"Sei que ainda cá estou porque ainda há pessoas que mandam na televisão que ainda vêem a televisão de uma forma um bocadinho diferente", estas foram as palavras de Filomena Cautela no início da entrevista que deu a Fátima Lopes, no programa 'Conta-me como és'.

"Há pessoas que ficam pelo caminho porque não esperam por elas. Acho que por mim esperaram. Não fui logo aceite. Ainda hoje não sou consensual e não quero ser. Mas mesmo no início, demorou muito tempo até ver uma posta de gente considerável que conte para as audiências e que conte para nós continuarmos aqui. Demorou muito tempo a chegar aí. E o que acho que acontece é que as pessoas que têm estas características vão ficando pelo caminho porque não lhes dão tempo suficiente para isso", acrescentou.

Filomena foi uma das atrizes que integrou o elenco da primeira temporada da série juvenil 'Morangos Com Açúcar', da TVI . Na altura, recordou, ninguém esperava que o formato iria dar frutos, mas o que é certo é que deu e foi um sucesso que continua a ser lembrado hoje.

Entre os atores o espírito era de amizade, partilha a apresentadora da RTP1, e todos conquistaram imensos fãs. Mas Filomena nunca reagiu bem com facto de ser reconhecida em público e partilhou durante a conversa um episódio marcante: a primeira vez em que foi abordada na rua.

"Fiquei absolutamente assustada e lembro-me perfeitamente. Foi no Chiado e fui a correr para dentro de uma loja e fechei-me no vestuário. Os Morangos, quando se estrearam, foi um efeito 'Dragon Ball', porque os miúdos não sabiam que nós existíamos e achavam que nós éramos desenhos animados. Quando nos viam, queriam-nos tocar e ficavam [admirados]. Era uma abordagem que já não existe hoje em dia e ainda bem", lembra, frisando: "Tenho uma vergonha muito grande de ser conhecida na rua".

"Lido mal, lido mal com as pessoas que estão comigo. Porque acho que estou inevitavelmente a expor a minha intimidade, a expor as pessoas que estão comigo, sejam amigas ou não, não têm nada a ver com o eu ser uma figura conhecida. Faço muita questão de não ser conhecida na rua. Não me maquilho, não me sei maquilhar, apesar de ter imensa maquilhagem em casa. Não sei arranjar o meu cabelo", partilha.

Outro dos assuntos que abordou foi a injustiça que sente para com alguns colegas de profissão.

"Nunca quis ser conhecida pelos meus lindos olhos azuis. Isto se calhar é um trauma, não quer dizer que eu tenha razão - provavelmente até não tenho - mas é um trauma de ter crescido numa geração de pessoas em que o físico falava mais alto. Foi o ponto de partida desta onda que vai até hoje. Em que se tu metias mamas de silicone ou fazia a capa da GQ, podias ser a próxima protagonista da novela, se te maquilhavas mais ou se eras mais gira passavas à frente de uma data de gente. Assisti a isso na primeira fila. Pior, vi muitas amigas minhas que não tinham dinheiro para comer, que tinham ido fazer cursos como atriz, tinham dado tudo e já tinham que pedir dinheiro aos pais com uma humildade e com um custo muito grande da sua dignidade. E estarem aqui em Portugal a tentarem lutar para serem atrizes, não conseguiam, não lhes davam oportunidade. [...] Foi um trauma que vivi quando comecei a trabalhar como atriz. E acho que foi por isto que ainda hoje tenho um problema com a minha imagem, porque não quero ser conhecida pela minha imagem", desabafa, admitindo que se sente "um patinho feio".