Nos tempos dos nossos avós e bisavós, em que as fraldas eram maioritariamente de pano, evitar que a urina e as fezes do bebé viessem para fora era, a par do receio com as assaduras, uma das principais preocupações dos pais. Nos dias que correm, em que os bebés gastam, em média, cerca de 140 fraldas por mês, a inquietação é outra. «Ao escolher uma fralda, os pais têm em conta, por esta ordem, o fator da absorção, os benefícios para a pele do bebé e a comodidade para as crianças», assegura o cientista venezuelano Elio Estévez, responsável pela comunicação científica da Procter & Gamble, empresa que, entre outras marcas, desenvolve, fabrica e comercializa a marca Dodot. «A disposição dos vários elementos que as integram não é aleatória», complementa Antonio Medina, chefe de qualidade da fabrica do grupo em Jijona, Espanha, onde são produzidas todas as fraldas da marca vendidas na Península Ibérica.
Em média, por noite, um bebé produz cerca de 300 mililitros de urina, uma quantidade que a maioria das fraldas comercializadas hoje em dia absorve facilmente, sobretudo as das gamas mais premium. No seu núcleo, cada uma delas integra uma quantidade considerável de micro-pérolas capazes de absorver 30 vezes o seu peso, uma capacidade bastante superior às que eram vendidas no final do século passado. Além dessas, a nova geração de fraldas inclui ainda, geralmente, «entre a 20 materiais distintos», explica Elio Estévez, «que têm de ser combinados perfeitamente», cumprindo «cerca de 5.000 parâmetros», esclarece, para garantir a capacidade de absorção que os pais procuram.
Para assegurar a proteção da pele dos recém-nascidos e dos bebés maiores, são permanentemente feitos rigorosos testes em laboratório, como os que a Prevenir, o único órgão de comunicação social português convidado para uma visita à fábrica da Dodot nos arredores de Alicante, teve a oportunidade de assistir. Um deles prende-se com os elásticos das fraldas, que são esticados por uma máquina até ao limite para avaliar o seu grau de resistência e flexibilidade. A partir do momento em que os bebés começam a andar, o grau de movimentação é maior e há que garantir que os dispositivos não se abrem e que a urina e as fezes do bebé não vêm para fora.
As diferenças entre o modo de urinar deles e delas
Nos últimos anos, para assegurar uma maior proteção da epiderme dos mais pequenos, muitos destes produtos de higiene íntima infantil passaram a incluir uma loção que hidrata e mantém a pele do bebé seca, como comprova outro dos testes laboratoriais demonstrados. No local de uma folha onde foi aplicado o produto, depois de vertido um líquido com características próximas da da urina dos bebés, surge um espaço seco, como também ficará o rabo do bebé. As fibras das diferentes camadas que formam uma fralda também são, hoje, diferentes. Além de já não integrarem celulose, os vários componentes apresentam texturas, grossuras e materiais distintos, até porque, em função do tamanho, da idade e até do sexo da criança, existem pormenores que podem fazer toda a diferença.
«Os rapazes fazem chichi para a frente. O das meninas sai para o meio. Precisamos de ter aqui elementos que distribuam todo o líquido pela fralda para não o concentrar numa única região. Com a caca líquida passa-se o mesmo. Também tem de ser distribuída», explica Elio Estévez. Muito do material usado no produto inclui tecidos que abrem micro-poros que permitem que o ar circule sem libertar líquido. «Desta forma, a temperatura e a humidade passam a assemelhar-se mais às do exterior, protegendo a epiderme do bebé», assegura o especialista, que acompanha muitas vezes o batalhão de testes que são realizados na fase de desenvolvimento do produto e na fase de fabrico.
Durante o processo de produção, todas as fraldas que são produzidas são fotografadas por uma das máquinas que integram a cadeia de fabrico. No caso de ser detetada alguma irregularidade ou inconformidade, estas são imediatamente expulsas da linha de montagem, não sendo sequer utilizadas pelos filhos dos funcionários da empresa. «Vão para um centro para os diferentes componentes serem reciclados», assegura Carlos Goméz, diretor da fábrica. Depois de superar todos os testes de qualidade, as fraldas são ainda submetidas a um detetor de metais antes de serem embaladas, para garantir os padrões de exigência e de qualidade da marca. «Não contêm nenhum elemento que seja tóxico», orgulha-se Elio Estévez.
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O investimento permanente em inovação
A inovação é, nos dias que correm, um fator-chave dos novos lançamentos das marcas. Em média, anualmente, a Protecter & Gamble investe cerca de 20 milhões de euros em estudos laboratoriais. As novas descobertas são depois introduzidas nos produtos das gamas mais altas da marca. «Todas as alterações ocorrem a este nível. A gama mais básica da Dodot não integra todas as inovações tecnológicas da marca mas a qualidade é a mesma», garante Chema Martín, responsável pela comunicação do produto. A resistência e a qualidade dos materiais e dos componentes utilizados é que varia. A ideia é disponibilizar uma versão mais acessível do produto para famílias com menos posses.
Na fábrica da Dodot em Jijona, construída em 2001, são fabricadas cerca de 1.000 fraldas por minuto. As que ali são feitas podem ter seis tamanhos. «Têm geralmente três elásticos nas pernas e dois na barriga, além de todas as camadas absorventes e protetoras. São entre 20 e 30 materiais distintos que têm de ser combinados perfeitamente. A disposição dos vários elementos não é aleatória. Estamos a falar de ajustes que têm de ser feitos ao milímetro», elucida Antonio Medina, chefe de qualidade da fábrica, onde trabalham cerca de 400 pessoas. Metade são mulheres.
Os (muitos) bebés que servem de cobaia
Desde o lançamento da sua primeira fralda em 1971, a Dodot, que nalguns países é comercializada sob o nome de Pampers, tem estado na vanguarda da inovação. Nesse ano, introduziu no mercado a primeira fralda descartável com faixas adesivas, que melhorou logo em 1976. Em 1988, surpreendia com Dodot Seco Total, os primeiros produtos de higiene íntima com material super absorvente. Em 2001, lançou Dodot Etapas, as primeiras fraldas com ajustamento elástico e, em 2014, apresentou a tecnologia Dry&adapt, sem celulose, que possibilitou o lançamento de uma fralda 20% mais fina com uma capacidade de absorção reforçada.
Em 2015, além de um produto que permite que o bebé se mantenha seco durante 12 horas, a empresa continua a desenvolver protótipos nos quatro centros de investigação e desenvolvimento que mantém nos EUA, na Alemanha, na Venezuela e na China. Antes de iniciar a comercialização da tecnologia Dry&adapt, por exemplo, a empresa realizou mais de 300.000 testes em cerca de 20.000 bebés. E o laboratório alemão, localizado em Schwalbach, nos arredores de Frankfurt, recebe semanalmente a visita de 1.200 casais que testam uma média de 50.000 fraldas, numa busca incessante pela fralda perfeita.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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