Pedro Loureiro

Revista Saúda - É Embaixadora da ONU. Como lida com a responsabilidade? 

Catarina Furtado - Ser convidada por Kofi Annan para Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População foi um misto de emoções. Uma enorme felicidade e responsabilidade. Há 17 anos não sabia se estava capacitada. Hoje convivo bem, sei o que é esperado.

RS - E o que é esperado de si? 

CF - Promover o direito à vida saudável, com igualdade social. Foi o que fiz, através de acções de solidariedade em Portugal e nos países em desenvolvimento, para que as mulheres tenham mais possibilidades.

RS - Foi Campeã dos Objectivos do Milénio, para a ONU, em 2010. 

CF - Limitei-me a assumir o papel de voluntária no combate às desigualdades no mundo.

RS - E em 2012 criou uma associação… 

CF - Embora em índices diferentes dos países africanos lusófonos que visitei, em Portugal a desigualdade de género também existe, pelo que decidi actuar. Fundei a “Corações com Coroa” para investir no futuro das raparigas.

RS - Porquê o foco nas mulheres? 

CF - Nas meninas, jovens e mulheres. Na vida, temos que ter prioridades. Elas são quem mais sofre: há o casamento forçado, a mutilação genital feminina, as mortes maternas e neonatais… Eu ponho em voz alta a voz delas. Enquanto existirem mortes maternas evitáveis, não me vou calar.

RS - Os seus documentários “Príncipes do Nada” e “Dar Vida sem Morrer” também deram o mote para a “Corações”? 

CF - De certa forma. Na altura, lembrei-me de criar um formato original, com o realizador Ricardo Freitas, que mostrasse às pessoas, com esperança, o que nós vivenciámos nos lugares. Para informar sobre aquelas duras realidades e mobilizar a sociedade civil.

RS - Como é sentir que muda a vida das pessoas? 

CF - O meu sorriso diz tudo, não preciso de falar. Agradeço todos os dias a oportunidade que tenho, as pessoas que me levam a acreditar, as mulheres que fazem coisas incríveis. Não tenho outro remédio senão continuar.

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créditos: Pedro Loureiro

RS - A família tem sido importante? 

CF - Claro! Foram os primeiros sócios [risos]. Compreendem o que faço e dão-me imenso apoio.

RS - A propósito de família…Está a contracenar com João Reis. Como é trabalhar com o marido? 

CF - Enquanto actores no teatro é a primeira vez, mas já colaborámos várias vezes. E lá em casa também: ele faz a comida, eu ponho a mesa [risos]. É fácil trabalhar com o João porque ele é um grande actor. Não é preciso dizer-lhe nada, ele sabe. Também deve ser fácil trabalhar comigo [gargalhada]. Só que eu falo muito, quero saber tudo.

RS - E o livro infantil? 

CF - Pois, eu adoro crianças. Até gostava de ter mais filhos [sorriso aberto]. Esse tem uns anos, foi para a Fundação do Gil. É a história de um menino que ensina os adultos a ver o mundo de outra forma.

RS - O que ia perguntar-lhe é se ainda falta fazer algo a nível profissional. 

CF - Tanta coisa! Tenho imensos projectos, imensos...

RS - Que novidades são essas? 

CF - Agora não é altura... daqui a uns meses falamos.

RS - São na área da televisão? 

CF - Sim, também. Em breve vamos ter as “7 Maravilhas de Portugal” na RTP. Vai ser aquela coisa boa, de dizer bem de nós próprios, do nosso património, daquilo que é nosso. Já lhe dei uma novidade...

RS - Ultrapassou o marco dos 25 anos de carreira. Como foi chegar até aqui? 

CF - É estranho, passaram 27 anos e não dei por eles. Quer dizer, dei, nas ruguinhas – aponta para os olhos [risos]. Não, sinceramente, não dei pelo tempo. Porque diversifiquei e nunca parei. Fiz desde programas de entretenimento com música a formatos com crianças, logo eu que adoro trabalhar com crianças! Passando pelos documentários, a minha área preferida. Tenho tido sorte. Sempre tive a felicidade de colaborar com pessoas de que gosto.

RS - Ainda fez concursos, narração, dobragens… 

CF - E por tudo isso me apaixonei. Um projecto que amei foi o “Com Amor se Paga”, na RTP. Homenageava pessoas que faziam a diferença cá em Portugal. Mas eu gosto das várias áreas.

RS - É uma mulher realizada? 

CF - A realização pressupõe um ponto final e eu tenho muito por fazer.  Por isso, não, não me considero realizada. Sou, sim, uma mulher de causas.

RS - Com tantos projectos, onde é que vai arranjar tempo? 

CF - É difícil de gerir e às vezes chego atrasada. Até porque há um papel pelo qual tenho um amor imenso, que é ser mãe. Adoro! Levá-los à escola, ir buscá-los, vesti-los… É como se fizesse ginástica acrobática. Ter sido bailarina clássica   profissional deu-me traquejo. Às vezes é cansativo, mas é um privilégio nunca ter um dia igual. E já estou a preparar 2018, tenho sempre ideias... Nasci assim, hiperactiva!

RS - Parece ser feliz. 

CF - Sim! Tomo de manhã uma taça com maca e outros cereais, iogurte, umas coisas verdes... Fica com um aspecto que ninguém quer provar. Se calhar é esse o segredo. [risos]

RS - Que outros cuidados tem consigo? 

CF - Todos os dias bebo um litro e meio de água ou chá verde. Não como pão, a não ser de manhã, cheio de manteiga e queijo. Também não bebo às refeições nem como sobremesa. Como tudo fora dos horários. Ginásio? Não, mesmo!

RS - Tem conselhos para os leitores da Revista Saúda? 

CF - Conselhos, não. Não sou moralista. Procuro relativizar, para estar serena. Ser honesta comigo e olhar para o outro.

RS - Falando de conselhos e segredos, como é que se mantém, com sucesso, há tanto tempo no topo? 

CF - Fico orgulhosa por me dizerem que tenho tido uma carreira coerente e sem grandes oscilações. Não foi uma questão de estratégia, mas sim de convicções. Não penso nas audiências ou capas de revista. Faço aquilo que me faz feliz! Das coisas que mais gosto é partilhar e melhorar a vida de alguém. Sozinha isto seria uma chatice! Eu sou as outras pessoas que estão à minha volta.

Texto de: Nuno Esteves e Rita Leça

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