Se o seu bebé desenvolver descamações ou vermelhidão na pele, não desespere. Não tem uma doença grave, mas sim dermatite atópica!

Muito mais incómoda do que perigosa, a dermatite atópica (também designada eczema atópico) é uma patologia comum.

Em Portugal, dez por cento das crianças são afetadas, mas apenas um a dois por cento sofre de queixas graves. Trata-se de uma reação exagerada do sistema imunitário face ao contacto com substâncias ou circunstâncias consideradas inofensivas pelo resto da população. Ao contrário do que se pensa, e que em muito contribui para o preconceito que envolve este problema, não tem qualquer característica contagiosa.

Primeiros sinais

«Não há eczema sem comichão», começa por explicar Mário Morais de Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica. Perante um agente que considera agressor, o organismo provoca a secura da pele, com uma consequente e intensa comichão (sentida tanto de dia como de noite), vermelhidão e uma possível secreção de líquido e descamação.

Os sintomas surgem, em 80 por cento dos casos, aos dois ou três meses de vida. As áreas mais afetadas «dependem da idade do paciente, sendo as mais comuns: os punhos, a parte anterior dos braços, a parte de trás dos joelhos e a frente dos cotovelos, a face (atrás das orelhas, nas pálpebras e região peri-labial), o pescoço, os pés e as mãos», enumera o especialista.

A origem do problema

Não se conhecem as causas desta inflamação, mas sabe-se que pode ser desencadeada por «fatores genéticos (cerca de 70 por cento dos indivíduos afetados tem antecedentes familiares da doença), ambientais (ácaros, pólens, animais e alterações de temperatura), emocionais, alimentos (como o trigo, frutos secos, peixes e mariscos, responsáveis por dez a 20 por cento dos casos), substâncias que provocam irritação cutânea (vestuário e produtos de higiene) e a própria estrutura da pele», esclarece Mário Morais de Almeida.

Dado tratar-se de uma consequência da fragilização do sistema imunitário, não é de estranhar que quem padece de dermatite atópica possa também sofrer de outras alergias, nomeadamente respiratórias como a febre dos fenos ou a asma. De facto, estima-se que cerca de 30 por cento das pessoas com eczema atópico têm asma ou rinite alérgica e 15 por cento têm surtos de urticária.

Sem preconceito

Embora surja nos primeiros meses de vida a dermatite atópica pode prolongar-se durante anos.

«Antigamente a doença tinha tendência para desaparecer com a idade mas, hoje em dia, devido aos fatores ambientais, assiste-se a uma maior persistência até à idade adulta», esclarece Mário Morais de Almeida.

Esta manutenção do problema acaba por ter uma influência muito grande no dia a dia dos pacientes. «Embora não se trate de uma patologia contagiosa, o eczema perturba significativamente a qualidade de vida de quem dele padece não só porque ainda existe algum preconceito social face à doença, como também pelas implicações que tem na autoestima dos afetados», conclui o especialista.

Contra-ataque

Uma vez que, até ao momento, a ciência não encontrou a cura para a dermatite atópica, a estratégia passa por minimizar os sintomas no dia a dia.

Para tal, a hidratação é fundamental. Mário Morais de Almeida deixa alguns conselhos. «Diminua o número de banhos, evite limpar excessivamente a pele a seguir ao banho (utilizar uma toalha de algodão suave será o ideal) e aplique um hidratante logo após o banho para evitar a evaporação da água e a secura da pele». Quanto aos produtos a usar, deve «escolher emolientes ricos em ácidos gordos e usar apenas produtos de higiene que não sejam agressivos», recomenda o presidente da Presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.

Soluções anti-crise

Medidas práticas para controlar as reações cutâneas:

- Evite roupas de tecidos sintéticos, fibras e com estampados.

- Corte as etiquetas do vestuário.

- Controle o nível de pó em casa.

- Siga a medicação prescrita pelo médico (anti-histamínicos para controlar a comichão e
anti-inflamatórios em creme ou pomada de aplicação local).

Sabia que...
Quem tem dermatite atópica sofre também de outras alergias, como a febre dos fenos, asma ou rinite alérgica.

Texto: Sandra Diogo com Mário Morais de Almeida (imunoalergologista)