Para a grande maioria, as nossas vidas envolvem uma série de padrões – rotinas que realizamos quase todos os dias, como tomar café no mesmo local todos os dias. O mesmo se passa com os bebés e as crianças até aos três anos. Embora tenhamos uma participação na criação de rotinas na vida dos nossos filhos, talvez não tenhamos a noção absoluta do papel que tais rotinas têm no desenvolvimento das crianças.

As rotinas ajudam os bebés e as crianças pequenas a aprender a auto-controlar-se. Rotinas consistentes, actividades que ocorrem todos os dias mais ou menos da mesma forma, proporcionam conforto e segurança às crianças pequenas. Quer se trate da hora da brincadeira, da hora do lanche ou da hora do pai ou da mãe voltar a casa, saber o que se vai passar dá aos bebés e às crianças pequenas uma sensação de segurança e estabilidade emocional.

Ajuda-os a confiar nos adultos que irão atender às suas necessidades. Quando as crianças têm esta sensação de confiança e segurança, ficam mais livres para o seu “trabalho”, ou seja brincar, explorar e aprender.

As rotinas podem aproximá-la mais do seu filho e reduzir as lutas de poder. As rotinas estáveis ajudam os bebés e as crianças pequenas a antecipar o que vai acontecer em seguida. Isto proporciona à criança uma sensação de segurança e também de controlo, como quando os pais dizem: “Está na hora de ir para a caminha. Queres lavar os dentes agora ou depois de vestir o pijama?”

As rotinas podem também limitar a quantidade de “nãos” e as correcções ao comportamento necessárias ao longo do dia, uma vez que a criança consegue prever melhor o que vai acontecer em seguida: “Sei que queres uma bolacha. Mas agora está na hora de arrumar. Já sabes, depois de arrumar, está na hora do lanche.”

As rotinas orientam o comportamento positivo e a segurança. As rotinas são como as instruções – guiam as acções da criança para um objectivo específico. As rotinas podem também ser utilizadas por muitos motivos, mas os dois mais importantes são garantir a saúde e a segurança da criança e ajudar a criança a ter um comportamento positivo e responsável. Por exemplo, as crianças lavam as mãos antes de comer ou devem dar a mão a um adulto quando atravessam a estrada. Eis outro exemplo:

Jorge, com dois anos, adora brincar com os seus camiões enquanto a mãe dá de comer à irmã mais pequena, Ana. Quando a mãe termina, está na hora de ir buscar o pai à paragem do autocarro. Os camiões devem estar todos arrumados na caixa antes de saírem. A mãe avisa o Jorge de que está na hora de arrumar tocando uma campainha especial e dizendo, "Muito bem, Sr. motorista, está na hora de estacionar os camiões na garagem." Jorge conduz os camiões um a um através de uma prancha e coloca-os na caixa. Fazem isto todos os dias e assim, Jorge sabe sempre que irá encontrar os seus camiões onde os deixou — na caixa. Sabe também que depois de guardar os camiões, irá ver o pai, o que o deixa sempre muito contente.

Veja na próxima página como as rotinas ajudam a desenvolver as capacidades sociais da criança

As rotinas ajudam a desenvolver as capacidades sociais da criança. À medida que os bebés crescem, entram em contacto com outras pessoas e começam a aprender padrões e rotinas de interacção social. Dizer, olá, adeus e falar com outras pessoas são bons exemplos de interacções de rotina que desenvolvem as capacidades sociais. Estas interacções representam também oportunidades de ajudar o seu filho a desenvolver as capacidades linguísticas.

As horas de brincadeira e das refeições são duas rotinas que constituem momentos sociais, quer para as crianças, quer para os pais. Através da conversação, de alternar acções, partilhar brinquedos, aprender a esperar e ajudar os outros durante estas actividades, as crianças pequenas aprendem capacidades sociais importantes que as ajudarão mais tarde na escola.

As rotinas ajudam as crianças a lidar com as transições. Dependendo do temperamento do seu filho, a transição entre actividades pode ser simples ou mais difícil. Passar da brincadeira para o almoço, do almoço para as compras, das compras para casa...e em particular a transição para a hora de dormir pode ser um verdadeiro desafio.

As rotinas (como as rotinas da hora de dormir) podem ajudar a facilitar as transições. Alguns pais utilizam um despertador ou um pré-aviso de “5 minutos” para preparar a criança para uma mudança de actividade. Outros utilizam um livro, uma música ou um jogo especial. Os rituais específicos podem também ajudar na transição de um educador para outro, como no seguinte caso:

Todos os dias, Pedro e a mãe contam os degraus até à porta do infantário. Deixam o casaco e o almoço no armário de Pedro. Depois vão até à zona dos brinquedos onde as outras crianças estão a brincar e escolhe um brinquedo. Pedro e a mãe mandam beijinhos um ao outro e a mãe diz-lhe adeus.

As rotinas são também agradáveis para os pais. As rotinas não só tornam as transições mais simples para as crianças como ajudam também os adultos a “entrar” na paternidade. Os primeiros tempos da paternidade podem ser avassaladores e por vezes tornam o casamento tenso. Manter um ritual que venha dos primeiros tempos do casamento (como uma saída para jantar ou umas férias num local especial) pode ajudar. Adicionalmente, manter um ritual especial que venha da sua infância (como um livro que alguém lhe leu, um pequeno-almoço especial aos Sábados) pode facilitar a sua transição de casal para família alargada.

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As rotinas são excelentes oportunidades de aprendizagem. As rotinas diárias são muitas vezes consideradas como actividades de “manutenção”: horas de refeição, fazer recados, preparar-se para ir para a cama, tomar banho. Mas estas acções diárias são excelentes oportunidades para apoiar a aprendizagem e o desenvolvimento do seu filho, sem perder o divertimento. As rotinas possibilitam o desenvolvimento da auto-confiança, da curiosidade, das capacidades sociais, do auto-controlo, das capacidades de comunicação e muito mais. Tomemos como exemplo uma saída para ir às compras:

Maria (de 2 anos) e a mãe percorrem o super-mercado. Maria aponta para as maçãs e a mãe diz, “Olha as maçãs vermelhas e verdes. Parecem mesmo apetitosas.” Pega numa maçã para que Maria lhe possa tocar: “Vês como é macia?” depois pega num saco de plástico e diz para Midori: Podes ajudar-me a escolher algumas para levar para casa?” Juntas, contam cinco maçãs e colocam-nas no saco. Maria tenta ajudar mas as maçãs são difíceis de agarrar! Precisa das duas mãozinhas para colocar uma no saco. “Parabéns!” diz a mãe, “Obrigada pela tua ajuda.”

Aqui, uma simples interacção na secção das frutas abriu as portas à prática das capacidades linguísticas, à alternância de funções, à conversação, à utilização dos sentidos e a conhecer os números. Foi também uma ocasião para incentivar a auto-confiança e auto-estima de Maria, quando a mãe lhe demonstrou que os seus pensamentos e interesses eram importantes. A mãe de Maria demonstrou-lhe ainda que ela é capaz de fazer coisas importantes, como escolher as maçãs e colocá-las no saco.

As rotinas proporcionam dois elementos fundamentais à aprendizagem: relacionamento e repetição. Por isso, aproveite estes momentos “comuns” com o seu filho. Se ele se divertir consigo, também estará a aprender!