O futuro da representação em Portugal está assegurado. As várias provas de talento dadas por Beatriz Frazão, a jovem atriz de 19 anos que já fez um pouco de tudo, permitem atestar esta garantia sem receio.

Não fossem suficientes as novelas e séries da RTP, SIC e TVI cujos elencos integrou, Beatriz mostra agora na peça 'O Diário de Anne Frank' que é uma das artistas de quem mais se espera no nosso país.

Em cena no Teatro da Trindade até 30 de dezembro, o espetáculo, que estreou no dia 8 de setembro, procura relembrar uma das figuras mais marcantes da História e, ao mesmo tempo, reforçar a ideia de que o passado merece tanto respeito quanto o futuro.

Ao Fama ao Minuto, Beatriz Frazão explicou-nos o que podemos encontrar nesta peça que já é um sucesso, ao mesmo tempo em que, com os "pés assentes na terra", já vai pensando no futuro.

Anne Frank é uma das figuras mais respeitadas da História e já muitos filmes, séries e livros procuraram retratá-la. Por que razão continua a ser importante recordar esta jovem e tudo o que ela viveu?

Esta é uma peça super importante. É a personagem mais importante que já fiz porque não é inventada. É uma pessoa real que já existiu e é das figuras mais conhecidas e importantes da II Guerra Mundial. Eu e os meus colegas temos de passar uma mensagem às pessoas porque isto aconteceu e algumas pessoas costumam dizer ‘é impossível que aconteça outra vez’. Não é assim, a História repete-se.

Como tem sido para si contracenar com atores como Anabela Moreira, Carla Chambel e João Reis?

Para mim é um enorme prazer, aprendo com eles todos os dias. Acho incrível como em 80 espetáculos, durante quatro meses, conseguem fazer tudo como se fosse a primeira vez. Emocionam-se todos os dias e para mim é mesmo um prazer estar ao lado deles.

É complicado porque fazemos muitos espetáculos e nem todos os dias as coisas correm bem. É impossível

E o diretor artístico é Diogo Infante, um dos mais respeitados atores do nosso país...

É quase como o meu chefe [risos]. Coloca uma grande pressão em cima de mim porque nada pode falhar. Tenho sempre estes grandes nomes em cima de mim e tem de correr tudo bem todos os dias. Está a ser muito fixe, o Diogo é super querido.

Sente que tem merecido esta grande oportunidade?

Espero que sim. É complicado porque fazemos muitos espetáculos e nem todos os dias as coisas correm bem. É impossível. Há dias em que as pessoas dizem ‘uau, foi espetacular’ e estavam quase todas a chorar, e nesses eu sinto que a missão foi cumprida. Depois temos dias em que acontece alguma coisa e já não estamos tão emocionados e as pessoas não estão tanto connosco.

É preciso aprender a lidar com o facto de que os dias não são todos iguais. Sinceramente não sei se estou a fazer a Anne Frank como deveria ser feita mas estou a dar o meu melhor.

Já tendo trabalhado em televisão e em teatro, quais são as maiores diferenças que encontra?

A novela é quase como se fosse uma fábrica. O protagonista tem muitas cenas e grava tudo a correr. É tudo muito rápido. No teatro temos mais tempo para preparar e, ao mesmo tempo, nada pode falhar. O teatro tem uma coisa que a novela não tem e nunca vai ter: o público. Temos a energia das pessoas e é completamente diferente. Também criamos uma relação mais forte com os nossos colegas porque os vemos todos os dias.

Enquanto Anne Frank, tinha de ser a voz do espetáculo. Por isso, se o espetáculo corresse mal seria um bocado por minha causa, e o mesmo se corresse muito bem

Tenta abstrair-se das reações da plateia?

Esta peça, embora seja muito dramática, é equilibrada e tem muitos momentos cómicos. Dá para sentir tudo. No início, preocupava-me muito com o que as pessoas estavam a sentir e não pode ser. Tenho de estar na minha, concentrada. Tentava olhar discretamente e se via alguém ao telemóvel pensava logo ‘isto está a ser uma seca’. Agora já não o faço, isso desconcentra-me muito.

Qual foi a sua inspiração para este papel?

Tentei focar-me naquilo que o Marco [encenador] me ia dizendo. Foquei-me também no diário, porque aí ia percebendo o que ela sentia em cada situação. O Marco também me foi dizendo que eu, enquanto Anne Frank, tinha de ser a voz do espetáculo. Por isso, se o espetáculo corresse mal seria um bocado por minha causa, e o mesmo se corresse muito bem. Eu sou muito tímida e muito fechada, a Anne Frank é completamente o contrário. Uma semana antes do espetáculo consegui arranjar a Anne Frank que eu queria.

Há muitas pessoas que querem [chegar longe] e só duas ou três é que conseguem

Aos 19 anos, a Beatriz tem o privilégio de ser protagonista numa grande peça de teatro. Como surgiu este convite?

Eu fiz a audição para o papel de Anne Frank. Fui logo a primeira da manhã e lembro-me que estava super nervosa. Cheguei lá e estavam na plateia o Marco e o Diogo Infante. Eu nunca tinha feito uma audição de teatro, as das novelas são muito mais tranquilas. No teatro abrimos uma porta, já estamos em cima do palco com as luzes todas em cima e disseram ‘quando quiseres podes começar’. Estava a tremer por todo o lado e saí de lá a chorar porque achei que tinha corrido mal. No próprio dia ligaram-me a dizer que tinha sido escolhida e fiquei muito feliz.

E como se tem sentido neste tão importante desafio profissional?

Sinto-me muito feliz e grata. Sei que neste meio é muito difícil conseguirmos ter sucesso. Há muitas pessoas que querem [chegar longe] e só duas ou três é que conseguem. Quando aparece uma oportunidade destas temos de agarrá-la e dar o nosso melhor para que possam vir mais.

A Beatriz também já trabalhou nos três principais canais da televisão portuguesa. Sentiu alguma diferença entre eles? Qual deles é a sua 'casa'?

Não sei, é muito difícil. Eu vou para onde for melhor e onde a personagem for melhor. Lembro-me que antes adorava a SIC, quando fiz a novela ‘Amor Maior’ era a SIC a minha preferida mas depois fiz outra novela na TVI e adorei. Portanto não posso dizer.

Por mais que as coisas estejam a correr muito bem é importante estar segura e ter os pés assentes na terra

Com que conselhos conta na hora de tomar decisões?

Sempre tive o apoio da minha família, principalmente do meu pai, que é guionista e já fez trabalhos como ator.

Em relação à escola, continua a estudar?

Neste momento estou a fazer um ano sabático. Acabei o 12.º ano e agora não estou a estudar. No próximo ano vou para a faculdade mas ainda tenho de pensar.

E qual seria o curso?

O que mais quero é ser atriz mas gostava de ter um plano B. Gosto de psicologia mas não sei ao certo.

Sou mesmo tímida e tenho medo que as pessoas, quando vêm falar comigo, me achem tímida e distante

O facto de a carreira estar a crescer e de os estudos ficarem, inevitavelmente, para trás é algo que a preocupa?

Neste meio é muito complicado. Num dia as coisas podem estar a correr muito bem e noutro já não és ninguém e não tens trabalho. Por mais que as coisas estejam a correr muito bem é importante estar segura e ter os pés assentes na terra.

De que forma lida com o mediatismo e o aumento da popularidade?

Todos os dias alguém me conhece na rua por causa do teatro, o que é incrível. Sou mesmo tímida e tenho medo que as pessoas, quando vêm falar comigo, me achem tímida e distante. Tenho quase vergonha de falar com as pessoas, não me sinto mesmo à vontade.

Há já algum projeto pensado para o futuro?

Se não tivesse aparecido nada, provavelmente teria ido estudar lá para fora. Apareceram-me duas propostas para duas séries e por isso vou ficar por cá.

Já fiz tantas coisas, algumas delas das melhores que se pode fazer, e tenho medo que possa sofrer uma desilusão quando crescer e não haver oportunidades como estas. Espero continuar a fazer o que mais amo e ter personagens como a Anne Frank, que me desafiem. Também gostava de ter uma carreira internacional.

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