Diz-se que não se deve voltar a uma casa onde já fomos felizes. Pedro Crispim, sem medo, escolheu ignorar este ditado popular no final do passado mês de outubro para aceitar o convite da TVI para voltar ao canal e, consequentemente, ao 'Big Brother'.
O carinho pelo reality show e o prazer que comentar o mesmo lhe dá foram os motivos que levaram o stylist a deixar o programa 'Passadeira Vermelha' e a SIC, da qual confessa que nunca sentiu que fazia parte, para rumar de novo a Queluz de Baixo.
A decisão, ainda assim, não foi tomada com ingenuidade. Crispim sabia, à partida, que na TVI se voltaria a cruzar com a indignação do público que 'venera' as personagens do 'Big Brother', mas o período de descanso do formato permitiu que este regresso fosse feito sob um novo olhar.
Pedro Crispim falou em exclusivo com o Fama ao Minuto, poucos dias depois de ter celebrado mais um aniversário, e revelou como se tem sentido na TVI.
Pedro, muitos parabéns pelos 44 anos! Já se sente com esta idade?
Na realidade, o processo não acontece de um dia para o outro. Tem vindo a amadurecer de dia para dia. É um processo de autoconhecimento que me deixa muito confortável, tranquilo, em paz e grato.
Como lida com o avançar da idade?
Depende dos dias. Ficaria mais bonito se embelezasse a idade, mas ela também consegue ser uma valente chatice, principalmente pela importância que a sociedade dá ao número. É uma questão de estarmos em paz com isso e acho que quando nos conhecemos bem, as coisas não nos atingem de forma violenta. Acho que a sociedade continua a ser bastante castradora em relação ao número, mas acredito que a relação com a idade não deve ser passiva, que as pessoas também têm de mostrar que são uma mais-valia, que continuam ativas, que continuam a querer as coisas. Não nos podemos resumir ao número.
Vários dos seus seguidores nas redes sociais comentam as fotografias que publica dizendo que o Pedro, com a idade, se tem tornado um homem ainda mais bonito. Concorda com estas opiniões?
Sim, sinto-me um homem mais interessante. Sinto que tenho, hoje em dia, mais impacto do que tinha há 10 ou 20 anos. Acho que tem que ver, acima de tudo, com segurança. A segurança é atraente. Todos gostamos de estar perto de pessoas que se sentem em paz e bem resolvidas.
Ainda assim, e por ter trabalhado durante alguns anos com a moda, ligada à minha imagem, acho que isso deixa sempre um bichinho de desconforto. A minha imagem esteve sempre, enquanto manequim, sujeita a valorização exterior. Ainda há pouco desfilei para a Fátima Lopes, quando tinha 43 anos, e estava ao pé de miúdos de 18 anos. Pensei ‘está tudo certo’, porque acho que esta deve ser a mensagem da moda, inclusiva e democrática, mas ao mesmo tempo fico a pensar 'eu já não pertenço aqui, este já não é o meu sítio'. E está tudo bem, estranho seria se ainda fosse, passado tanto tempo.
Mas sente isso porque outras áreas lhe dão, agora, mais prazer ou porque já não se identifica com o trabalho de manequim?
A moda ocupa 90% da minha vida diária. Não enquanto manequim, mas trabalho com consultoria de marcas de retalho têxtil... trabalho muito nos bastidores. É um trabalho que me dá muito prazer e é um tentáculo da indústria da moda que eu agarrei e que me dá estrutura a todos os níveis para escolher depois trabalhos extra, como em televisão, que eu sinta que me acrescentam. Respondendo à pergunta, acima de tudo sou eu que tenho outras expetativas e outras prioridades.
Precisei, ao fim de um ano e três reality shows, de me afastar, porque senti que o meu bem-estar tinha de ser prioritário
Este regresso à TVI está a ser como esperava que fosse?
Acho que nada acontece por acaso. No mês em que celebro 44 anos, surge esta porta aberta para voltar à TVI. É preciso ler os sinais e o meu maior compromisso tem de ser comigo e com o meu bem-estar. Foi essa a minha decisão, seguir o que faz sentido para mim.
Mesmo quando deixei de comentar o 'Big Brother' ('BB') e fiquei um ano e tal afastado do projeto, foi de forma consciente e uma decisão que tomei depois de pensar, não foi leviana. Na altura estávamos em pandemia e com muita loucura a acontecer no mundo, fechados em casa, e as pessoas estavam a viver o reality show de forma demasiado intensa, complexa e tóxica.
Precisei, ao fim de um ano e três reality shows, de me afastar, porque senti que o meu bem-estar tinha de ser prioritário. Quando me afastei não foi para ir para lado nenhum nem para fazer mais nada, foi mesmo para sair da televisão. O projeto que havia para mim era o 'BB' e este programa não me fazia sentido fazer na altura. Sentia-me cansado, desgastado e precisava de fazer outras coisas.
Depois da pandemia e da minha empresa, o meu atelier, ter estado fechado durante tanto tempo, precisava de agarrar nele e de pôr os meus clientes em andamento. Precisava de me focar na recuperação da minha carteira de clientes. Foi com esse mote que me desliguei do 'BB'.
E com que relação ficou com a TVI depois desta saída?
Nunca senti que a porta tivesse ficado fechada, sempre mantive uma relação muito amigável com o canal e nunca ninguém leu qualquer tipo de comentário sobre qualquer empresa com a qual trabalhei. Nesse sentido, achei que nesta altura estava tranquilo, em paz e que tinha organizado as minhas gavetas. Senti que fazia sentido voltar.
Nunca me senti a pertencer à SIC
Na SIC, onde começou o seu percurso em televisão, acha que lhe faltou encontrar algo que desejava ter encontrado?
Nunca me senti a pertencer à SIC. Fiquei alocado à SIC Caras, com o convite que me foi feito e ao qual sou grato, e nunca tive nenhum projeto na SIC generalista. Nunca me senti parte da SIC. Não procurei fazer televisão, depois de sair da TVI, nem entreguei o meu currículo em lado nenhum. O convite surgiu e aceitei porque, nomeadamente o ‘Passadeira Vermelha, é feito por pessoas que adoro, que me inspiram e com as quais trabalhei muito bem. Sabia que ia ser um caminho tranquilo e eu precisava dessa tranquilidade naquela altura.
Posso promover que vou ao 'BB' e posso fazer um post do meu look, mas as minhas redes sociais não são o estúdio da TVI
Quando aceita voltar ao 'Big Brother', sabe que iria voltar a ser alvo de críticas e confrontado com a opinião dos espectadores que vibram muito com este programa. Como lida com a pressão que é feita diariamente sobre os comentadores?
A minha experiência no 'BB' sempre foi muito divertida, sempre tive consciência de que é um programa de entretenimento. Na pandemia sabia que, muitas vezes, éramos a companhia das pessoas que estavam obrigatoriamente em casa e sozinhas. Tentei sempre dar o meu melhor para chegar a essas pessoas.
Nunca me senti preso às opiniões nas redes sociais. O que senti agora ao voltar é que estamos noutra fase do 'BB', o programa que encontrei não foi o que deixei. O público parece-me outro, ao qual foram acrescentadas novas pessoas, e os espectadores surgem muito de acordo com a narrativa individual dos concorrentes. Os que hoje assistem ao 'BB 'não me conhecem e não viam o meu trabalho como comentador, são pessoas novas para mim.
Uso as minhas redes sociais de forma construtiva e o 'Big Brother' não desagua nas minhas plataformas, tal como elas não são um prolongamento daquilo que eu sou no estúdio. Não veem - nem vão ver - nenhuma abordagem minha sobre este programa nas minhas redes sociais hoje em dia, coisa que nos primeiros reality shows fazia. O meu trabalho começa e termina no estúdio. Foi a forma que encontrei de estar mais tranquilo do que estive no outro projeto e de separar todas as arestas da minha vida e de protegê-las. Posso promover que vou ao 'BB' e posso fazer um post do meu look, mas as minhas redes sociais não são o estúdio da TVI.
Alguns comentadores são acusados de ir ao Twitter sondar a opinião do público para depois, quando falam, conseguirem dizer coisas que vão ao encontro do que é mais popular. O Pedro faz isso ou não lhe interessa o que pensam os espectadores?
Não me interessa de todo. Eu aprendi muito com os reality shows todos que comentei e uma dessas coisas foi a resumir o programa às horas em que estou no ar, quando saio acabou. Não ando a 'picar' as redes dos meus colegas a ver o que publicam, não ando a 'picar' as redes a ver o que se escreve e continuo a ser fiel à minha opinião e ao que sinto. Eu não vejo o ‘Extra’ quando lá não estou, porque não dá. Agora estou a falar contigo, antes tive uma reunião com uma marca com a qual trabalho, depois de sair daqui vou para uma outra reunião, portanto passo o dia inteiro de um ponto ao outro. Não consigo estar em casa a tomar notas de tudo o que acontece, quer na televisão, quer nas redes. E ainda bem que não tenho.
O que faço questão é de me preparar para o 'Extra' onde vou estar a comentar. Na altura da pandemia, quando a indústria de retalho estava, como todas as outras, fechada, a televisão era a nossa maior companhia. Neste momento tenho uma vida profissional ativa, ainda não dá para me reformar aos 44 [risos], e então tenho de continuar ativo. Dou graças a Deus por ter uma agenda preenchida.
Ninguém me prometeu nada, vim de forma tranquila e sem expetativas. Não significa que não tenha as minhas vontades, os meus desejos e os meus sonhos, mas expetativas não tenho
O Pedro fez parte de uma das edições mais emblemáticas do 'Big Brother', criando até uma excelente dinâmica com 'Pipoca Mais Doce', o que claramente aumentou a sua popularidade. No regresso à TVI já não encontra a Ana Garcia Martins, sente falta dela?
O que sinto ao nível dos comentadores é que, na altura, foi criada uma dinâmica única, muito especial, que não foi forçada e aconteceu como tinha de acontecer. Estávamos a falar de uma outra fase da vida e sinto que este 'jogo de ténis' que era criado entre mim e a Ana não se vai repetir com outra pessoa, não há possibilidade de isso acontecer com mais ninguém do painel neste momento e não tem mal. Se as coisas fossem todos os dias as mesmas, talvez não fossem tão especiais. Sou feliz por ter passado por aquela experiência.
E sobre esta emblemática edição de 2020 do 'Big Brother', que memórias guarda?
Digo isto sem pudor e sem receio. O reality show em que mais gostei de trabalhar e de comentar foi o 'BB 2020'. Foi o programa que marcou a diferença na televisão portuguesa. Existe um antes e um depois. Foi diferente, trouxe causas, pessoas, conversas e dinâmicas completamente diferentes daquelas a que já tinha assistido enquanto comentador. Deu-me muito prazer ver que existiam concorrentes cujo jogo era ativo, participativo, envolvente e que deixou quase um legado. Teve concorrentes brilhantes e haverá, se Deus quiser, mais concorrentes destes no futuro.
A um mês do fim, qual o balanço que faz desta edição que está no ar?
Agora sinto o 'Extra' de forma diferente, sinto-o totalmente focado na casa e os comentadores não têm o espaço para criarem outra narrativa paralela. Digo sinceramente: até gasto menos calorias porque andava sempre aos pulos [gargalhadas].
Quando escolho mostrar a minha família é de forma muito cirúrgica e em situações especiais (...) Se trabalhasse num supermercado, as pessoas da minha família não estariam ao meu lado a ajudar-me
O ‘Big Brother’ aparenta dar-lhe muito prazer…
Sim, eu gosto muito de fazer televisão mas gosto, acima de tudo, de comunicar. Tudo o que faço tem como tónica a comunicação. Seja ao sublinhar a mensagem de uma marca, seja através da pintura – porque também pinto a óleo -, seja através das aulas que dou, nas palestras sobre moda… O meu foco são as pessoas e a comunicação é sempre algo que me desafia e estimula.
O regresso à TVI aconteceu apenas para o 'Big Brother' ou há a promessa de um outro projeto no futuro?
Ninguém me prometeu nada, vim de forma tranquila e sem expetativas. Não significa que não tenha as minhas vontades, os meus desejos e os meus sonhos, mas expetativas não tenho. Estou focado no projeto em que fui desafiado a participar e fui muito bem recebido, sinto-me em paz com essa decisão. O que vier, vem para acrescentar e se não vier está tudo bem. A agenda preenchida faz com que não tenha muito tempo para ficar a lamber feridas das expetativas. Sou um tipo muito realizado e isso faz com que enfrente estes projetos de forma pacífica.
O Pedro opta por falar pouco da sua vida privada, da qual se sabe muito pouco. Porque faz questão de manter as coisas assim?
Porque não tenho de arrastar as pessoas da minha vida para uma área onde escolhi estar. Quando escolho mostrar a minha família é de forma muito cirúrgica e em situações especiais. Fora isso, a minha família e os meus amigos não gostam nem querem estar nesta área. Se trabalhasse num supermercado, as pessoas da minha família não estariam ao meu lado a ajudar-me. Aqui não será diferente.
Aquele miúdo de 105 kg ainda mora em mim. Eu ainda sou inseguro, embora monte este boneco, esta carapaça da moda e da roupa
Como é o Pedro Crispim fora da televisão?
Considero-me um tipo divertido mas também discreto. Se pudesse fazer televisão e na rua não sentir o olhar de alguém, eu gostava. Tem que ver com aquele miúdo de 105 kg que eu ainda sinto, esse miúdo ainda mora em mim. Eu ainda sou inseguro, embora monte este boneco, esta carapaça da moda e da roupa, mas na realidade ainda aqui está aquele miúdo dentro de mim que tinha receio dos olhares das pessoas, porque nunca traziam uma realidade positiva. Quando sinto os olhares na rua ainda sinto alguma timidez. Graças a Deus, 99% das abordagens são positivas.
Sente-se tranquilo em relação ao futuro e ao que a vida lhe tem dado?
Sinto-me, acima de tudo, grato. Comecei a olhar para outros fatores da minha vida para os quais nem olhava e comecei a valorizá-los. Comecei a trabalhar com projetos sociais e a despertar noutros sentidos. Percebi que está tudo certo e que sou levado onde sou esperado. Não sou o mesmo Pedro, estou mais atento ao mundo e aos outros e isso torna-me mais rico. Sinto-me a deixar um legado e muito feliz.
Profissionalmente, que projeto gostaria de assumir no futuro?
Gostava de continuar a aprender em televisão. Gostava de continuar a desenvolver o meu papel em televisão, fosse como fosse. Gosto do contacto com as pessoas, de estar perto delas e tudo o que seja um formato ou um papel que proporcione isso será sempre bem recebido por mim. Acima de tudo, lugares que me permitam aprender e crescer.
Não troco a estabilidade da minha vida por dois ou três meses de brincadeira(...) Gosto de ver, de analisar concorrentes, mas não tenho interesse em estar fechado numa casa
E o facto de ser cada vez mais popular e acarinhado também pode ajudar…
Sim, mas isso só aconteceu porque alguém lá atrás, no 'BB 2020', apostou em mim e me tirou da minha zona de conforto. O programa deu-me uma montra ainda maior do que aquela que eu tinha e eu tenho de ser grato.
E no final, é como o Pedro costuma dizer: "O programa é só um programa"...
Sem dúvida. Há uns dias, no supermercado, um senhor parou-me e disse-me: 'O senhor não é aquele que diz mal dos concorrentes?'. Eu olhei e disse: 'Mal e bem'. O senhor começou a desenvolver um pensamento enquanto eu tinha os braços cheios de compras e no final rematou com esta brilhante frase: 'Mas ao menos você vai lá para ganhar o seu ordenado'.
As pessoas deviam relativizar. É só um reality show e a nós, enquanto público, só devia ter a função de nos entreter.
Mas este é, de facto, um programa que mexe muito com as pessoas…
Porque mexe com comportamentos humanos, porque nos revemos nos concorrentes... Acredito que as pessoas também se revejam dentro da casa.
E via-se a participar no programa como concorrente?
Não. Não tenho tempo. Tenho projetos com horário fixo e não troco a estabilidade da minha vida por dois ou três meses de brincadeira. Não posso trocar o certo pelo incerto. Valorizo muito quem tem essa coragem e esse interesse, e eu tenho zero interesse de ser concorrente. Gosto de ver, de analisar concorrentes, mas não tenho interesse em estar fechado numa casa.
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