemplo, assim vamos impor menos e mostrar mais, as regras não podem ser vistas como penalizações e devem ser cumpridas por todos. Continua

Deve dizer-se sempre a verdade aos filhos ou a idade não lhes permite compreender certas situações?

É importante dizer a verdade, mas apenas até onde eles querem saber e não até onde os pais querem contar, existem vários níveis de verdade e devo ir respondendo as questões que a criança coloca e não avançar pelo incompreensível que o adulto tem necessidade de explicar apenas para se sentir confortável.
O que se deve fazer para corrigir comportamentos agressivos de um filho?
Não ser agressivo, conter, acalmar, é fundamental que em situações de alguma agressividade nunca responder na mesma “moeda”, devemos conter a agressividade e dar respostas adaptadas e equilibradas.
A negociação com o filho é uma boa estratégia ou é sinal de cedência e fraqueza dos pais?

A negociação mostra que os pais sabem do que falam e conseguem argumentar, melhora a percepção de justiça, não é uma autoridade imposta mas sim construída.
Os pais são capazes de ouvir e de explicar aos filhos as suas razões, desta forma as crianças vão treinando essas competências, que serão ferramentas fundamentais para o seu saudável crescimento. Continua

Consideram que deve haver delegação de tarefas domésticas junto das crianças ou estas apenas têm de se preocupar em estudar e brincar?

Se os pais querem que os seus filhos sejam elementos plenos da família é fundamental que ajudem a criar envolvimento e as tarefas domésticas podem ser uma excelente ferramenta para a coesão familiar.
O envolvimento e partilha de responsabilidade é muito importante para todos, dando às crianças um enorme reforço na sua auto-estima.
No entanto esta delegação deve estar bem adaptada às capacidades de cada idade, ou corremos o risco de provocar “acidentes”.
Devemos experimentar estabelecer objectivos exequíveis mas desafiantes, cada conquista é um reforço positivo e uma excelente ferramenta de desenvolvimento.
De forma sintética, qual o modelo de educação que defendem? Ou seja, quais os pontos-chave que os pais devem ter sempre em mente?

Vamos tentar ser o mais sintético possível, mas é muito difícil dada a complexidade do tema, por isso em vez de identificar um modelo vamos identificar algumas das atitudes que fazem a diferença.
Os pais devem: 1. Dar o exemplo
2. Conter
3. Responsabilizar
4. Criar limites
5. Dar tempo
6. Respeitar a individualidade
7. Motivar
8. Reforçar
9. Estimular
10. Negociar
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