Com o filme 'Km 224' - realizado por António-Pedro Vasconcelos e protagonizado por Ana Varela e José Fidalgo - a estrear-se nos cinemas esta quinta-feira, 21 de abril, a atriz deixou o convite aos portugueses para irem ver este novo trabalho português.

Em conversa com o Fama ao Minuto, Ana Varela destacou a importância de se apoiar o cinema que se faz em Portugal, até porque, destaca, "é realmente difícil concorrer com os ‘Batman’ da vida".

Com a chegada da pandemia em 2020, os isolamentos obrigatórios levaram a que a classe artística fosse uma das mais afetadas, "não só a ida ao cinema, como as produções e tudo". Por isso é que, diz, "é tão importante as pessoas voltarem ao cinema, voltarem a sair de suas casas".

"A arte tem o papel de nos levar a questionar e acho que isso é muito importante", afirmou, acrescentando que "coloca-nos a pensar sobre as nossas atitudes, os comportamentos, o que motiva as nossas escolhas, as decisões, e é fundamental numa sociedade que precisa de se questionar para evoluir, para fazer melhor".

Mas, antes de falar do novo filme, reagiu à invasão russa à Ucrânia, que continua a fazer muitas vítimas.

Como tem acompanhado a guerra na Ucrânia?

Tento fazer o que está ao meu alcance. Tenho uma criança de nove anos que já tem acesso às notícias e esse também tem sido o maior desafio, explicar o que está a acontecer, e pior, explicar porque é que está a acontecer. Tenho tentado ajudar as instituições que estão no terreno… Tenho algumas amigas minhas com refugiados em casa… É tentar fazer a nossa parte e não ficar ansiosa por não conseguir fazer mais.

Mas é um filme muito próximo de mim, já passei por duas separações e trouxe alguma bagagem para este filme e alguma experiência

Neste momento, a nível profissional, está quase a estrear o seu novo filme, 'Km 224', de António-Pedro Vasconcelos. O que nos pode contar sobre este trabalho?

É um drama familiar, um filme sobre um divórcio litigioso com disputa pela guarda dos filhos que nos põe a pensar sobre o quão mauzinhos conseguimos ser para quem já amamos, com quem já trocamos juras de amor. Que nos põe em perspetiva as nossas guerras e os nossos conflitos, as nossas discordâncias, em prol de um bem maior que é os nossos filhos – a saúde, a segurança emocional deles.

Foi muito desafiante esta personagem, a Cláudia?

Foi porque ela é muito rígida e está muito magoada. Sentir todos os dias essa rigidez, essa implicância e essa falta de disponibilidade e flexibilidade… Esses sentimentos não são fáceis de lidar. Mas é um filme muito próximo de mim, já passei por duas separações e trouxe alguma bagagem para este filme e alguma experiência. Acho que qualquer português, ou qualquer pessoa no mundo, se relaciona facilmente porque ou já passou por uma separação, ou é filho de pais separados.

O António-Pedro [realizador] conseguiu fazer um trabalho gigante de mostrar que nem um, nem o outro são maus. Ambos estão muito magoados. Não há nem bons, nem vilões. Há uma frase no filme que eu adoro que é: ‘Todos somos monstros na medida dos nossos medos’. E é realmente o que vemos a acontecer com aquelas duas pessoas. Depois é até onde é que é justo continuar com esta guerra?! Coloca-nos a pensar sobre as nossas atitudes, as nossas famílias, sobre o que é realmente importante.

Acho que o antes da decisão é sempre o período mais difícil. O filme fala-nos do pós-decisão

Identifica-se com a sua personagem, tirando a história em si (uma vez que têm em comum a separação)?

A Cláudia é uma mulher que vive muito para o trabalho, eu vivo muito para o trabalho, sou muito apaixonada pelo meu trabalho e às vezes passo muitas horas fora de casa. Quando estava a filmar, filmava às vezes entre 12 a 14 horas por dia, portanto, as minhas filhas nesses dias quase que não me veem. E isso é uma das coisas que o Mário (papel de José Fidalgo que dá vida ao ex-marido da sua personagem) acusa a Cláudia. 'Tu quase não vens a casa, quase não vês os teus filhos e agora estás a dizer que sabes o que é melhor para eles'. Portanto, estas disputas… Um filme muito ao estilo de 'Marriage Story', um drama familiar sobre estes conflitos familiares, uma pós-relação num divórcio.

[A minha personagem] ama muito os seus filhos e acha que o que ela pensa ou o que escolhe é o melhor para os filhos, qualquer mãe acha. Mas, às vezes, as decisões não são as melhores para eles. Então ela está aqui num conflito gigante entre os filhos, o melhor para eles e o que é que é melhor para ela, as suas escolhas profissionais, o seu sucesso na carreira e a continuação do seu percurso de vida, que é a história de uma mãe, de todas as mães.

E é difícil às vezes haver um equilíbrio…?

Exatamente. Às vezes é difícil de se equilibra. O que é melhor para a família, o que é melhor para mim isoladamente, o que é melhor para a minha carreira… O filme mostra todo este drama e conflito que esta personagem vive, e que qualquer mulher hoje em dia que tem uma família e que trabalha – que somos quase todas, graças a Deus, já não estamos só fechadas em casa – vive. Acho que é giro ver isso e como é que a personagem passa pelos desafios que vai tendo ao longo da vida, e como é que se recupera do pós-divórcio, como é que se gere o pós-divórcio quando há filhos... Convido todos os portugueses a verem, mas principalmente os que estão a separar-se, porque é uma mensagem bastante importante.

Tendo em conta também o seu testemunho, o que considera mais difícil: o processo da separação ou o pós-separação (a nova realidade de vida)?

Para mim ou para as crianças? Acho que o fim da separação é o mais difícil, mais marcante. Depois é uma adaptação a uma nova realidade. O ser humano não gosta de mudanças, há sempre esta dificuldade. Mas acho que o antes da decisão é sempre o período mais difícil. O filme fala-nos do pós-decisão, já a viverem em casas separadas e a encontrar as rotinas de formas separadas.

No que diz respeito à representação, prefere estes dramas ou uma comédia, por exemplo?

Sou super dramática! (risos) 'Marriage Story' é um dos filmes que amei e quando vi este guião, pensei: 'Uau'. Porque fala sobre o conflito humano, sobre o que nos motiva enquanto seres humanos, o que é que queremos atingir mas todos os conflitos que passamos até o conseguir... Como é que o herói, o protagonista, reage, passa ou supera os desafios que vêm ter com ele, que na realidade é o que acontece nas nossas vidas. Só que estamos tão embrenhados, às vezes, na primeira pessoa que não estamos a perceber que o que a vida aqui me quer propor é que eu cresça e que evolua. Nós não conseguimos ver. Mas quando vemos a história num ecrã, e temos esta distância, é muito mais fácil para nós percebermos isso.

Dar vida a esta história que me toca tanto, porque passei por ela e acho que é um tema que, realmente, devemos pensar sobre ele, questionar as nossas decisões, pôr o amor e os nossos filhos em primeiro lugar... É uma oportunidade grande de passar essa minha experiência ou este tema que acho tão importante para a humanidade em forma de drama… Claro que também conseguimos isso em comédias, mas eu gosto de um bom drama, confesso.

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