"João anda cá"
"Joao, já te chamei, vem cá por favor!"
"João, não ouves?"
"É a ultima vez que te chamo!"
Mentira, ainda o chamei mais duas ou três vezes, e ele lá veio contrariado e chateado. Eu já irritada.
O mesmo repetiu-se no dia seguinte e no dia a seguir ao dia seguinte. Aliás, já começava a ser uma constante, chamar e não ter resposta. Esta situação repetiu-se e extrapolou-se de tal forma que comecei a pensar que só poderia haver uma otite silenciosa por detrás. E como o mesmo se replicava não só comigo, mas com o pai, com a avó e com o avô, convenci-me que era mesmo uma daquelas recorrentes otites que já tão bem conhecíamos e que nos visitavam com alguma regularidade.
Estava a chegar a consulta mensal do otorrino, e eu ansiosa para saber de qual ouvido, ou até mesmo se poderia ser dos dois ouvidos, que se tinha instalado a tão insistente e persistente otite.
Certo dia, estava eu na cozinha a acabar um bolo de chocolate, e o João sentado no sofá a ver televisão, com o som alto. Chamei-o uma vez para vir buscar o lanche, e claro, ficou imóvel no sofá. Voltei a chamar segunda vez e nem se mexeu.
O Tomás sentado na sua cadeirinha estava concentrado a ver o que se passava, e com os seus dedinhos gordos apontou para a forma do bolo. "É o bolo de chocolate", disse, em voz baixa.
"Bolo de chocolate?" E nisto, de rompante, entra o furacão João a invadir a cozinha.
Marta Andrade Maia
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