Há cada vez mais casais que se queixam de perda de qualidade do sono no leito conjugal. As principais queixas que recebo dos meus doentes que dormem com um parceiro incluem o ressonar (ou roncopatia, para usar o termo técnico), movimentos constantes durante o sono, horários de sono incompatíveis e até mesmo a temperatura do quarto. O ressonar é, sem dúvida, o campeão das queixas, sendo responsável por muitas noites mal dormidas e olheiras matinais. Muitos doentes referem que acordam frequentemente devido ao barulho do parceiro, o que leva a um sono fragmentado e de má qualidade. Esta situação pode causar irritabilidade, cansaço durante o dia e até problemas na relação.
Nestas circunstâncias, aconselho que os casais durmam em quartos separados. Esta prática, conhecida como "divórcio do sono", pode ser uma solução eficaz para melhorar a qualidade do sono de ambos os parceiros. Dormir em quartos separados pode evitar interrupções no sono de quem não ressona, permitindo um descanso mais profundo e reparador. No entanto, é crucial que esta medida não seja vista como a solução final. É fundamental diagnosticar e tratar as causas do ressonar, para garantir que o parceiro que ressona também tenha um sono saudável. O "divórcio do sono" pode ser um alívio temporário, mas o acompanhamento médico e o tratamento adequado são essenciais para resolver o problema de forma definitiva.
A prática de dormir em camas ou quartos separados tem raízes históricas profundas. Na Roma Antiga, era comum que os casais de classes mais altas tivessem quartos separados para garantir um sono tranquilo e preservar a saúde. Durante a era Vitoriana, a prática continuou, com muitos casais optando por camas separadas como um sinal de status e higiene. No início do século XX, a ideia de camas separadas era promovida como uma forma de manter a saúde e a moralidade. No entanto, com o tempo, a prática foi perdendo popularidade, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando a intimidade conjugal passou a ser mais valorizada. Recentemente, a tendência tem ressurgido, com muitos casais modernos reconhecendo os benefícios de um sono de qualidade e optando por quartos separados para melhorar a saúde e o bem-estar.
Uma preocupação comum entre os casais que consideram dormir em quartos separados é a possível perda de intimidade. No entanto, muitos especialistas sugerem que a qualidade do relacionamento pode, na verdade, melhorar com um sono adequado. Casais que dormem bem tendem a ser mais pacientes, menos irritáveis e mais dispostos a passar tempo de qualidade juntos.
Além disso, a separação dos quartos não significa necessariamente a perda de momentos íntimos; os casais podem encontrar outras formas de manter a conexão emocional e física, como passar tempo juntos antes de dormir.
Um artigo do médico Marco Menezes Peres, otorrinolaringologista no Hospital Lusíadas Lisboa.
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