Mal-estar, falta de apetite, vontade de urinar a toda hora e um desconforto imenso na hora de fazer xixi. Mesmo que o seu filho nunca se tenha queixado, é bom saber que infeção urinária é um problema mais comum do que se imagina. Estima-se que cerca de oito por cento das meninas e dois por cento dos meninos apresentarão ao menos um episódio do género até aos oito anos de idade. Nos lactentes, esse é o tipo de contaminação bacteriana mais comum e um dos mais frequentes.

 

Por que as crianças são tão vulneráveis?

«Uma das explicações é que o trato urinário das crianças ainda está a desenvolver-se e isso pode facilitar a entrada e a proliferação dos microrganismos», responde a nefrologista Elisa Vargas.

 

No momento do desfralde, o risco aumenta ainda mais, pois grande parte das crianças tem dificuldade em estabelecer uma rotina para ir à casa de banho e acaba por reter a urina por muito tempo, o que favorece o aparecimento do problema.

 

A boa notícia é que um reforço na dieta, aliado a certas precauções no momento de mudar a fralda ou fazer a higiene dos maiores depois de usarem o bacio ou a sanita, representam boas oportunidades de manter a ameaça afastada.

 

Conheça em detalhe como o incómodo aparece e o que é preciso fazer para afastá-lo.

1. O que é a infeção urinária? Que órgãos afeta?

A doença ocorre quando microrganismos penetram e se multiplicam no trato urinário, afetando principalmente a uretra, canal que escoa a urina, a bexiga, responsável por armazená-la, e os rins. O problema recebe nomes diferentes dependendo do órgão que atinge: uretrite, cistite ou pielonefrite, respetivamente.

As principais responsáveis pela doença são bactérias que vêm do intestino por meio das fezes – especialmente a Escherichia coli, que está por trás de 85 a 90 por cento dos episódios. Mas alguns fungos e vírus também podem desencadeá-la, em casos mais raros.

 

2. Quais são os sintomas?

Nos bebés, os pais devem ficar atentos a indícios como abrandamento no ganho de peso, falta de apetite, alterações do sono, irritabilidade, choro constante, especialmente ligado ao momento de urinar, aumento na frequência das micções e febre sem razão aparente. Também é bom ficar de olho em alterações na cor e no cheiro da urina.

Se o seu filho já passou pelo desfralde, desconfie do problema caso se queixe de dificuldade ou dor na hora de fazer xixi, urine com mais frequência e em pequenas quantidades, precise ir com urgência à casa de banho e, em alguns casos, acabe por molhar as cuecas antes de chegar à sanita. Dores no abdómen, nas costas e febre merecem atenção.

 

3. Por que o problema é mais comum em meninos nos primeiros meses de vida? E passa a ser mais frequente em meninas à medida que a idade avança?

Os rapazes nascem com a pele da ponta do pénis mais fechada, dificultando a sua retração, o que facilita a adesão das bactérias. Com o passar do tempo, abre-se sozinha e o risco diminui. Além disso, alguns problemas de malformações congénitas que dificultam o escoamento da urina são mais comuns no género masculino – e leva algum tempo, após o nascimento, para que sejam diagnosticados e tratados. Passado o primeiro ano, a incidência de infeção urinária nas meninas dispara, chegando a ser duas vezes mais comum entre elas, por razões anatómicas. Isto porque a uretra feminina é mais curta e a sua saída fica próxima do ânus, o que contribui com o deslocamento de micróbios até ao trato urinário.

Pais e educadores devem ter em mente que o pico de incidência desse tipo de infeção na infância acontece por volta dos 3 e 4 anos, quando a criança já deixou a fralda e pode reter urina, o que favorece a proliferação de bactérias.

 

4. Como prevenir

Na fase das fraldas, as mudas frequentes são essenciais. Nas meninas, a limpeza deve ser feita invariavelmente da frente para trás, tanto nas que ainda não desfraldaram quanto nas que já usam a sanita. Este é um hábito que deve ser seguido durante toda a vida. Também é importante que não reste nenhum pedaço de papel higiénico preso aos órgãos genitais.

Estimular a criança a ir à casa de banho pelo menos a cada três horas, em média, é outro cuidado importantíssimo. Acumular urina na bexiga durante longos períodos é um prato cheio para as bactérias. Por isso, verifique se o seu filho está relaxado e bem posicionado sobre a sanita, para que elimine todo o xixi. Um apoio para os pés é bem-vindo para aumentar o conforto.

Melhorar a alimentação também conta muito. É necessário que a criança beba bastantes líquidos e que a dieta seja saudável e bem equilibrada, com frutas, verduras, legumes, peixe, carne e laticínios, o que fortalece as defesas do corpo. Sem contar que uma dieta equilibrada fornece a quantidade de fibras necessária para manter um bom trânsito intestinal. E os especialistas já sabem que a prisão de ventre aumenta os riscos de infeção urinária, uma vez que as fezes não são eliminadas como deveriam, favorecendo o acumular de germes.

5. Como é feito o diagnóstico? E o tratamento? 

A infeção é confirmada por meio de uma análise à urina. Algumas horas depois da colheita, o médico já consegue saber se há ou não contaminação. Se o resultado for positivo, é receitado um antibiótico oral de largo espectro, ou seja, capaz de combater diversas espécies bacterianas.

No entanto, só após alguns dias é que o especialista conseguirá saber exatamente qual o responsável exato pela infeção. É quando chega o resultado da urocultura, um teste que consiste em deixar a urina num meio apropriado para induzir a multiplicação de bactérias e, assim, identificá-las. Com este resultado nas mãos, o médico avalia se fez a melhor escolha ou se é preciso mudar o medicamento.

Se os sintomas forem muito intensos ou se a criança apresentar vários casos de infeção em curtos intervalos temporais, há a necessidade de uma investigação mais profunda para detetar a origem do problema, que pode ser uma bactéria mais resistente ou alterações anatómicas que causam refluxo urinário, entre outros problemas.

 

6. Quais podem ser as complicações?

Se a infeção for detetada e tratada da maneira correta desde o início, costuma ser contornada sem maiores transtornos. Em caso contrário, os micróbios podem chegar até os rins. Aí existe a probabilidade de entrarem na corrente sanguínea e de se espalharem pelo organismo, desencadeando infeções graves. Esta complicação, porém, não é comum.

Há também um risco pequeno de ficarem cicatrizes nos rins, que podem culminar em doença renal crónica ou hipertensão arterial na vida adulta.

 

7. O que fazer em caso de infeções recorrentes?

O primeiro passo é seguir todos os cuidados preventivos descritos anteriormente. Cabe ao médico fazer uma análise minuciosa para descobrir o que está a provocar a repetição do quadro e, se necessário, prescrever o uso de medicamentos, como antibióticos, ou mesmo cirurgia, para corrigir eventuais anomalias que estejam por trás da doença.

Quando a Escherichia coli é a responsável pelas crises, pode ser receitada uma vacina.

Por fim, alguns especialistas indicam a ingestão de sumo de arando vermelho americano (cranberry, em inglês), um fruto que, segundo algumas investigações, dificulta a adesão de bactérias à parede da bexiga. Mas o seu uso em crianças é controverso e requer acompanhamento médico.

 

 

Maria João Pratt

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