Sentados nos degraus próximos ao Parlamento, entre as estátuas de Mahatma Gandhi e da sufragista Milicent Garrett Fawcett, cerca de vinte pessoas ouvem atentamente a guia argentina Juliana Scatturice.
A mulher de 43 anos é natural de Buenos Aires e trabalha com turismo em Londres há cinco anos. A guia explica a história do local e informa onde permanece o caixão de Isabel II e como decorrem os preparativos para o seu funeral.
"Há 337 anos não tínhamos um Carlos" como rei, explica, referindo-se ao filho de Isabel II. A seguir, Scatturice fala sobre a história do Reino Unido, a execução de Carlos I, a declaração da República por Oliver Cromwell no século XVII e a restauração da monarquia com Carlos II. "É muito emocionante poder fazer parte deste momento histórico", confidencia à AFP.
Alguns dos seus clientes não gostam da monarquia, mas "o importante é reconhecer que estamos perante um evento histórico, que estamos a testemunhar como Londres vive e como a Inglaterra vive a morte da sua rainha mais antiga", estima.
Para Fiona Aspinall, professora de inglês para espanhóis que estudam na capital britânica, esta é uma grande oportunidade: "Vamos tentar chegar um pouco mais perto, quero que os jovens sintam a emoção", explica.
Os alunos acompanharam-na numa rápida caminhada ao longo do Mall, a grande avenida que liga o Palácio de Buckingham ao Parlamento e que ficou lotada na quarta-feira, quando o caixão de Isabel II atravessou a caminho da capela funerária.
"O que mais surpreendeu os meninos é o efeito [da morte] sobre o povo britânico", acrescentou a professora. Os seus alunos, adolescentes de 16 anos, confirmam essa impressão.
Com a morte da rainha aos 96 anos, na última quinta-feira, estes jovens tornaram-se os olhos das suas famílias neste acontecimento, sobre o qual pedem detalhes nas ligações.
"Eu estive no funeral"
"Um dia direi 'eu estive no funeral da rainha'", prevê a estudante Lucía Sarrión, que descreveu a morte da soberana alguns dias antes da sua chegada a Londres como "uma grande surpresa".
"O número de pessoas que vieram chamou-me à atenção. Certamente em Espanha veríamos pela televisão."
Félix Cabeza surpreendeu-se com “o grande apego dos britânicos à sua rainha”. Quando Isabel II morreu, "pensei que testemunharia um momento histórico ao lado dos meus colegas, fiquei feliz por isso, mas triste com a perda", disse.
Uma página da história
Natalia Smith, uma enfermeira americana de 54 anos, e outros 30 compatriotas posicionaram-se perto do Palácio de Buckingham para ver a rainha deixar a sua residência pela última vez.
"Moramos em Kansas City e reservámos à nossa viagem há um ano. Chegámos hoje e fomos diretos para o Palácio de Buckingham", disse Smith.
"É uma experiência única na vida, é uma página na história, porque embora ela não seja a nossa rainha, conhecemo-la desde pequenos", disse.
Cristina García, 44 anos, também é espanhola, de Valência. Viajou até Londres com três amigos e agradece a oportunidade de testemunhar "um evento histórico". “A melhor maneira de assistir a tudo isso”, afirma, dizendo que ficou impressionada com “o silêncio” e a solenidade do público.
Estes turistas tentarão evitar as proximidades de Westminster Hall, a ala mais antiga do Parlamento, onde centenas de milhares de pessoas passarão pela capela funerária de Isabel II até ao seu funeral na segunda-feira. "Hoje tivemos que passar por aqui porque fazia parte do nosso roteiro, mas vamos evitar os locais das cerimónias, as multidões", explica.
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