Ao contrário do que possa pensar, muitos bebés adormecem ao colo e não têm mais despertares por causa disso. Naqueles que têm, porque quando acordam a meio da noite lhes falta o colo em que adormeceram, então há outras estratégias que não passam por “treinar o bebé” para “adormecer sozinho” vendo o choro como um passo “necessário” do processo.
O choro dos bebés é um sinal de alerta, um pedido de ajuda. Usar o choro para “ensinar a dormir” usando o argumento de que “também tiramos um objecto perigoso da mão do bebé mesmo que ele chore” não faz sentido.
Precisar de colo, contacto físico, ou presença do cuidador para adormecer não coloca em risco a vida do bebé. Muito pelo contrário, pode ser um factor importantíssimo para a sua regulação, física e emocional.
Pensemos então no porquê de se usarem comparações com situações efectivamente perigosas para o bebé, quando se tenta motivar os pais para seguirem estes métodos.
A britânica Margot Sunderland, autora premiada e especialista em Saúde Mental Infantil reconhecida a nível mundial, acredita que é possível treinar um bebé, mas explica que isso implica quase sempre treinar também os pais a ignorarem os seus instintos. Estes métodos procuram actuar nas duas vertentes.
No apelo aos pais para que ensinem o seu bebé a dormir ou que apliquem “hábitos preventivos”, contam-se “histórias de terror” de bebés que acordam de meia em meia hora ou que só dormem com a máquina de lavar ligada, ou de pais que dormem separados há anos.
Quem é o pai ou mãe que não fica assustado?
Que não fica disposto a tudo para prevenir chegar a este ponto?
Todos nós, arriscamos dizer.
Mas vamos falar verdade.
É assim tão dramático na maioria das casas? Não, não é.
A maioria das famílias tem bebés sem nenhum outro problema que não o facto de serem bebés, com o grau de disponibilidade que isso implica por parte dos pais.
É assim em algumas? Sim.
Há famílias verdadeiramente em crise. Em muitas delas o sono é apenas uma parte da questão. Ou porque a expectativa em relação ao sono do bebé é demasiada elevada ou porque a noite estará porventura a ser não mais que um reflexo de outras situações que afectem o bebé e os pais. São precisamente essas famílias que mais precisam de uma rede de suporte, de auto confiança e de estratégias que fundamentem e suportem graus de compreensão e empatia mútuos. Talvez essas famílias, para se salvarem a si mesmas, estejam dispostas a tudo. Mas quem os acompanha não deveria estar. Deveria ajudá-los a encontrar estratégias que passem pelo autoconhecimento, o entendimento familiar e não partir do princípio de que o problema está sempre no bebé.
Em alguns casos, é necessário ajudar a mãe ou o pai a procurar ajuda. Um sono perturbado no bebé pode ser reflexo de alguma desregulação emocional num dos elementos da família. E aí, quem os acompanha, tem o dever ético de encaminhar a situação para um técnico de saúde mental para avaliação.
Um bebé exposto a uma desregulação emocional da mãe ou do pai, terá ele próprio dificuldades em regular-se nas suas necessidades básicas, sendo o sono uma delas.
Quando nos colocamos na verdadeira disposição de escutar, será sempre possível encontrar formas de promover um maior entendimento e repouso familiar, atendendo às necessidades de todos.
Porque ninguém, em idade nenhuma, merece adormecer a chorar.
Autoras:
Constança Ferreira, Terapeuta de Bebés
Mariana Cordeiro Ferreira, Psicóloga Clínica
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