Consegue imaginar-se a gravar vídeos para a Internet e ter, na soma total, mais de 228 milhões e 500 mil visualizações? É isso que acontece com Nuno Agonia, uma referência para milhares de jovens, adolescentes e adultos do nosso país - e não só.

Nuno entrou no YouTube em 2012 e, desde aí, nunca mais parou. A parceria com o Pisca Pisca, um motor de busca de carros usados, tornou-se inevitável quando começaram a surgir no canal os automóveis, o que também foi muito bem recebido pela comunidade já construída até então.

Aliando o útil ao agradável, Nuno Agonia lembrou-se de criar um novo conteúdo, inspirado num conceito já muito popular em todo o mundo: entrar num carro, sentar figuras públicas no lugar do pendura e conversar.

Ao Fama ao Minuto, o youtuber de 43 anos explica por que razão sentiu necessidade de inovar, mesmo sabendo que o que sempre fez continua a funcionar.

Nuno, como surgiu a ideia de criar o seu próprio 'Carpool'?

Há uns quatro anos cheguei a trazer convidados que me ajudavam a fazer 'unboxings'. Naquela altura correu bem, fazia sentido e tinha pensado que, já que tenho acesso a tanta gente e as pessoas já me conhecem, era giro fazer tipo um podcast. Mas eu não queria criar um podcast numa mesa. Foi por isso que me lembrei de fazer isto num carro. Dentro de um carro fala-se mais à vontade. Lembrei-me que giro era fazer a conversa dentro de um carro e, para adicionar sal a isso, achei que seria ainda melhor se não fosse sempre dentro do mesmo carro. Então pensei 'tenho uma parceria super boa com o Pisca Pisca', nós falámos e eles aceitaram logo.

Interessante que, ao contrário da maioria das parcerias entre influenciadores e marcas, a ideia nasce da sua cabeça...

Sim, eu tinha quase a certeza que eles iam dizer que sim. A proximidade é muito grande e falamos regularmente. Está a correr muito bem.

O que o leva a achar que este é o momento de 'saltar para fora de pé'?

Recebo propostas para falar de muitos produtos, mas a maior parte deles são coisas normais que não acrescentam nada. As pessoas estão habituadas a ver coisas diferentes no meu canal. Esse fator 'wow' nem sempre existe e é cada vez mais complicado trazer conteúdo que as pessoas querem ver. Assim, é uma forma de ter mais uma rubrica no canal, em alturas em que a tecnologia não está a lançar produtos. Consigo preencher lacunas de conteúdo, tal como se faz numa grelha de um canal de televisão.

As pessoas pensam que eu tenho um guião nos meus vídeos, mas não

Estamos a falar de vídeos curtos em que conversa com figuras públicas dentro de um carro. Qual é o conteúdo que procura trazer para estas 'entrevistas'?

São curiosidades minhas, não estou ali a fazer trabalho para a sociedade. São pessoas com as quais gostava de falar. O pensamento é: 'tenho esta curiosidade, quero conhecer esta pessoa, então entra aqui no carro'. Não há um guião. Como estou a conduzir, tenho de estar atento à estrada, na maioria das vezes em Lisboa, e tenho de estar super atento ao trânsito. É uma conversa super tranquila, tenho muita admiração pela maioria dos convidados, por isso só pode correr bem.

É quase como fazer uma viagem dentro de um carro com um amigo?

Exatamente! Na minha agência perguntaram-me se queria meter duas câmaras no carro e eu disse que não. Não quero assustar as pessoas. Faço isto com duas GoPro, não mais do que isso. O mais pequeno possível.

E este papel de entrevistador agrada-lhe?

Não, eu gosto mesmo é de falar, de comunicar. As pessoas pensam que eu tenho um guião nos meus vídeos, mas não. Há produtos sobre os quais nem quero saber nada antes de os abrir, assim a reação é mais genuína. Aqui é exatamente a mesma coisa.

A Cristina [Ferreira] é um ícone, é a pessoa que, a seguir ao Cristiano Ronaldo, tem mais seguidores em Portugal. Era com ela que eu queria começar

Não quer ser apenas mais uma pessoa a fazer as mesmas perguntas às mesmas pessoas, é isso?

Sim. Mesmo com a Cristina Ferreira, que é um ícone do caraças, não fui ver como se chama o filho dela. Isso não tem interesse para mim. Eu pensei: 'fogo, eu estou aqui no carro com a Cristina Ferreira, estamos aqui a falar na boa, incrível'.

Esta semana falei com a Lili Caneças, um ícone. A Lili Caneças, comigo, dentro um Porshe 911 Carrera S, um carro de 300 mil euros... A mulher fala para caraças, dava para ir até França. E eu para ela: 'diga-me uma coisa, você come frango com as mãos?' [risos]. São curiosidades que não se encontram, a ideia é divertir-me. Estou numa fase em que comando o meu tempo.

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Como é feita a escolha dos convidados?

Há a minha vontade e depois é fazer isso acontecer. Devido ao trabalho destes anos, as pessoas conhecem-me. A agência faz o convite às pessoas e agora acontece as pessoas dizerem ‘para o Nuno Agonia, bora lá’. É altamente. Quando me falaram que seria possível fazer isto com a Cristina Ferreira... [expressão de espanto]. Porque a Cristina é um ícone, é a pessoa que, a seguir ao Cristiano Ronaldo, tem mais seguidores em Portugal. Era com ela que eu queria começar. E conseguiu-se.

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Nunca pensei chegar a este ponto. Ter milhões e milhões de visualizações é impressionante, e é na rua que percebes isso

Faltam gravar dois episódios. Depois vem aí uma nova temporada?

Sim, até finais de janeiro sairá a primeira temporada, depois para-se um bocadinho e avança-se para a segunda para sair no verão.

A receção dos seus seguidores tem sido como esperava? Acredita que com estes conteúdos tem chegado a pessoas às quais não chegava habitualmente?

As pessoas gostam. Claro que há convidados que interessam mais do que outros, tal como na televisão. O feedback tem sido muito bom. Mesmo não sendo de tecnologia. Eu vejo as pessoas a pedirem para trazer este e aquele convidado. Eu vou falar com os Wet Bad Gang e, para teres uma noção, eles surgem porque a Sony entrou em contacto connosco. Incrível. Quando um gigante como a Sony diz que gostava de participar é porque estamos a fazer um bom trabalho.

Que convidados gostaria de ter nos próximos episódios?

Na segunda temporada quero trazer o Herman José. Lembro-me de ver a 'Roda da Sorte' ao final do dia. Ter a oportunidade de estar com o Herman, que mudou a comédia em Portugal... É uma pessoa que quero muito trazer.

Este pessoal é maluco. Há mulheres que me dizem 'não o posso ouvir mais em minha casa, o meu marido está sempre a ver os seus vídeos' [risos]. Juro que acontece, é impressionante

É possível dizer que já conquistou o seu espaço na área do YouTube em Portugal. São milhares as pessoas que o acompanham e que seguem religiosamente o seu trabalho. Alguma vez sonhou que seria capaz de atingir este patamar?

Não, sou honesto, nunca pensei chegar a este ponto. Ter milhões e milhões de visualizações é impressionante, e é na rua que percebes isso. Ir na rua e as pessoas virem ter comigo, quer em Lisboa, ou no Algarve. Este é o poder das redes sociais, são o futuro. Toda a gente tem um telemóvel, algumas até têm mais do que um, e toda a gente tem uma conta nas redes sociais. Se estiveres nas redes com números gigantes, é óbvio que vais chegar a muita gente.

Sair um iPhone e tê-lo duas semanas antes... e importa lembrar que estamos em Portugal. Fui o único na Europa a fazer conteúdo sobre o cão da Xiaomi. Os números que eu tenho, comparados com alguns dos meus colegas na Europa, são incríveis, mesmo a falar em português.

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E se um dia o YouTube deixar de ser uma opção para si, iremos vê-lo em televisão?

Não, as redes sociais têm uma vantagem muito boa, que é uma resposta muito rápida ao que tu fazes. Em televisão, faças o que fizeres, não tens reação. Tens essa reação depois, nos outros meios. Agora, se lançar uma fotografia no Instagram, tens ao segundo os comentários com as opiniões das pessoas. Eu criei Tik Tok há pouco tempo. O meu último conteúdo lá tem 14 milhões de visualizações. Este pessoal é maluco. Há mulheres que me dizem 'não o posso ouvir mais em minha casa, o meu marido está sempre a ver os seus vídeos' [risos]. Juro que acontece, é impressionante.

A invasão da privacidade acontece quase todos os dias. Basta ir a um shopping e pôr uma garfada à boca e vêm pedir uma fotografia

E mostrar, também, coisas que acontecem na sua vida e na da sua família é uma opção ou só o faz porque sabe que são coisas que as pessoas querem ver?

Tem de haver essa proximidade, mas não mostro tudo. Não me mostro a tomar banho, por exemplo [gargalhada]. No outro dia, no Porto, eu estava a pedir a comida e a Mónica [mulher] e o meu filho estavam no andar de cima. Quando estava a subir vem um grupo de rapazes que me diz: 'bem me parecia que era o teu filho que estava lá em cima'.

Já alguma linha foi cruzada por algum desses subscritores?

A invasão da privacidade acontece quase todos os dias. Basta ir a um shopping comer, pôr uma garfada à boca e vêm pedir uma fotografia. Por isso é que evito os sítios com multidões.

E o que ainda falta conquistar?

Fico chateado quando estou quatro dias sem publicar conteúdo. Muitas dessas vezes estou a produzir conteúdo que não vai sair nessa altura, mas fico chateado comigo. Talvez aumentar essa regularidade.

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