Enquanto anda meio mundo a relatar as suas férias e a publicar fotografias dos locais paradisíacos por onde passou, eu confesso que estou com uma espécie de bloqueio mental em relação ao tema. É que, nesta curtíssima semana de férias de que acabei de chegar, tive a minha maior e mais recente revelação: de repente, fiquei velha.
Não sou, nem nunca fui, mulher das típicas férias de “papo para o ar”. Acho muita piada a passar umas horas na praia ou na piscina, mas fazê-lo ininterruptamente durante uma semana seria coisa para me levar a uma qualquer ala de psiquiatria. Por isso, aproveito sempre as benditas horas da digestão e o horário noturno para fazer aquilo que realmente me fascina: conhecer os locais em que me instalo. No entanto, ponham à frente dos meus filhos o Taj Mahal e uma piscina, que das duas uma: ou eles escolheriam imediatamente a piscina, ou fariam logo uma do famoso espelho de água que existe no mausoléu.
Percebe-se então que, assim naquela zona mais recôndita do meu cérebro, me surja pontualmente um arrependimento profundo pelas imensas aulas de natação que os meus filhos frequentaram. Equipados com os seus fatos de banho e óculos de mergulho, eles parecem incorporar a alminha de algum atleta profissional, e passam horas (sim, horas!) a nadar, a mergulhar e a brincar dentro de água. Até que:
- Mãe, anda à água!
À chamada, eu faço invariavelmente um sorriso forçado, levanto-me vagarosamente da espreguiçadeira em que resolvi assentar arraial, e lá vou para o meio das crianças, procurando que não me molhem antes de mergulhar e preparando-me para andar na água a rodopiar com um, a mergulhar com outro e a fazer competições com os outros. Tudo muito normal na vida de qualquer mãe. Mas com uma diferença: eu descobri que já não acho piada a estar na água. E isto, meus amigos, era aquilo que me fazia pensar, há 30 anos, que os meus pais estavam velhos e acabados.
Até há uns tempos, eu era uma verdadeira mulher dos mares. Ir à praia ou à piscina significava que, no final do dia, eu voltaria a casa com o corpo totalmente encarquilhado de tantas horas que havia passado dentro de água. Agora, só lá entro quando sinto o calor já a estalar na minha pele e, ao fim de dez minutos, estou pronta para voltar para o repouso da minha toalha. Mas:
- Mãe, anda à água!
E lá vou eu novamente. Mergulho, nado, salto, brinco. Para, ao fim de alguns minutos, voltar a sentir os meus ossos gelados e a suplicar pelo calor que embalará o meu repouso caduco ou a confortável leitura de um livro. Tal e qual a velhota de 80 anos que, este ano, ocupou a espreguiçadeira mesmo ao lado da minha.
(“parecemos siamesas”, penso.)
Mas, depois, surge o dia em que vamos explorar um parque aquático, e é ver-me, na fúria da adrenalina, a andar, correr, deslizar e brincar durante horas a fio. Aquela toalha tão minha amiga é esquecida num canto do parque e a mísera meia hora em que me digno a parar é apenas para reforçar o estômago com algumas proteínas que me permitam, de mãos dadas com estes filhos destemidos, voltar a explorar os escorregas mais vertiginosos.
(“afinal ainda estou para as curvas”, concluo.)
Mas é quando, precisamente no final deste dia, chegamos ao hotel e eu aterro no sofá, que volto a sentir-me a velhota de peles caídas. O meu cansaço é equivalente ao dos miúdos que, depois de um dia de diversão contínua, adormecem encostados a qualquer canto. Eu serei, aliás, a primeira a atravessar a porta do maravilhoso mundo dos sonhos.
Mudei, portanto. E penso no que as vozes ancestrais afirmam: as crianças fazem-nos velhos. Aliás, a adrenalina delas faz com que tenhamos consciência da fraqueza da nossa. Percebe-se assim o comentário de um dos meus filhos mais novos, ao reparar na aproximação do meu aniversário:
- Vais fazer 40 anos! Isso é quase 100, não é, mãe?
Alda Benamor
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