Longe vão os tempos em que o bebé, a criança, não existia, era uma criatura que não pensava, sem mente, nem emoções próprias, «gente pequena», obrigados a trabalhar até ao limite da sua resistência, ou era um ser essencialmente passivo, centrado na sua atividade alimentar e recebendo tudo do meio envolvente, o lactente, algo puramente funcional.
O bebé e a criança são invenções recentes. Ter filhos envolve um investimento cada vez maior em várias dimensões: financeira, temporal, emocional, social e ao nível das expectativas de desempenho parental, pelo que o número de crianças por família reduziu e a criança passou a ser vista como «sua majestade, o bebé», pequena maravilha, criança-brinquedo, cuja vocação e destino seria satisfazer os pais.
Chegámos ao «bebé parceiro», ativo na interação, capaz de influenciar os cuidados que recebe, de quem ainda assim se desconfia, a energia do bebé é entendida como má porque incomoda, é intempestiva, ou a criança é desastrada, tirana, torcida ou maldosa.
COMPREENDER OS NOSSOS FILHOS
Françoise Dolto, médica e psicanalista, dizia que «a criança é um estranho para o adulto» e que «existe uma igualdade fundamental entre os seres humanos de todas as idades», o que nos coloca perante um paradoxo, uma vez que a interação com o bebé é assimétrica. Ele depende de nós, no período em que o psiquismo se estrutura, o desamparo impera e a necessidade de proteção é fundamental.
Quem não foi alvo, em algum momento, da superioridade dos pais? Alguém questionava: se não bate no seu marido ou na sua melhor amiga, porque bate na sua criança? De facto, o bebé depende não só do nosso corpo de mãe ou de pai mas também, e sobretudo, da qualidade do ser que somos e que, por sua vez, depende da qualidade dos adultos que povoaram a nossa infância.
É hoje aceite que não podemos compreender os nossos filhos se não reatarmos a nossa infância esquecida.
Teresa Abreu
Comentários