Quando nasce o primeiro filho, é tudo um mundo novo e desconhecido. Vamos apalpando o terreno, quase ás escuras, tentamo-nos lembrar de como a nossa Mãe fazia, e como era quando eramos pequenos para fazer igual. E mesmo assim há sempre tantas (e tantas) coisas que não sabemos.
Nos primeiros dias no hospital, ainda não nos apercebemos da realidade tal como ela é. O bebé é lindo, e dorme muito. Há sempre ajudas para isto ou para aquilo. Há sempre uma voz que nos diz o que é que o bebé tem ou precisa, há sempre alguém que sabe o que é preciso fazer ou ter. Depois vimos para casa, e estamos sozinhos, com aquela criatura maravilhosa, e completamente indefesa. Somos responsáveis por ela, somos tudo para ela. Somos a sua vida e ela a nossa. O sentido de responsabilidade é avassalador, e sentimo-nos inseguros e pequeninos.
O bebé chora. Ainda não conseguimos perceber o porquê do seu choro, apenas que está aflito, e nós também. Não come ou não dorme, e não percebemos. Não sabemos o que estamos a fazer de errado, nem sabemos o que podemos fazer para melhorar. A imposição de novas rotinas e novos horários de sono estão a começar a sentir-se no corpo e na cabeça também. Estamos a ficar mais cansados.
Mas depois, lá pelas 3 da manhã, o bebé presenteia-nos com um sorriso grande e cheio, só para nós. E tudo é esquecido. O cansaço evapora-se, o sono desapareceu, e queremos segurar naqueles momentos para sempre. Eternizar aquele sorriso. Fechar a porta daquele quarto e congelar aquele instante. Sem sabermos como ou porquê, temos mais forças, e rejuvenescemos.
Gradualmente, os dias (e noites) tornam-se mais fáceis, e temos mais segurança. Aprendemos a confiar e a seguir o nosso instinto, que afinal de contas estava era adormecido. Aprendemos a conhecer o nosso bebé, a identificar os choros, a conhecer os seus olhares e as suas rotinas. Sabemos quantas horas precisa de dormir, como gosta de tomar o leite, quantas vezes tem que arrotar antes (a meio, ou depois) do biberão, ou mudar a fralda.
É mesmo um (admirável) mundo novo, cheio de peripécias e receios, inseguranças e medos. Cheio de primeiros momentos, primeiros amores, sentimento de família, de coração cheio. Tudo é uma aventura. O primeiro banho, a primeira noite que dorme mais de 5 horas seguidas, a primeira papa, a primeira sopa, a primeira febre, os primeiros dentes. E ainda demora algum tempo a que a rotina familiar se estabeleça, a conhecerem-se uns aos outros, a criar estabilidade e harmonia em casa .
Com o segundo filho já estamos com mais experiência, e seguramente temos menos receios. Estamos seguros de nós próprios, sabemos o que vem aí, e sabemos o que fazer. Acima de tudo, sabemos que podemos confiar no nosso instinto e que as coisas vão correr bem. Sabemos que mais cedo ou mais tarde o bebé vai começar a dormir melhor, a comer melhor, ou a chorar menos.
Sabemos que se dormir mais é certo que durma melhor, e o inverso também, que se dormir menos, irá também dormir pior. Sabemos quando muda-lo para o seu quarto, e se precisa de mais um cobertor ou meias. Sabemos que por vezes apanham viroses inexplicáveis, e que fazem febre altas. Sabemos quais os champôs e cremes que devemos utilizar, e como ver a temperatura da água do banho sem recorrer ao termómetro. Não ficámos aflitos quando aparecem borbulhinhas à volta da boca, e as cólicas não são eternas. Vemos que se estão a babar muito e sabemos que vêm aí dentes. Sabemos também que os dentes podem trazer consigo diarreias, febres, otites, falta de apetite, tudo o que os pediatras dizem que não tem nada a ver. Sabemos que não faz mal se chorarem mais um pouquinho, ou que não se deve acordar um bebé que dorme.
É apenas um repetir de processos já esquecidos, um aperfeiçoar de mecanismos rotineiros para garantir uma melhor qualidade e um melhor resultado. Tudo é mais fácil, mais simples e com muito menos complicações.
Marta Andrade Maia
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