As alergias são hereditárias?
Pode ser-se alérgico e não haver outros casos na família. O risco de uma criança se tornar alérgica é de 15 a 20%. Se a mãe for alérgica o risco sobe para 60% e se o pai e a mãe forem alérgicos e tiverem a mesma patologia o risco já sobe para 80%. Por exemplo, se o pai e a mãe tiverem asma brônquica alérgica a possibilidade de o filho vir a contrair a doença é de 80%, mas não é obrigatório que assim seja. Num prato da balança temos a genética e no outro prato o ambiente que pode equilibrar ou desequilibrar o prato.
É fácil perceber que um bebé está a ter uma reação alérgica?
É relativamente fácil. Se o bebé entra numa casa com um gato e fica cheio de comichões no nariz e olhos, borbulhas na cara ou nas mãos, ninguém terá dúvidas. Na alimentação, se se ingere uma comida e pouco depois se fica cheio de comichão, vermelho e por vezes com baba também será fácil diagnosticar uma urticária. Com medicamentos a reação pode aparecer só alguns dias depois.
Se os pais são alérgicos aos ácaros, o nascimento deveria ser planeado para acontecer fora dos meses em que os ácaros se reproduzem
Em que situações é que os pais devem procurar ajuda médica?
O ideal é que os pais possam contactar o seu médico. A ida ao serviço de urgência deve ficar para situações de maior gravidade. No entanto, em situações de asma ou de urticária que não consigam controlar em casa deve-se procurar um serviço de urgência.
Há alguma época do ano mais propensa a alergias no bebé?
No bébé não há épocas preponderantes de alergia. Não viveram primaveras suficientes para serem alérgicos aos pólenes. No inverno as crianças estão mais sujeitas a infeções virais que podem ser o mecanismo de gatilho para desencadear uma reação alérgica. É o caso das bronquiolites. O outono e o inverno são também a época dos ácaros se reproduzirem e de desencadearem ou agravarem alergias respiratórias, nomeadamente rinite e asma brônquica em crianças.
O que provoca mais alergias nas crianças e bebés?
Nos dois primeiros anos de vida predominam as alergias aos alimentos, como leite, ovo, sobretudo a clara, peixe, frutos secos e marisco.
As alergias podem durar para sempre?
As alergias alimentares desaparecem na maior parte dos casos, como acontece com a proteína do leite de vaca. No entanto há casos em que permanecem. As alergias aos pólenes e ácaros habitualmente não desaparecem, mas controlam-se com a medicação.
A partir de que idade é que se podem fazer os testes das alergias?
A partir de qualquer idade.
É possível prevenir as alergias nas crianças e bebés?
O fator genético não se pode prevenir, mas o mês em que a criança nasce pode ter alguma influência. Assim, se os pais são alérgicos aos ácaros, o nascimento deveria ser planeado para acontecer fora dos meses em que os ácaros se reproduzem, ou seja no verão. O mesmo para os pais alérgicos aos pólenes: os filhos não deverão nascer na primavera.
Os animais domésticos se entram em casa aos 9 ou 10 anos podem ser um agente agressor provocando alergias
Muito importante: o fumo do tabaco é um fator desencadeante e agravante de alergias. Mães fumadoras tem filhos com alergias mais precocemente e mais graves do que as não fumadoras. O quarto em que a criança dorme deve ser o mais simples possível, sem tapetes grossos, sem cortinado e sem muitos brinquedos e livros que vão acumular o pó e mais tarde sensibilizarem as crianças.
É possível potenciar o sistema imunitário dos bebés no combate das alergias?
Nesse campo fala-se muito na microbiota intestinal, ou seja, os micróbios que vão colonizar o intestino do recém nascido. Uma criança que nasce por via vaginal vai contagiar-se logo com a flora da mãe e vai ter tendência a ter uma flora que o protege mais. Por outro lado, os antibióticos podem alterar essa flora biológica. Os probióticos e prebióticos podem ajudar imunologicamente no bom sentido.
E em relação aos animais domésticos. Estes podem diminuir ou agravar as alergias?
Os animais domésticos se entram em casa aos 9 ou 10 anos podem ser um agente agressor provocando alergias. Mas se estão em casa desde os primeiros meses de vida, o organismo tolera-os e defende-se, não produzindo alergias aos pelos desses animais tão frequentemente.
As explicações são da médica Natália Ferreira, alergologista pediátrica no Hospital Lusíadas de Lisboa.
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