Sou mãe há quase cinco anos (conto os nove meses da primeira gravidez como maternidade efectiva porque passei a pensar em função da pessoa que me crescia nas entranhas assim que soube da sua existência).

Houve em mim uma noção que sempre foi muito clara desde o início: apesar de ser mãe, preciso de continuar a sentir-me eu. Preciso de manter a minha identidade, a minha maneira de ser e de estar. Preciso de ter tempo para mim, para fazer as coisas de que gosto, para me mimar, para estar em silêncio.

Não me faz sentido anular aquilo que sou porque tenho filhos. E acho que eles não beneficiariam nada com isso. Não descuro o tempo deles, mas aprendi a rentabilizar o meu. O que fazia em duas horas agora faço numa. Aproveito cada bocadinho que tenho para fazer aquilo que gosto, seja ler, escrever, ver televisão, cozinhar ou pintar as unhas.

No fim sinto-me recompensada, sinto-me leve, sinto que consigo aproveitar tudo e que não vivo imersa numa maternidade que se assemelha a um pântano. E os meus filhos são quem mais beneficia disto porque, nos momentos que são deles (e que não são trocados por momentos meus), estou com eles sem sentir que precisava de estar noutro lugar qualquer. Porque, efectivamente, não preciso de estar em mais lado nenhum.

 

Lénia Rufino

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