Antes de ter filhos, e quando estava com outras crianças, reparava que algumas não gostavam de cumprimentar os adultos nem muito menos dar um beijinho de despedida. Às vezes presenciava situações algo embaraçosas para os pais, em que muito a custo a criança lá vinha dizer um adeus tímido, ou nos piores casos, os pais justificavam-se dizendo que a criança era tímida entre outras desculpas.
Na altura admito que não percebia bem porque é que as crianças não gostavam de se despedir ou até mesmo cumprimentar, e por vezes até pensei que talvez fossem os pais a não dar a devida importância ao assunto. Era um ato tão simples e fácil, quando se chega a qualquer lugar cumprimenta-se quem já lá está, diz-se um "olá" e dá-se um beijinho. O mesmo repete-se quando se vai embora, diz-se "adeus", e novamente um beijinho de despedida. Achava que as crianças até deveriam gostar de tal ritual, pois normalmente com os beijinhos que recebiam, vinha também um grande e delicioso elogio , " como estás grande", "estás uma senhora!", ou, "estas tão giro!", acompanhado de uma festinha no cabelo ou na cara. Achava que do ponto de vista da criança deveria ser agradável e relativamente simples.
Depois mudei de ideias. E conclui que afinal há muitas crianças que não gostam de cumprimentar nem de se despedir, que os beijinhos são algo muito bem guardado e não é para se gastar assim à toa, e acima de tudo não está diretamente ligado à (não) educação que os pais dão. O João faz questão de provar isto. E dou o braço a torcer, agora percebo o porquê das inúmeras desculpas e justificações que os pais (em vão) dão, o porquê das caras meio envergonhadas e meio chateadas de alguns dos pais, e todas as tentativas goradas de tentar remediar a situação sem que se dê a entender que a criança não quer cumprimentar.
Desde dos seus 2 anos que reparei que o João não era muito beijoqueiro com estranhos, e mesmo não sendo tímido não gostava de cumprimentar ou despedir-se. Nessa altura tinha a desculpa de ainda ser pequenino e de estranhar as pessoas. Mas o tempo foi passando e nada mudava. Confesso que tentámos tudo, várias abordagens ao " "problema" várias estratégias e muitas conversas. Nada mudou, continuava a não gostar de dizer olá nem adeus, e continuávamos a ter momentos mais embaraçosos.
Depois cada pessoa tinha uma teoria e uma solução nova para o "problema". Cada qual era entendido no assunto e dava a sua sentença, mas que, sinceramente, também não adiantou nada. A partir de uma certa altura conseguimos convencê-lo a substituir o dizer olá verbal por um gesto , que funcionou, uma espécie de substituição transitória para a fase verbal. E para nossa alegria houve progressos... Gradualmente a relutância foi desaparecendo, e por vezes lá vinha um "olá" espontâneo e até um (quase) beijinho. Já eram grandes passos para um criança pequena, e nós ficávamos contentes.
Então o que funcionou? Não sei. Não sei se foi a idade, se foi o facto de ter entrado para escola, mas algo mudou. Confesso que ainda não é grande entusiasta do cumprimento e da despedida, e ás vezes até vai algo contrariado, mas pelo menos já o faz sozinho e sem a confusão que era dantes.
Agora quando olho para outras crianças a esconderem a cara para não dar um beijinho, e os pais a esforçarem-se muito para tentar controlar a situação da melhor maneira, já não penso em nada, não faço juízos, nem forço comportamentos. Revejo-me naqueles pais, identifico-me com aquela situação e sei o que eles estão a passar e a pensar. E agora também sei que não faz mal, e com o tempo (ou idade, ou não sei o quê) tudo passa.
Marta Andrade Maia
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